Videoclipe
Melquiades: aquela cor de banda quando foge
Esta galeria é uma parceria com o portal Videoclipe.pt, sendo a seleção e os textos dos responsáveis do projeto.
A crónica de Hilário Amorim: Videoclipe, o herói improvável
Dois dos vídeos adicionados esta semana na plataforma VIDEOCLIPE.PT (ambos, curiosamente, sem creditar as autorias) são de tipo performativo. Termo usado para referenciar aqueles vídeos em que predomina a atuação/performance musical, seja só a tocar os instrumentos ou só a cantar, ou as duas coisas ao mesmo tempo. No dos The Lazy Faithful, a performance da banda no cimo de uma penha serrana é filmada por um drone, dando uma perspetiva ampla da zona e até de uma eventual queda. Mas se o tema Warnings Signs dá razão à opção, a lógica da Internet não. Ou a banda cai ou a banda sobe. Ou invente-se outra coisa qualquer. Inventividade sim, banalidade não. É este o lema de campanha para obtenção da partilha, e essa é a melhor contribuição do espetador para poder eleger um vídeo à hipotética viralidade.
Já em Freakavoid! dos lisboetas Melquiades, que hoje aqui destacamos, a banda é raptada, amarrada, cozinhada, alterada, truncada, enfim, mal tratada por uns “Dexter” de fancaria, e tudo isto enquanto — horrores dos horrores — jorra muita tinta! É certo que a banda faz do seu rock instrumental um vortex de experimentação rítmica e sonora. No passevite entra progressivo, psicadélico, jazz-rock, post-rock e sai um puré divertido de grooves exóticos e com variações rápidas, como se pode ouvir no EP Oyster Eggs. A lembrar os Memória de Peixe ou um Bruno Pernadas mais rock. Ou seja, estava mesmo a pedir uma mixórdia de cores e salpicos que lhe desse aquela coloração de banda a fugir do convencional. Uma viagem surreal com partida na noite fria dos vídeos chapa cinco, ou talvez uma abdução aos vídeos performativos banais. No fundo, para quem pretende criar neste género artístico do audiovisual tem aqui um bom exemplo para os conselhos que aqui damos regularmente: mais do que a iluminação, a direção de arte ou a pós-produção, é quando vemos uma banda a fugir da vulgar performance que o videoclipe ganha verdadeira cor.
Texto escrito segundo o novo Acordo Ortográfico, a pedido do autor.