Irão comemora 40 anos de Revolução Islâmica "para desilusão da América"

Poucos esperavam que o regime que substituíu o do Xá e afrontou directamente os Estados Unidos durasse tanto. Mas, apesar dos problemas, centenas de milhares de pessoas foram para as ruas comemorar.

Iranianos comemoram 40 anos da Revolução Islâmica
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Comemorações em Teerão Reuters/TASNIM
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Hassan Rohani apontou o dedo aos EUA, culpando as sanções pelas dificuldades da economia ABEDIN TAHERKENAREH/EPA
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Estudantes iranianas desfilam na Praça Azadi, em Teerão ABEDIN TAHERKENAREH/EPA
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Membros dos Guardas da Revolução iranianos ABEDIN TAHERKENAREH/EPA

Centenas de milhares de iranianos assinalaram esta segunda-feira em Teerão o aniversário da revolução islâmica. “A revolução chegou ao seu 40º aniversário, para grande desilusão da América”, dizia uma das faixas nas comemorações organizadas pela República Islâmica, que incluíram marchas militares de mulheres com véu, num mar de bandeiras do Irão.

“Poucos no Ocidente esperariam que a Revolução Islâmica chegasse aos 40 anos”, comentou Trita Parsi, autor do livro Losing an Enemy (sobre o acordo da Administração Obama para o nuclear iraniano). “Muitos no Irão tinham esperança que nunca durasse tanto.” Mas durou e mantém-se, “embora continue a enfrentar desafios crescentes”.

Se, como diz Parsi, o maior sucesso da teocracia é a sua própria manutenção, o país tem aumentado a sua influência militar na região: não só através do apoio ao movimento xiita libanês Hezbollah, mas também com o envolvimento na Síria e apoio aos rebeldes no Iémen.

Mas tem sido a situação interna, com aumento dos preços, insuficiência ocasional de alimentos, e inflação, que levaram a protestos. Num deles, houve slogans contra as intervenções estrangeiras: “Não por Gaza, não pelo Líbano, só dou a minha vida pelo Irão”.

A teocracia tem culpado o exterior pela sua situação económica – os EUA, que se retiraram do acordo sobre o nuclear, levando ao regresso de sanções – mas também tem falado contra a corrupção, que em altura de dificuldades, tem sido alvo do  descontentamento popular.

Nas comemorações de 11 de Fevereiro, ao lado dos habituais cartazes com palavras de ordem tradicionais neste dia (“morte à América”, “morte a Israel”), havia também mensagens contra a corrupção.

O Presidente Hassan Rohani falou na praça Azadi (“liberdade”), e garantiu que as sanções dos EUA não vão quebrar a República Islâmica. “Não vamos deixar a América sair vitoriosa”, declarou. “O povo iraniano tem, e terá, algumas dificuldades económicas”, admitiu. “Mas vamos ultrapassá-las ajudando-nos mutuamente.”

Um comandante dos Guardas da Revolução, a poderosa força de elite (e também detentora de um império económico, pois explora fábricas e domina sectores essenciais como as telecomunicações), desafiou os EUA que querem que a influência do Irão na região diminua. “Não nos podem pedir para sair da região. Eles é que têm de sair da região”; disse o número dois dos Guardas da Revolução, Hossein Salami.

O Presidente Rohani também terá dito que as capacidades militares do Irão serão aumentadas – com investimento num programa de mísseis balísticos (que goza de um enorme apoio popular).

Repressão, então e hoje

O Irão assinala a revolução a 11 de Fevereiro de 1979, data em que o exército iraniano se declarou neutro, retirando o apoio ao primeiro-ministro nomeado pelo xá Reza Pahlavi, que tinha saído do país duas semanas antes. Assim caiu o regime apoiado pelos Estados Unidos e subiu ao poder o ayatollah Khomeini, acabado de regressar do exílio.

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Manifestação de apoiantes do "ayatollah" Khomeini, durante a revolução de 1979 REUTERS/ARQUIVO

Arshin Adib-Moghaddam, professor na SOAS (School of Oriental Studies) de Londres sublinhou à Euronews a importância dos protestos na queda do xá. O ayatollah Khomeini “tornou-se o ponto de fixação das massas”, sublinhou. “Foi o resultado do desejo das pessoas de mudança total e não a sua incubadora”, sublinhou. Isto apesar de o carisma de Khomeini ter contribuído para o seu papel galvanizador.

Em paralelo com as enormes manifestações do dia 11 em Teerão, iranianos exilados reflectiam sobre o início da revolução. “Na nossa família, como muitas outras no Irão na altura, estavam divididas em dois campos, uma maioria contra o xá e uma minoria contra a revolução”, contava no site da emissora Deutsche Welle Jamshid Barzegar, que tinha então sete anos.

O ambiente de discussão política dos primeiros tempos acabou abruptamente, lembra. “Fomos levados da escola para podermos ver os ‘inimigos da revolução’ ser enforcados”, diz o responsável pela versão farsi da emissora alemã. “A questão de que em que lado se estava deixou de se pôr.”

A repressão tornou-se o meio com o qual o regime se cimentou e lidou com todas as ameaças à sua hegemonia, até à “revolução verde” de 2009 e até aos protestos do ano passado.

Mas mesmo que o regime sobreviva, e se fortaleça na arena internacional, a esperança dos iranianos comuns parece estar a diminuir. A fuga de cérebros é talvez sinal isso: segundo o diário francês Le Monde, 125 mil jovens licenciados saem todos os anos do país.

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