Pelo menos 30 minutos? “Temos de aumentar o tempo médio das consultas”

Ordem dos Médicos quer que utentes passem mais tempo com clínicos. Administradores hospitalares concordam, associação de médicos de família também.

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PAULO PIMENTA

A proposta da Ordem dos Médicos para definir os tempos mínimos para as consultas das diferentes especialidades é vista com agrado não só pelos clínicos como também pelos administradores hospitalares.

“É uma proposta muito positiva”, observa ao PÚBLICO o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares, Alexandre Lourenço, para quem o aumento da duração de algumas consultas não implicará, na maioria dos casos, a contratação de mais médicos. A Ordem quer que as primeiras consultas feitas pelos médicos de família tenham uma duração-padrão entre 30 e 45 minutos, por exemplo – e que na oncologia subam até aos 60 minutos, se se tratar também da primeira vez. Tanto no sector público como no privado. 

“Trata-se de tempos-padrão”, valores meramente indicativos, podendo as consultas durar menos, sublinha Alexandre Lourenço. Seja como for, a medida contribuiu para aumentar a transparência, elogia: os utentes ficam a saber com aquilo que podem contar. Melhor ficará também a qualidade da prestação dos serviços de saúde e a utilização dos recursos.

Seja como for, avisa, esta “é uma questão eminentemente de regulação profissional”, e cada médico “terá a liberdade” de agendar os pacientes conforme ache melhor. Tal como o bastonário dos médicos, também o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares critica as unidades de saúde onde é marcado mais de um doente para a mesma hora.

Mais tempo, mais médicos

“Temos de aumentar o tempo médio das consultas, sem dúvida”, reage, por seu turno, o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, Rui Nogueira, explicando que hoje em dia o tempo médio das consultas ronda apenas os 15 minutos, que se revela “manifestamente insuficiente”.

“Já propusemos ao Ministério da Saúde a redução do número de utentes por médico”, recorda o clínico. Esta associação pretende que cada médico tenha entre 850 e 1750 utentes, dependendo de critérios que devem incluir as condições sociodemográficas do local onde exerce. A pobreza e o isolamento devem estar entre os factores a levar em linha de conta.

“Hoje, em média, cada médico tem quase 1800 doentes, e há quem tenha dois mil. Não é admissível”, refere Rui Nogueira, que fala numa janela de oportunidade, ao nível da formação de novos médicos, que irá permitir repor nos próximos cinco anos os dois mil médicos que se encontram à beira da aposentação.

Menos agradado se mostra este dirigente com o facto de o Governo apenas ter prevista a abertura de 20 novas unidades de saúde em 2019, quando “são necessárias 200”. Lisboa, Setúbal e Santarém são os locais mais carenciados.

Por enquanto, o Ministério da Saúde ainda não se pronunciou sobre a proposta da Ordem dos Médicos. Já o Movimento de Utentes da Saúde diz que esta é uma velha reivindicação sua, mas que implica acabar com o subfinanciamento crónico do Serviço Nacional de Saúde, uma vez que obriga a mais contratações. 

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