Videoclipe
Mundo Cão com amor são é que não
Esta galeria é uma parceria com o portal Videoclipe.pt, sendo a seleção e os textos dos responsáveis do projeto.
A crónica de Hilário Amorim: Videoclipe, o herói improvável
Passados já mais de cinco anos que nesta galeria se destacou um videoclipe dos Mundo Cão, no qual se intercalava de modo feliz uma linha narrativa com a performance musical da banda, e eis que nesta semana chega à plataforma VIDEOCLIPE.PT um novo vídeo. Esse verdadeiro “objeto” com o qual hoje se destacam/promovem/anunciam os novos trabalhos musicais, que neste caso teve edição em finais de 2018. Desligado é o quarto álbum desta banda de Braga, na qual de destaca a voz arrastada, e a dosear cada palavra, com que o ator Pedro Laginha nos conta os dramas e as histórias de amor intenso, mas vão. Nunca amor são, isso é que não.
Na verdade, é um indie rock maduro, de ritmo trôpego e com uma guitarra tensa e crua, ainda que aqui e ali melodioso com piano, sintetizadores e crescendos, mas sempre com o desconsolo que as letras de Adolfo Luxúria Canibal e de Valter Hugo Mãe (agora também com dois temas pela pena do realizador Carlos Conceição) nos contam sobre vidas libertinas, marginais, atormentadas. Ou seja, um romantismo negro, desalentado, mas fortemente poético e algo apimentado.
Com um título destes, É sempre essa treta do amor eterno que me lixa, misto de calão desaforado e de fina poesia, como só uma das maiores eminências das letras em Portugal — o Valter — tão bem o faz, o realizador Marcos Cosmos também o fez bem ao construir-lhe uma ficção protagonizada pelo vocalista, mas de modo a fazer sentido que partes da interpretação musical nela se intercalem ajustadamente. Sem descurar o rigor com que enquadra sombras e luzes (quentes e frias), assim como o confronto de sensualidade e amargura. Mas se bem que metade do vídeo tenha por base uma estrutura interessante, melhor é a outra metade, pois ela constrói-se sobre um diálogo mudo (legendado), e que, curiosamente, se ajusta ainda melhor com o crescendo instrumental porque este lhe empresta alguma tensão dramática e um final cru e triste. Videoclipes assim sim, banda a interpretar música e miúdas noutro lado qualquer a fazer poses é que não.
Texto escrito segundo o novo Acordo Ortográfico, a pedido do autor.