Jussie Smollett, o actor de Empire que alegou ter sido atacado, entregou-se à polícia

No final de Janeiro, o actor disse ter sido atacado em Chicago por dois homens que o teriam espancado depois de lhe gritarem insultos racistas e homofóbicos. Esta quinta-feira de manhã, após ter sido acusado de mentir no relatório policial, entregou-se à polícia.

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Jussie Smollett faz de Jamal Lyon em Empire LUSA/CHICAGO POLICE DEPARTMENT / HANDOUT

Há três semanas, Jussie Smollett alegou ter sido vítima de um ataque racista e homofóbico na cidade de Chicago. Na madrugada de 28 para 29 de Janeiro, o actor de Empire, que é abertamente homossexual, teria sido abordado por dois homens. Depois de lhe gritarem insultos homofóbicos e racistas, os atacantes tê-lo-iam espancado e, numa alusão ao linchamento de homens negros na América no final do século XIX e início do século XX, ter-lhe-iam posto um nó de corda ao pescoço. Além disso, teriam também atirado lixívia para cima dele. A seguir, teriam fugido.

Mais tarde, novos detalhes foram sendo adicionados à história. Os agressores teriam gritado que aquele era "território MAGA", referindo-se ao lema de campanha de Donald Trump, "Make America great again". Muitas dúvidas sobre a veracidade das alegações foram surgindo ao longo das últimas semanas. A 13 de Fevereiro, dois irmãos nigerianos que tinham trabalhado como figurantes em Empire, Olabinjo e Abimbola Osundairo, foram presos como sendo os atacantes, mas vieram a ser libertados dois dias depois, tendo explicvado às autoridades, segundo a CNN, que o actor lhes teria pago para fingir o ataque. Esta quinta-feira, Smollett entregou-se à polícia e foi preso, após o gabinete do Procurador do Estado de Chicago o ter acusado de "conduta desordeira" por alegadamente ter preenchido um relatório policial com falsidades.

Antes de ter sido preso, os seus advogados negaram as alegações: "Como qualquer outro cidadão, o Sr. Smollett goza da presunção de inocência, em particular quando se trata de uma investigação como esta, em que houve informação, tanto verdadeira quanto falsa, a ser repetidamente divulgada. Dadas as circunstâncias, temos a intenção de conduzir uma investigação cuidada e montar uma defesa agressiva." 

Numa conferência de imprensa esta manhã, Eddie T. Johnson, o chefe da polícia de Chicago, disse que “desejava que as famílias [vítimas] de violência armada nesta cidade” (Chicago tem um elevado número de homicídios, muitos deles não resolvidos) gerassem tanta atenção quanto a que tem sido dada a este caso. Dirigiu-se ao público “não só como o superintendente do Departamento da Polícia de Chicago, mas como um homem negro que viveu a sua vida inteira na cidade de Chicago”. Johnson assegurou que conhece a “divisão racial” que lá existe e que Jussie Smollett “se aproveitou da dor e da ira do racismo para promover a sua carreira”.

“Por que é que alguém, especialmente um homem afro-americano, utilizaria o simbolismo de um nó de corda para fazer acusações falsas?”, perguntou. “Relatórios policiais falsos causam danos verdadeiros. Causam danos a cada vítima legítima, que precisa do apoio da polícia e dos investigadores, bem como aos cidadãos desta cidade", afirmou. 

Johnson resumiu assim as conclusões de uma investigação da polícia: “Primeiro, Smollett tentou chamar a atenção enviando a si próprio, para o estúdio, uma falsa  carta de ódio com linguagem racial e homofóbica. Quando isso não funcionou, Smollett pagou 3500 dólares [cerca de 3000 euros] para montar este ataque e arrastar a reputação de Chicago pela lama no processo”. Também alegou que Smollett estava insatisfeito com o que ganhava em Empire e “inventou uma história sobre ser atacado”.

A 20th Century Fox Television, o estúdio que produz Empire, a série em que Smollett faz de Jamal Lyon, enviou um comunicado à imprensa norte-americana dizendo que compreendia “a seriedade desta questão” e respeitava o processo legal. “Estamos a avaliar a situação e a considerar as nossas opções”, afirmaram. Ainda esta quarta-feira tinham reiterado que a personagem de Smollett não ia desaparecer da série.

No Twitter, Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos, pediu justificações a Smollett por ter insultado a campanha MAGA e “dezenas de milhões de pessoas” com os seus “comentários racistas e perigosos”.

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