Síria
"Gosto muito de Portugal. Saio de casa quando quero. Não há bombas, não há nada"
Há três anos por esta altura, Rohaf Alosh tinha 19 anos e viu a casa em que vivia em Alepo ser bombardeada. Já tinha aprendido a viver numa cidade transformada em campo de batalha, mas foi quando ficou sem casa que decidiu partir. Hoje vive em Portugal com a mãe e o irmão. Mas falta o pai.
Foi depois de a casa em que viviam em Alepo, na Síria, ser bombardeada que Rohaf, a mãe e o irmão se fizeram à estrada. Naquele dia, o pai não as pôde acompanhar. Tinha trabalho e tentava segurá-lo. Contingências de um cidadão comum num país em guerra.
A estrada levou-os primeiro a Afrin, de onde são naturais, depois a uma caminhada nocturna e silenciosa pelas montanhas que separam a Síria da Turquia, e num instante estavam em Istambul. Mas a estrada continuava e chegaram a um porto onde a melhor opção que tinham era arriscar a vida num barco de borracha para tentar chegar à Europa.
Foram acolhidos na Grécia, onde fizeram o pedido de asilo. Tinham de escolher oito países e escreveram Portugal. Não sabem porquê. Apenas conheciam Cristiano Ronaldo. Ouviram falar do país e puseram-no na lista.
Chegaram a Portugal há pouco mais de dois anos. Do país não sabiam nada, nem sequer dizer "olá". Durante um mês não saíram de casa. Rohaf, a mãe e o irmão. Agora, trabalham e estudam. Têm vidas quase normais. "Portugal é muito fixe", sublinha Rohaf em bom português. "Estamos muito felizes cá, mas às vezes não nos sentimos felizes porque falta ele".
Ele é o pai, que continua em Alepo. Já não tem trabalho e muitas vezes nem rede ou electricidade para garantir que "está tudo bem". O pedido de reagrupamento familiar em Portugal foi entregue em Março do ano passado. "Disseram que ia demorar seis meses" e nunca mais disseram mais nada.
"Eu tenho saudades, mas não quero voltar", conta Rohaf. "Já tenho amigos portugueses, já estudo em português. Estou quase portuguesa", brinca. "Nós estamos muito, muito felizes. Muito”, faz questão de dizer. “Vivemos em paz. Eu saio de casa quando quero. Não há bombas, não há nada. Só falta o pai".
Em três anos de acolhimento, só três refugiados reagruparam as famílias em Portugal.