Genesis tem 12 anos e quer que o Papa seja vegan durante 40 dias
Com a ajuda da fundação Million Dollar Vegan, o objectivo é doar um milhão de dólares para solidariedade e promover o estilo vegan, alertando para os problemas ambientais da pecuária.
A norte-americana Genesis Butler tem 12 anos e escreveu uma carta ao papa Francisco a pedir-lhe que siga uma dieta vegan durante a Quaresma, entre 6 de Março e 18 de Abril. Em troca, será doado um milhão de dólares (cerca de 875 mil euros) a uma instituição de solidariedade social, à escolha de Francisco. O desafio foi tornado público na sexta-feira, e não se sabe ainda a resposta do Papa.
Genesis é vegetariana desde os quatro anos de idade, quando se apercebeu que os nuggets de que tanto gostava eram feitos a partir de galinhas; aos seis anos decidiu tornar-se vegan. Desde então, começou a dar palestras (a mais famosa no TEDx), relatando e incentivando o seu novo estilo de vida sem usar produtos de origem animal.
Ao PÚBLICO Genesis Butler diz que o seu objectivo com a carta “é alcançar o maior número de pessoas” para os encorajar a tornarem-se vegan, nem que seja só de forma experimental, durante os 40 dias da Quaresma. A adolescente acredita que o Papa aceitará o desafio, até porque “ele apregoa a compaixão e tem escrito sobre os problemas das alterações climáticas”. Em 2015, o papa Francisco escreveu uma encíclica inteiramente dedicada à protecção do planeta, abordando temas como o clima, a biodiversidade, a poluição do ar, a energia, ou os resíduos e assumindo o lado dos cientistas na questão das alterações climáticas.
“O Papa tem o poder de influenciar as pessoas em todo o mundo com a sua decisão, e eu acredito que fará a coisa certa”, acredita Genesis. Di-lo em entrevista por email ao PÚBLICO, depois de um dia de escola. A adolescente diz que a maior parte da sua família é católica.
Esta ideia de convidar líderes mundiais a troco de um milhão de dólares para caridade surge com a campanha sem fins lucrativos Million Dollar Vegan, lançada oficialmente esta quarta-feira por Matthew Glover e Jane Land, os dois fundadores da iniciativa Veganuary – que desafia as pessoas a ser vegan durante o mês de Janeiro. Em Portugal, a campanha que lança o repto ao Papa é apoiada por Rita Blanco e Ana Galvão; a nível internacional, juntaram-se à causa Paul McCartney, Brigitte Bardot e Yann Arthus-Betrand.
“É uma campanha global de natureza ambiental: estamos a promover o veganismo, mas o foco é chamar a atenção não só dos líderes mundiais, mas do público em geral para as questões das alterações climáticas e da pecuária”, explica ao PÚBLICO a gestora da campanha em Portugal, Rita Parente. No site do projecto foi disponibilizado um guia para principiantes, com dicas adaptadas à cultura portuguesa sobre nutrição, onde comprar alimentos vegan, sugestões de restaurantes e também artigos científicos. Vários estudos mostram como a produção intensiva de carne é prejudicial para o planeta (tal como o seu consumo excessivo é nocivo para a saúde humana), mas também existem estudos que falam dos impactos negativos da sobreexploração de terrenos agrícolas para produção vegetal, destruindo ecossistemas, como é o caso do óleo de palma e dos abacates.
O dinheiro emtregue para doação é da responsabilidade da organização Blue Horizon International Foundation, que angaria fundos privados para serem doados a “organizações que trabalhem para tirar os produtos de origem animal dos sistemas alimentares globais”, esclarece a representante nacional.
E se o Papa não aceitar?
“Preparámo-nos para todos os cenários, mas não é possível fazer previsões”, responde Rita, que é designer gráfica de formação e embaixadora do projecto em Portugal, juntamente com André Nogueira, fotógrafo – o casal, que deixou de comer produtos de origem animal há quatro anos, é também autor do livro de receitas Vegan para Todos. Rita Parente compreende se o Papa declinar o desafio: “Nós fizemos a transição ao longo de um ano e compreendemos que cada pessoa leva o seu tempo e que pode não estar disponível para o fazer do dia para a noite.” Mas, mesmo que não aceite, “era bom que o Papa se encontrasse com a Genesis no Vaticano, que se mostrasse disponível para diálogo”, conclui.
Na carta (que também está publicada na edição impressa do PÚBLICO, numa página de publicidade), Genesis diz acreditar que a transição para uma dieta vegetariana ou vegan poderá ter efeitos benéficos na saúde humana e também “protegerá o solo, as árvores, os oceanos e a atmosfera”, ajudando igualmente a alimentar populações mais vulneráveis.
Para Genesis, há quem não aceite o desafio, porque “pensa que já não pode comer os seus alimentos favoritos, se se tornar vegan, ou que terá de abandonar as suas tradições” – mas isso não é impeditivo, responde. “E é ainda melhor sem produtos de origem animal, porque podes diminuir a pegada de carbono e salvar animais.” “Acho que algumas pessoas percebem os danos causados ao planeta – mas muitas vezes as pessoas só vêem a sua comida como alimento, e não o que está associado a ela, como o mal que está a provocar no nosso planeta ou que está ali um animal morto. Acho que, ainda assim, isso está a mudar”, diz Genesis.
Genesis Butler vive com os pais, com os três irmãos e com três cães em Long Beach, no estado norte-americano da Califórnia. Anda no 7.º ano e diz que alguns dos seus amigos também alteraram a sua alimentação. “Na escola dou aulas de culinária e cozinho sempre opções vegan e mostro-lhes que é delicioso”, conta.
A activista de 12 anos refere que lhe custa saber que existem “milhares de milhões de animais presos, que nunca verão a luz do dia nem serão autorizados a criar os seus filhos” e que foi essa a razão que esteve na origem da criação de uma organização de apoio aos animais (alimentação, abrigo, cuidados veterinários) chamada Genesis for Animals. Segundo a jovem norte-americana, a organização foi fundada com o dinheiro que amealhou graças às palestras que foi dando.