Sem aulas ou recolha de lixo e com consultas adiadas – é esta a expectativa dos sindicatos

Educação, Saúde, Justiça, autarquias, Finanças, Segurança Social, conservatórias e bombeiros. A greve que aí vem mexe com vários sectores.

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Escolas com portões encerrados é um cenário que pode repetir-se já a partir desta quinta-feira Ricardo Lopes

Sindicatos dizem estar a contar com uma das maiores adesões de sempre à greve contra o congelamento de salários na administração pública. Escolas fechadas, consultas por realizar, cirurgias ou exames adiados, lixo por recolher. É este o cenário que pode esperar na próxima sexta-feira, dia da paralisação convocada por vários sindicatos afectos às duas centrais sindicais. Esta quinta-feira, as perturbações já podem começar a fazer-se sentir, uma vez que a Federação Sindical da Administração Pública (Fesap) e a Federação Nacional da Educação (FNE), afectas à UGT, também entregaram um pré-aviso de greve para este dia, com o objectivo de permitir a participação numa concentração de dirigentes, delegados e activistas sindicais marcada para as 14h30, junto ao Ministério das Finanças.

Educação: de nariz na porta

Não havendo surpresas, o sector da Educação deve ser, como de costume, um dos mais afectados pela paralisação convocada, primeiro, pela Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública (afecta à CGTP), e, posteriormente, pela Fesap e pela FNE. “Estamos a contar com uma das maiores adesões de sempre, pelas indicações que já temos hoje”, disse esta quarta-feira ao PÚBLICO a coordenadora da Frente Comum, Ana Avoila. No caso das escolas, todo o sector é afectado – professores e pessoal não docente –, o que aumenta a probabilidade de os alunos encontrarem as portas dos estabelecimentos de ensino encerradas, na próxima sexta-feira. Ana Avoila admite que este, tal como “os outros serviços directamente relacionados com o público ou com utentes”, seja um dos sectores em que a greve se fará sentir “com mais impacto”. João Dias da Silva, dirigente da FNE, também não tem dúvidas de que o impacto da greve nas escolas vai ser elevado. “Temos uma grande expectativa em relação ao que têm sido os sinais dos trabalhadores. Vamos certamente ter muitas escolas encerradas, porque o descontentamento é enorme”, disse.

Na última greve nacional da administração pública, a 26 de Outubro, os sindicatos sustentaram que a adesão na Educação andara entre os 80% e os 90%.

Saúde: consulta só mais tarde

Se o sector da Saúde já tem enfrentado muitas dificuldades por causa da longa greve dos enfermeiros, tudo deverá piorar nesta sexta-feira. É que a esses profissionais junta-se agora o pessoal administrativo, os técnicos de diagnóstico e também os médicos. A Federação Nacional dos Médicos, por exemplo, já declarou o apoio à paralisação de sexta-feira, mesmo não pertencendo a nenhuma das duas centrais sindicais, e o Sindicato Independente dos Médicos, embora não emitindo pré-aviso de greve, diz que se solidariza com a paragem marcada para estes dias 14 e 15.

Na prática, isto significa que pode encontrar o centro de saúde encerrado, ou de portas abertas, mas com consultas ou tratamentos adiados. Nos hospitais também existe a probabilidade de diferentes valências serem afectadas: consultas adiadas, exames que não se realizam, cirurgias que já não se fazem. “De certeza que vamos ter serviços na Saúde que vão fechar”, diz José Abraão, da Fesap, que espera uma adesão geral à paralisação superior à última greve nacional da administração pública. “Vamos ter certamente dificuldades na Saúde, como noutras áreas, e creio mesmo que a adesão vai ser superior [à de 26 de Outubro de 2018], porque na greve anterior ainda havia expectativas em relação a aumentos salariais. Estamos a falar de cerca de 640 mil pessoas que não têm aumentos salariais desde 2009”, afirma.

Justiça, autarquias e outros: o lixo à porta

Na paralisação de 26 de Outubro, se os sindicatos disseram que a adesão na Saúde e na Educação atingiu os 80% ou 90%, em muitas autarquias e tribunais o valor chegou ao pleno: 100%. Desta vez, a expectativa não é menor. Carlos Almeida, do Sindicato dos Oficiais de Justiça, diz que “nos tribunais acontecerá seguramente a mesma situação de encerramento” que noutros serviços da administração pública. Aliás, a indicação que tem é a de que a preparação para essa possibilidade já está em curso há alguns dias. “Desde o início da semana que os próprios magistrados têm vindo a desconvocar diligências para quinta e sexta-feira”, disse ao PÚBLICO.

Ana Avoila, da Frente Comum, avisa que a paralisação não termina por aqui. A recolha do lixo, a cargo das autarquias, é outra actividade que poderá ser muito afectada, tal como os outros serviços da administração pública: “Finanças, conservatórias, Segurança Social. Todos estes serviços directamente ligados ao público acabam por ter mais impacto”, disse. José Abraão, da Fesap, recorda que os bombeiros também estão abrangidos por esta greve. “Vai ser uma grande greve nacional”, diz o dirigente sindical. Ana Avoila sintetiza as razões para mais um dia em que se espera ter o país a meio gás: “Há dez anos que não temos aumento de salários. Está a acabar a legislatura e é inadmissível que, com uma maioria parlamentar que lhe permite fazer alguma coisa, o Governo não o faça. Há uma unidade muito grande em todos os sindicatos e teremos muitos serviços que vão parar completamente.”

Transportes públicos: um dia sem sobressaltos

Ao nível dos transportes públicos estes deverão ser dias sem perturbações, já que não foram abrangidos pelos pré-avisos de greve. No caso da CP, esta entidade pública empresarial afirma que não se espera impacto nos seus serviços, tal como foi referido também pelo Metro do Porto, STCP, Carris e Transtejo/Soflusa. Conforme afirmou esta última empresa, os trabalhadores da Transtejo e da Soflusa “não estão cobertos por pré-avisos dos sindicatos da função pública nem da administração local”.

No que respeita à Carris, por exemplo, fonte oficial clarifica que as greves em questão abrangem os trabalhadores com contrato de trabalho em funções públicas na administração pública central e local, “matéria diferente da aplicável” à empresa lisboeta, que se rege “pelo contrato individual de trabalho, no âmbito dos instrumentos de contratação colectiva próprios da Carris. “Os trabalhadores da Carris têm regime próprio e específico, no quadro do sector empresarial local”, acrescenta.

Fonte oficial do Metro do Porto recorda também que os trabalhadores afectos à operação e manutenção do sistema não são funcionários públicos, e a STCP sublinha que as greves da função pública não abrangem esta empresa. Com Luís Villalobos

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