Oliveira de Azeméis e Porto contarão com ligação ferroviária directa

O "Vouguinha", das linhas de comboio mais degradadas e lentas do país, beneficiará de uma modernização que envolve 1,7 quilómetros de ferrovia.

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Nelson Garrido

O interface ferroviário de 1,7 quilómetros que em 2023 unirá as linhas do Vouga e Norte para ligar Oliveira de Azeméis ao Porto "como numa viagem directa de metro", já está em projecto, revelou esta terça-feira a Câmara de Espinho.

"Independentemente dos 75 milhões de euros previstos no Plano Nacional de Investimentos [PNI] 2030, que prevê toda a modernização da Linha Ferroviária do Vouga até 2025, já se está a avançar com a conexão entre a linha do Vouga e a do Norte, que implica um interface desde o Monte de Paramos até ao actual apeadeiro de Silvalde", disse à Lusa o presidente da Câmara de Espinho, Joaquim Pinto Moreira.

Na prática, isso significa redesenhar o último troço da Linha do Vouga para que essa deixe de terminar na cidade de Espinho e passe a circular através do Monte de Paramos, unindo-se à Linha do Norte em Silvalde.

O desvio, financiado pela Infra-estruturas de Portugal, envolve 1,7 quilómetros de ferrovia a construir de raiz e permitirá que a Linha do Vouga venha a funcionar "como o metro sul da Área Metropolitana do Porto", afirmou o autarca.

Na maioria das vezes, os passageiros oriundos de Oliveira de Azeméis, São João da Madeira ou Santa Maria da Feira terão que fazer o transbordo em Silvalde para aceder às ligações suburbanas dirigidas ao Norte ou a Aveiro, mas "algumas vezes ao dia haverá comboios directos de Azeméis até ao Porto, sem necessidade de se mudar de carruagem", numa frequência que, em definitivo, "caberá à gestão operacional da CP (Comboios de Portugal)".

Para assegurar essa eficiência, o primeiro passo é então a criação do interface entre a zona do castro de Ovil, em Paramos, e o apeadeiro junto ao campo de golfe, em Silvalde, o que implicará a aquisição de vários terrenos para instalação de carris em 1,7 quilómetros de nova ferrovia.

Segundo Pinto Moreira, o projecto para esse interface - cuja criação tem um custo estimado de 5,5 milhões de euros - já está previsto no Plano Director Municipal de 2016 "e tem financiamento assegurado pela Infra-estruturas de Portugal, pelo que não está dependente do PNI" e dos trabalhos de modernização previstos para os restantes cerca de 40 quilómetros de linha entre Paramos e Oliveira de Azeméis.

Enquanto decorre a negociação dos terrenos, já se equacionam dois cenários para Silvalde: dotar a estação de apenas uma linha férrea para as carruagens vindas do Vouga, o que reduzirá custos, mas dificulta a agilização de material circulante, ou deixar-lhe duas linhas reservadas para os comboios vindos do interior, o que permitirá ter sempre uma carruagem estacionada, para circular no sentido inverso ao da que prosseguir caminho até ao Porto.

As hipóteses foram analisadas por Pedro Mêda, do Instituto da Construção da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, que salienta que, num caso ou no outro, as obras para construção do troço de 1,7 quilómetros entre Paramos e Silvalde, com o respectivo interface, não irão perturbar o normal funcionamento da Linha do Vouga nem afectar a do Norte.

Prevendo que os trabalhos possam arrancar no final de 2020, Pinto Moreira defende que essa empreitada "será a fase zero de toda a requalificação da restante Linha do Vouga e o início de uma transformação que vai revolucionar o acesso ao Porto por parte de uma comunidade que, entre Espinho e Oliveira de Azeméis, ronda as 300.000 pessoas".

O autarca realçou que a obra é "absolutamente essencial para o desenvolvimento do Entre Douro e Vouga, dada a forte vocação empresarial da região e todo o potencial turístico que um comboio rápido aí irá maximizar".

Referindo que "todos os estudos de procura que existem demonstram que os transportes públicos para o Porto pecam claramente por escassos e pouco compensadores", Pinto Moreira acredita que, uma vez integrada no sistema de bilhética Andante, a renovada ferrovia irá "revolucionar toda a mobilidade da região" a partir de 2023 - data limite para conclusão da obra sem perda dos fundos do Norte 2020.

"Concluído o interface, corrigido o traçado da Linha do Vouga e implementada a bitola ibérica em todo o percurso, chegar de Oliveira de Azeméis ao Porto passará a ser muito mais rápido e barato, além de mais cómodo e muito mais ecológico", garantiu Pinto Moreira.