Alentejo vai ter 3000 trabalhadores na construção da linha Évora – Elvas
Primeiro-ministro assina hoje no Redondo a adjudicação dos primeiros 20 quilómetros da “maior obra ferroviária dos últimos 100 anos”
São só 20,5 quilómetros, mas é o início da construção da famosa linha Évora – Elvas que vai completar o corredor Sines – Badajoz, um eixo essencial para o transporte ferroviário de mercadorias entre Portugal e Espanha. Trata-se do troço Évora Norte – Freixo, cuja cerimónia de adjudicação da empreitada de construção – no valor de 46,6 milhões de euros – é presidida esta segunda-feira de manhã, no Redondo, pelo primeiro-ministro, António Costa.
Este troço vai ser construído por um consórcio formado pela Comsa, Fergrupo e Constructora San José. Segue-se, antes de Abril, a adjudicação do segundo troço, numa extensão de 30 quilómetros, entre Freixo e Alandroal, cujo concurso público foi ganho pela Mota-Engil. Antes de Maio, será assinada a empreitada da secção Alandroal – Elvas, com também cerca de 30 quilómetros, para a qual se posicionaram os espanhóis da Sacyr.
Em falta ficará um pequeno troço entre Évora e Évora Norte, que se tem atrasado devido à contestação da população e da autarquia eborense, que discordam do traçado próximo de núcleos residenciais.
O Governo tem anunciado a linha Évora – Elvas como a maior obra ferroviária dos últimos 100 anos. Em rigor, nos anos imediatamente anteriores ao Euro 2004 foi muito maior o montante de investimento na ferrovia para a modernização das linhas. Mas, considerando a construção de linha nova, esta é claramente a maior extensão de via férrea que será acrescentada ao mapa ferroviário nos últimos 100 anos.
Embora construída em via única, a nova linha será assente numa plataforma de via dupla, o que permitirá no futuro proceder à sua duplicação se tal se tornar necessário. O investimento global está estimado em 476 milhões de euros e quando os três troços estiverem em construção estima-se que haverá 3000 trabalhadores empregues directamente nas obras. Com o emprego indirecto, a maior obra ferroviária prometida por este Governo vai ter um impacto significativo na economia do Alentejo.
Obra só para 2021
O Plano de Investimentos Ferrovia 2020, apresentado em 2016, previa que a construção desta linha férrea tivesse começado em inícios de 2018 por forma a ser inaugurada em finais de 2019. O atraso deverá ditar que a empreitada só se concretize no início de 2021.
Mas estes reveses não impedem o primeiro-ministro e o ministro Pedro Marques de facturarem desde já duas apresentações públicas do projecto. A primeira foi em Janeiro do ano passado, quando António Costa se encontrou em Elvas com o seu homólogo espanhol Mariano Rajoy para assinalar o lançamento do concurso público destes mesmos 20,5 quilómetros de nova linha que serão adjudicados esta segunda-feira.
O segundo acto de autopromoção governamental é esta segunda-feira, e os discursos deverão repetir a importância desta linha para completar o corredor Sines – Badajoz, que vai encurtar em cerca de 200 quilómetros a ligação ferroviária entre aquele porto e a cidade fronteiriça. Actualmente este percurso é feito pelo Entroncamento e Abrantes até à fronteira do Caia.
O projecto vai permitir um aumento da capacidade diária na saída de Sines dos actuais 36 comboios de 400 metros de comprimento para 51 comboios diários de 750 metros, o que corresponde a um acréscimo de capacidade de duas vezes e meia a actual.
A linha não terá estações de passageiros entre Elvas e Évora, mas está prevista a construção de uma estação para mercadorias sensivelmente a meio do percurso para captar carga da região, eventualmente ligada à exportação de mármores.
Quanto aos passageiros, nada impede que, a qualquer momento, se decida construir cais de embarque em determinado ponto, mas o traçado da linha passa longe das aglomerações urbanas.
O Ferrovia 2020 está com uma taxa de execução dos investimentos inferior a 9%, mas o Governo diz que, contando os projectos que estão em fase de concurso, esse valor atinge os 40%, esperando este ano adjudicar centenas de milhões de euros de empreitadas em todo o país.
Com Pedro Marques de saída (deverá ser o cabeça-de-lista do PS às eleições europeias), depois de se notabilizar pelas acções de autopromoção que faziam crer que o plano ferroviário ia de vento em pompa, será a vez de Pedro Nuno Santos, que, como o PÚBLICO avançou, deverá assumir o Ministério do Planeamento e das Infra-estruturas, o substituir nas futuras adjudicações. No entanto, em ano de eleições parece ser agora a vez de António Costa tomar a dianteira e capitalizar o lançamento das obras ferroviárias.