REN não vê “nenhuma vantagem" em voltar a ter Estado como accionista

O modelo existente “é bom” e “a empresa está bem assim”, afirmou hoje o presidente da REN, Rodrigo Costa. “O Estado tem controlo total daquilo que fazemos, quer a priori quer a posteriori”, acrescentou.

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Rodrigo Costa nesta terça-feira na comissão parlamentar de inquérito ao pagamento de rendas excessivas aos produtores de electricidade LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

O presidente executivo e “chairman” da REN, Rodrigo Costa, afirmou hoje no parlamento que não vê nenhuma vantagem de o Estado voltar a ser accionista da empresa, realçando que "há controlo total" do que a gestora das redes faz.

“Quando comecei a trabalhar na REN, há quatro anos, [...] julgava que se calhar fazia sentido o Estado ter presença na base accionista da empresa, mas à medida que fui conhecendo percebi que é uma empresa muto especial, cujo trabalho é acompanhado muito de perto pelo Estado. [Hoje] não vejo nenhuma vantagem que o Estado voltasse a ser accionista”, afirmou Rodrigo Costa, quando questionado sobre a alegada intenção do Governo de ter uma participação na empresa.

Em audição na comissão parlamentar de inquérito ao pagamento de rendas excessivas aos produtores de electricidade, face à insistência da deputada do PSD Fátima Ramos, o presidente da REN afirmou que o modelo existente “é bom” e que “a empresa está bem assim”, recusando comentar os objectivos dessa eventual operação.

“Se nem o Governo está disponível para confirmar se quer ou não quer entrar no capital da REN, não tenho nenhuma observação a fazer sobre os alegados objectivos”, declarou.

Ainda assim, Rodrigo Costa realçou que, além do contrato de concessão com o Estado, a REN é supervisionada pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), tem a Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG) com "um papel importante na definição dos caminhos" e ainda a Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

Sobre a eventual entrada do Estado no capital da REN, Rodrigo Costa vincou que apenas sabe o que leu nos jornais, que caracterizou como "rumores", e considerou ser “um tema recorrente”: “Estou há quatro anos na REN e nesse tempo várias vezes ouvi discussões sobre essa matéria”.

Em 2012, o Estado português vendeu os 40% que detinha na REN aos chineses da State Grid (25%) e à petrolífera Oman Oil (15%).

Rodrigo Costa chegou à liderança da REN - Redes Energéticas Nacionais em Fevereiro de 2015, vindo da Unicre - Instituição Financeira de Crédito, onde tinha acumulado as funções de “chairman” e de presidente executivo durante quase um ano (de Março de 2014 a Fevereiro de 2015). Antes disso, o gestor foi durante seis anos presidente executivo da Zon.

Na empresa gestora da rede eléctrica e de gás natural, Rodrigo Costa substituiu Rui Vilar.

João Conceição é um "excepcional técnico"

O presidente executivo da REN defendeu ainda que o administrador João Conceição "é um excepcional técnico", com "um percurso que não é nada diferente ao de muitas pessoas que trabalham neste país na área da energia".

Em audição na comissão parlamentar de inquérito ao pagamento de rendas aos produtores de electricidade, questionado pelo deputado do PS Hugo Costa sobre o administrador da REN que foi consultor do ex-ministro da Economia Manuel Pinho, Rodrigo Costa disse que "é um excepcional técnico, começando pelo fim, é responsável por tudo que é operações e regulação".

"Está connosco há nove anos. (...) Tem uma grande dedicação ao seu trabalho e tem um percurso que não é nada de diferente de muitas pessoas que trabalham neste país na área da energia em cargos importantes", considerou.

João Faria Conceição, um dos arguidos no âmbito de um processo que investiga corrupção e participação económica em negócio no caso que investiga o processo legislativo relativo à introdução dos CMEC (custos para a manutenção do equilíbrio contratual), prestou consultoria em questões de política energética ao então ministro da Economia, Manuel Pinho, entre Abril de 2007 e Maio de 2009, altura em que passou a ser administrador na REN - Redes Energéticas Nacionais.

"Começou na área financeira, depois esteve na BCG [The Boston Consulting Group] como consultor, foi contratado para fazer um trabalho via BCG em que de facto assessorou o Ministério da Economia e veio a ser convidado por um accionista nosso - que hoje já não é - para ir trabalhar para a REN, para a comissão executiva que na altura tinha sete ou oito pessoas", resumiu.

Rodrigo Costa realçou que João Conceição "é muito respeitado no sector", que conhece "profundamente".

Em Setembro, em audição na comissão parlamentar de inquérito às rendas da energia, confrontado com a existência de um triângulo pelo deputado do PCP António Filipe, o administrador da REN João Conceição considerou que "em relação a projectos de empresas com um tamanho como a EDP e a REN, num país com o tamanho de Portugal, é improvável qualquer prestador de serviços (consultor, advogado) que tenha trabalho no sector da electricidade não tenha trabalhado com uma das duas empresas".

"Apenas posso responder por mim e, no que me diz respeito, a melhor prova é que estou na REN há nove anos, fui escolhido em quatro assembleias gerais electivas, o que é um reconhecimento da minha valia profissional. O que lhe posso responder é que o trabalho de uma consultora - julgo que posso extrapolar para auditoras, escritórios de advogados e outros prestadores de serviços - para exercer é preciso ter ética profissional", declarou então.