Marcelo venceu pelo menos uma batalha em Belém: pôs esquerda e direita "a viver no mesmo país"
O Presidente da República evocou três anos da eleição para Belém com aula sobre multiculturalismo e tolerância. E os incidentes no bairro Jamaica vieram à conversa. “Que não se generalize”, pediu Marcelo.
Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito Presidente da República faz nesta quinta-feira três anos. Na evocação do dia, deu uma aula no Liceu Passos Manuel, em Lisboa, e fez uma revelação. Há pelo menos uma batalha que considera ter ganho: “colocar a esquerda e a direita a viver no mesmo país.” Sobre se já decidiu se avança para um segundo mandato, deu a mesma resposta de sempre: no Verão de 2020 logo se verá.
A aula para os cerca de 150 alunos tinha como tema central o multiculturalismo e a tolerância que todos devemos ter nas mais variadas matérias. E deu como exemplo a intolerância que se vivia no país quando chegou a Belém. “A direita dizia que tinha ganho as eleições e devia governar e a esquerda também. A taça é minha. Não, a taça é minha. Era preciso que percebessem que tinham de saber viver na mesma casa”, explicou, sem dizer se tinha ganho essa batalha. No final da aula, questionado pelos jornalistas, esclareceu. “Está largamente ganha”.
“Nessa altura, o que se discutia era a legitimidade. Não se discutia se o Governo ia fazer bem ou se governava mal, se a oposição era boa ou má. Discutia-se a própria legitimidade democrática. Isso deixou de se discutir”, afirmou.
A Escola Básica e Secundária Passos Manuel não foi escolhida ao acaso. Sendo o tema o multiculturalismo, aquele era mesmo o espaço ideal já que, entre uma população escolar de cerca 1400 alunos, há 33 nacionalidades. A mais numerosa é a portuguesa, seguida pela brasileira e pela nepalesa - a escola engloba bairros onde vivem bastantes cidadãos desta nacionalidade. Outra razão que justifica a escolha da escola é afectiva. O liceu Passos Manuel foi onde o pai do Presidente, Baltasar Rebelo de Sousa, cumpriu o primeiro ciclo da altura, entre os anos lectivos de 1933/34 e 1938/39.
Já na aula, Marcelo voltou a revelar o prazer de ser professor e os alunos ouviram-no de forma atenta durante duas horas.
No momento reservado para os alunos fazerem perguntas, o tema que mereceu mais atenção foram os incidentes no bairro Jamaica, no Seixal, e na Avenida da Liberdade, em Lisboa. Os alunos manifestaram preocupações sobre a violência policial. Marcelo insistiu sempre na mesma frase: “Não se deve generalizar.”
“Não deve pegar em casos específicos, generalizando para uma comunidade. Ou, no caso das forças de segurança, que têm um papel importantíssimo no estado de direito democrático, pegar também em casos singulares, que porventura venham a ser considerados censuráveis”, afirmou.
Questionado sobre a desconfiança manifestada pelos jovens relativamente à actuação da polícia, Marcelo Rebelo de Sousa notou que "houve intervenções preocupadas e foram aplaudidas por uma parte da sala, mas outra parte da sala, tão numerosa ou mais numerosa do que aquela que aplaudiu, reagiu ao contrário".
"E, portanto, não fazer um juízo radical dizendo que esta comunidade ou este tipo de comunidade levantam problemas, ou as instituições, como um todo, são passíveis do juízo que diz respeito, ou venha a dizer respeito, a elementos isolados num determinado momento também isolado", sublinhou.
O chefe de Estado tentou incutir nos jovens a ideia de que é necessário "combater essa radicalização". "Foi isso que tentei explicar aos jovens, mesmo aos mais apaixonados: que uma posição apaixonada e radical de um lado gera uma posição apaixonada e radical do outro lado. Isso é o contrário do que precisamos na convivência social", disse.
Para o Presidente da República, o que “é fundamental para se viver numa sociedade que se quer inclusiva” é “evitar radicalismos”. “Mesmo bem-intencionados, alguns radicalismos só criam radicalismos de sinal oposto.”
Os jornalistas questionaram também Presidente da República sobre as declarações feitas na quarta-feira no Parlamento pelo responsável pela segurança de Tancos, João Paulo Almeida, quando se soube do roubo de material militar, que confirmou que não foram feitas rondas aos paióis de armamento naquela noite. “É uma matéria relativamente à qual está em curso uma investigação criminal muito avançada, que nesse particular já foi objecto de uma investigação disciplinar interna, que apurou que não tinha havido rondas", afirmou.
"Agora está a ser a investigação criminal, que eu sempre defendi e sempre pedi", acrescentou, considerando que essa averiguação, que está "bastante avançada, é nuclear, é fundamental".