Célia manda-nos à Fava para “desejar tudo de bom” com amuletos da sorte
Célia Esteves recuperou a tradição dos brindes do bolo-rei e criou uma linha de "amuletos da sorte" em prata — "sem pôr o bolo ao barulho" —, à venda no Porto. Fava é, assim, sinónimo de "desejar tudo de bom a alguém".
Da antiga Pastelaria Dantas, em Viana do Castelo, fechada “já há alguns anos”, pouco sobrou. Foi no meio do edifício já demolido da antiga pastelaria, onde “já não existe praticamente nada”, que a mãe de Célia Esteves encontrou um saco, “meio escondido”, cheio de brindes em chumbo do bolo-rei. “Todos embrulhados em papel, exactamente preparados para irem para a massa do bolo.” Decidiu oferecê-lo a Célia, em jeito de “herança”. Foram precisos oito anos para que as ideias da designer ficassem bem assentes e, em 2018, dessem origem ao projecto Fava — um conjunto de réplicas dos brindes do bolo-rei, em prata, que funcionam como “amuletos da sorte”.
Os mais antigos conhecem o lema do bolo-rei: se te calhar um brinde, vais ter sorte; se te calhar uma fava, vais ter azar. E Célia, de 37 anos e nascida em Viana do Castelo, uma “terra cheia de tradições”, não se esquece das memórias natalícias da infância: “Lembro-me de andar a mexer no bolo-rei a ver se me calhava a sorte de sair algum brinde.” Mas salienta que “era sempre um sacrífico”. “Eu nem gosto de bolo-rei”, ri-se.
Por ter uma “referência tão forte da cidade natal” no que diz respeito às tradições, a oferta do saco não passou despercebida. "Sabia que queria fazer alguma coisa com aquilo [os brindes], não tinha a certeza do quê, mas não queria deixar passar em branco", conta Célia, em conversa com o P3, na Senhora Presidenta. É nesta galeria portuense, no Bonfim, que Célia tem o atelier da Gur, a marca de tapetes de lã feitos manualmente através da técnica tradicional da tecelagem do puxadinho.
Começou por oferecer os brindes a familiares e amigos como presentes de Natal. "Tirava um à sorte e era muito giro porque parecia que havia sempre uma relação entre a pessoa e o brinde." Às vezes não tinha, mas "a gente inventava", brinca, na companhia do cão Xuxu.
Mas Célia “não queria deixar passar” a “herança” e decidiu eternizar os brindes tão tradicionais. Como a joalharia "foi sempre uma área muito atractiva" para a designer, seleccionou algumas peças, arranjou quem lhe fizesse os moldes e reproduziu-as em prata. O que no início era uma “coisa mais íntima” passou a negócio em 2018, quando a amiga Lígia Guedes se lhe juntou e começaram a "tratar da parte mais chata e burocrática": as embalagens, a imagem gráfica e o “começar a vender a sério”. Foi então, em Dezembro, que este “projecto diferente de tudo o que já tinha feito” deu os primeiros passos.
Com o Fava, "podes adquirir o amuleto sem pôr o bolo ao barulho", diz Célia, que quer "redescobrir os brindes". A ideia é "que as pessoas olhem para a fava como um amuleto da sorte, como um presente que pode ser oferecido à namorada, ao afilhado, ao irmão, como um carinho". Fava é, aqui, sinónimo de "desejar tudo de bom a alguém".
O sapato do pobre, a andorinha, o corno, a mola, a chupeta, o cadeado, o urso e a figa são alguns dos 12 amuletos que já foram lançados. Mas "ainda há brindes por abrir e amuletos para sair", acrescenta. O uso fica ao critério de cada um: colares, brincos ou pulseiras.
Célia e Lígia têm bem delineado o futuro do Fava: que a colecção não seja fixa, vá crescendo e chegue a países estrangeiros, como Espanha ou França, onde também existe uma tradição do bolo-rei.
Para já, os amuletos da sorte — que custam 30 euros — vêm numa caixa embrulhada em papel sulfito, com desenhos do ilustrador Júlio Dolbeth impressos em serigrafia e podem ser adquiridos através da conta do Instagram e na loja A Vida Portuguesa que reabrirá no Porto no final de Janeiro.