Excedente externo mantém-se, mas diminuiu em 2018

O ano de 2018 foi, par a economia portuguesa, de novo excedente face ao exterior, o sétimo consecutivo. Mas o abrandamento da procura externa está a colocar esta série sob pressão.

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Rui Gaudencio

O saldo da economia portuguesa com exterior manteve-se, pelo sétimo ano consecutivo, em terreno positivo em 2018, mas o abrandamento da procura externa que se tem vindo a registar nos últimos meses está a colocar esta série positiva sob ameaça.

De acordo com os dados publicados esta quarta-feira pelo Banco de Portugal, o saldo da balança corrente e de capital (o indicador habitualmente utilizado para medir o saldo do país com o exterior) foi, em 2018, de 903 milhões de euros, um valor equivalente a cerca de 0,4% do PIB.

Um valor positivo neste indicador regista-se desde 2012, ano em que, devido a uma contracção muito acentuada do consumo e do investimento, se registou uma queda das importações. Em 2012, o saldo externo positivo foi de 0,2% do PIB. Desde esse momento, a combinação de um crescimento forte das exportações com uma relativa moderação da procura interna, tem permitido que Portugal, ao contrário do que tinha sido norma nas décadas anteriores, apresente excedentes face ao exterior. Depois de um máximo de 3,2% do PIB em 2013, os valores registados entre 2014 e 2017 ficaram situados sempre próximo dos 1,5% do PIB.

Em 2018, contudo, mostram os valores agora divulgados pelo Banco de Portugal, o excedente externo caiu para 0,4%. A principal razão para esta descida está na deterioração do saldo da balança de bens, que foi apenas parcialmente compensada por uma nova melhoria do saldo da balança de serviços, graças à manutenção de um desempenho positivo das exportações de turismo (embora mais moderadamente que em 2017)​.

O défice na balança de bens passou de 6,2% do PIB em 2017 para 7,3% em 2018, ao passo que o excedente da balança de serviços subiu de 8% em 2017 para 8,3% em 2018.

Outro contributo negativo para o saldo com o exterior em 2018 veio da balança de rendimentos primária, cujo défice subiu de 2,5% em 2017 para 2,8% em 2018, afectada pelo aumento dos rendimentos retirados do país por estrangeiros (seja através de lucros, seja através de juros).

As remessas de emigrantes, embora tenham mantido uma trajectória ascendente, não alteraram o peso no PIB do saldo entre entradas e saídas.

Esta aproximação a uma situação de equilíbrio no saldo com o exterior confirma o desafio que a economia portuguesa pode enfrentar este ano se se confirmar a tendência de abrandamento da economia europeia, onde estão situados os principais parceiros comerciais do país. Com a procura externa a contribuir menos para o crescimento, a manutenção de uma variação do PIB próxima de 2% apenas poderá ser possível com um contributo mais forte da procura interna, o que por sua vez irá colocar sob pressão o equilíbrio das contas externas do país que tem sido conseguido desde 2012.

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