"Sou livre e posso abraçar as minhas filhas." Supremo confirma inocência de Asia Bibi
Rejeição de um recurso apresentado por grupos islamistas permite que a cristã possa finalmente abandonar o país.
O Supremo Tribunal do Paquistão manteve a decisão de ilibar Asia Bibi, uma cristã paquistanesa de 54 anos acusada de blasfémia, num caso que continua a dividir o país e a chamar a atenção internacional, e que gerou protestos violentos.
O tribunal rejeitou um recurso apresentado por um grupo de islamistas radicais que queriam que Bibi fosse condenada à morte.
“Estou muito grata a todos”, afirmou Bibi, através de uma amiga citada pela Associated Press. “Agora, após nove anos, está confirmado que sou livre e posso abraçar as minhas filhas.”
O paradeiro da camponesa do Punjab não é conhecido por razões de segurança e, de acordo com a BBC, ela deverá agora abandonar o Paquistão e pedir asilo no estrangeiro. A rejeição do recurso pelo Supremo Tribunal é o capítulo final num caso histórico no Paquistão.
Em 2010, Bibi, uma camponesa cristã, foi condenada à morte por blasfémia ter feito comentários considerados ofensivos durante uma discussão com vizinhos. A mulher tinha bebido água do mesmo copo que estava a ser utilizado por outras agricultoras muçulmanas, que lhe disseram que teria de se converter ao islão para que o copo deixasse de estar impuro. Na discussão que se seguiu, Bibi foi acusada de ter feito comentários ofensivos sobre Maomé e horas depois foi espancada em casa.
Passou oito anos presa no corredor da morte até que em Outubro do ano passado, o Supremo Tribunal a ilibou de todas as acusações. Bibi e a sua família passaram a estar na mira dos grupos radicais, que a ameaçaram de morte. Os cristãos representam 1,6% dos 200 milhões de paquistaneses, a maioria dos quais são muçulmanos sunitas.
A decisão foi recebida com uma forte oposição, especialmente da parte de grupos religiosos ultraconservadores que apoiam penas muito duras para os crimes de blasfémia. Foram organizados protestos contra a sentença do Supremo Tribunal, obrigando o Governo a ter de intervir – a troco do fim dos protestos, o Supremo comprometeu-se a ouvir os recursos e as autoridades não permitiram a saída de Bibi do país.
O caso opôs os sectores mais radicais da sociedade paquistanesa – maioritariamente muçulmana – à população mais liberal, contrária a um regime duro para crimes como a blasfémia. Os críticos desta lei da época colonial dizem que é frequentemente usada para obter vingança em disputas pessoais.
A Amnistia Internacional pediu às autoridades paquistanesas que permitam que Bibi “se reúna com a sua família e procure segurança num país à sua escolha”.