Denisovanos e neandertais conviveram na mesma gruta há mais de 100 mil anos
Duas equipas de cientistas refinaram a linha cronológica da ocupação de denisovanos e neandertais na gruta Denisova, na Sibéria.
Ao usarem técnicas sofisticadas para determinar a idade de fragmentos de ossos, dentes e artefactos numa gruta da Sibéria, duas equipas diferentes de cientistas revelam que os denisovanos – espécie humana já extinta – poderiam ser mais avançados do que pensávamos e que conviveram com os neandertais (outro grupo de humanos) há mais de 100 mil anos na mesma gruta. Publicados em dois artigos científicos esta semana na revista Nature, estes estudos basearam-se em vestígios na gruta Denisova, nos montes Altai, na Sibéria.
Embora ainda sejam um mistério, os denisovanos deixaram uma herança genética na nossa espécie, o Homo sapiens, sobretudo entre as populações indígenas da Papuásia-Nova Guiné e da Austrália, que retêm uma pequena (mas significativa) percentagem de ADN denisovano. Ou seja, esta é uma prova de que no passado houve um cruzamento do ponto de vista reprodutivo entre estas espécies.
Num dos novos estudos, aponta-se que os denisovanos ocuparam a gruta Denisova há entre 200 mil e 50 mil anos. Além disso, a idade de adornos feitos de dentes de animais e pontas de osso foi estimada entre 43 mil e 49 mil anos. Estes objectos devem ter sido fabricados pelos denisovanos, o que sugere que já tinham sofisticação intelectual.
Já no outro artigo científico refere-se que os denisovanos habitaram esta gruta há 287 mil a 55 mil anos e que os neandertais também tinham aí vivido entre há 193 mil e 97 mil anos. Portanto, há mais de 100 mil anos estes dois grupos de humanos conviveram na mesma gruta. Ferramentas de pedra indicam ainda que um destes grupos humanos, ou ambos, terão começado a ocupação da gruta há 300 mil anos.
No ano passado, uma equipa de cientistas descreveu um curioso fragmento do osso de uma menina encontrado a gruta Denisova. Essa menina tinha uma mãe neandertal e um pai denisovano. Ou seja, percebeu-se que estes dois grupos de humanos se cruzaram. A menina é conhecida como Denny e viveu há 100 mil anos, realça ainda a nova investigação.
“Normalmente, estes objectos são associados à expansão da nossa espécie no Oeste da Europa e são vistos como uma marca da modernidade comportamental. Mas, neste caso, os seus autores podem ter sido os denisovanos”, disse Katerina Douka, arqueóloga do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana (na Alemanha) e autora de um dos artigos científicos.
A nossa espécie surgiu em África há cerca de 300 mil anos e mais tarde foi-se espalhando por todo o mundo. Não há qualquer prova de que o Homo sapiens tenha chegado à gruta Denisova na altura em que os objectos encontrados lá foram feitos.
Mas o que se sabe sobre os próprios denisovanos? Até agora, apenas encontrámos três dentes e um dedo. “Novos fósseis são muito bem-vindos, porque não sabemos quase nada sobre a aparência física dos denisovanos”, afirmou Zenobia Jacobs, da Universidade de Wollongong (na Austrália) e autora dos dois artigos.
Por sua vez, Richard Roberts, que também assina os dois trabalhos e pertence à Universidade de Wollongong, acrescenta: “O seu ADN [dos denisovanos] nos povos aborígenes australianos e da Nova Guiné sugere que deviam estar muito espalhados pela Ásia. Mas precisamos de encontrar provas mais fortes da sua presença nessa região para preenchermos toda a sua história.”