PS quer mudar regras de trabalho em call centers

Os socialistas querem fazer um estudo para perceber as condições de trabalho de cerca de 80 mil pessoas. Esquerda de acordo em negociar uma solução.

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Adriano Miranda

O PS pede ao Governo que faça um estudo aprofundado sobre as condições de trabalho dos cerca de 80 mil trabalhadores de call centers. Os deputados concordam com PCP e BE que é necessária uma solução para evitar que se viva uma "nova escravatura em pleno século XXI", mas querem começar por "conhecer a realidade".

"Há a ideia que muitos destes trabalhadores são estudantes à procura de um rendimento extra, mas não é bem assim", diz ao PÚBLICO a deputada Wanda Guimarães, para quem é preciso conhecer o universo de trabalhadores, as condições tecnológicas e físicas em que trabalham, a tipologia de contrato que têm ou a evolução salarial. É isso que o PS propõe numa recomendação ao Governo, que será o mote para um debate de actualidade esta quinta-feira no Parlamento sobre as condições de trabalho nestes centros de atendimento telefónico.

Depois de conhecer os resultados do estudo, os socialistas vão apresentar uma solução legislativa e é por isso que defendem que os projectos do PCP e do BE sobre o mesmo assunto devem ser debatidos em conjunto na comissão especializada, para se encontrar uma medida conjunta. 

De acordo com os dados citados pelo PS, existem actualmente cerca de 81.600 trabalhadores em call centers, num sector que tem volume de negócios de mais de mil milhões de euros, mas os trabalhadores, diz Wanda Guimarães, "não têm um interlocutor" nem "negociação colectiva" de trabalho, pelo que se trata de um trabalho com poucas regras e muito específico.

"O trabalho em centros de contacto é caracterizado pela divisão e especialização das tarefas repetitivas. Estas características resultam num trabalho intenso, com elevadas exigências emocionais", lê-se no projecto de resolução do PS. Os socialistas lembram que é um trabalho com "riscos potenciais, tanto físicos (problemas respiratórios, auditivos e de visão) como psicológicos" e que "não podem, ser menosprezados". A deputada recorda que há centros com espaços de trabalho exíguos, com poucas pausas para alimentação e com ritmos de trabalho ditados pelos programas informáticos.

"Estamos em face de uma actividade profissional de grande exigência psíquica e emocional, o que pode conduzir a situações de baixas médicas prolongadas por esgotamentos, depressões e burnout" (síndrome de esgotamento profissional), lê-se no projecto. Esta não é, no entanto, uma realidade igual em todas as empresas, mas existem "alguns casos em que, em pleno século XXI, há uma violação dos direitos dos trabalhadores. É uma escravatura moderna", resume o texto.

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