Quando as europeias foram um "trinta e um" para o PS
As últimas europeias foram politicamente mortais para o então líder do PS, António José Seguro. Assis era o "número um" da lista.
Esta foi a percentagem maldita que o Partido Socialista, então chefiado por António José Seguro, atingiu nas eleições de 25 de Maio de 2014: 31,4% Maldita porque, traduzindo uma vitória eleitoral – o PSD/CDS de Passos e Portas ficaram com 27,7% - tudo acabou num verdadeiro “trinta e um” para o chefe do partido que, meses depois, seria afastado do cargo de secretário-geral. A fraca percentagem das europeias foi a justificação de que António Costa precisava para desafiar o líder.
Seguro ainda parecia um ganhador quando subiu ao palco para fazer o formatado discurso da “inequívoca vitória” e o anúncio do começo de “um novo ciclo político em Portugal”. Talvez ainda não tivesse a certeza absoluta de que o PS estava a viver efectivamente o fim de ciclo político e a abrir um outro, que levaria à sua irremediável saída. Cinco anos depois, chega agora a exclusão da lista – mas não da actividade política, como fica claro no texto aqui do lado - daquele que era o "número um" da lista dessas eleições para o Parlamento Europeu, Francisco Assis, antigo líder parlamentar do PS.
Na noite eleitoral de 25 de Maio de 2014, Costa estava na SIC, a participar no programa Quadratura do Círculo e a comentar os resultados eleitorais. Numa alusão a uma famosa frase de António Guterres sobre os resultados do PS em 1991, quando o secretário-geral era Jorge Sampaio e Cavaco repetiu a maioria absoluta (“Estou em estado de choque”, declarou Guterres, para depois desafiar a liderança de Sampaio), o moderador Carlos Andrade perguntou a Costa se também estava em “estado de choque”. Costa invocou a sua “costela indiana” para afirmar que tinha “nervos de aço”. E foi com nervos de aço que conduziu o processo que levou Seguro à derrota interna, como tinha sido com nervos de aço que avisara, ainda antes do dia do "trinta e um", que não bastaria ao PS “ganhar por poucochinho”. Na SIC, na noite eleitoral, diria que, daí em diante, “o PS não podia enfiar a cabeça na areia”. Três dias depois, anuncia a disponibilidade para ser secretário-geral do partido.
Costa esperou a sua hora com nervos de aço, de facto. Antes, perante a pressão de alguns sectores do PS para desafiar Seguro em 2013, antes das autárquicas, recuou, numa histórica e acesa reunião da comissão política. Depois, Seguro e Costa fariam um pacto de não agressão – um texto assinado em Coimbra – mas a pacificação entre os dois inimigos íntimos só duraria enquanto Seguro tivesse força. Naquela noite, Seguro perdeu-a.
Estatutariamente, António José Seguro não era obrigado a convocar um congresso, mas politicamente seria insustentável – havia de facto uma onda a favor de António Costa. Para não convocar imediatamente eleições directas, Seguro inventou o mecanismo das eleições primárias, que arrastou o processo da disputa interna de Maio ao fim de Setembro e, ao abrir o universo eleitoral aos simpatizantes, terá beneficiado Costa que ganhou com quase 68% dos votos.
Francisco Assis, que tinha sido o adversário de Seguro em 2011 – com o apoio de António Costa –, ficou ao lado do secretário-geral de cuja lista do "trinta e um" tinha sido o primeiro candidato. Depois de Seguro desaparecer do radar político, Assis – que se tornaria o principal crítico da "geringonça" dentro do PS - foi apontado como hipótese para desafiar Costa num Congresso. Mas isso nunca aconteceu.