Nos anos 90 faziam-se rondas para controlar rondas em Tancos
Era assim impossível a inexistência de vigilância durante 20 horas, como concluíram as averiguações que ocorreu no dia do assalto.
Nada levava a crer que a audição ao coronel que comanda as actuais tropas do Regimento de Engenharia 1, que permanecem em missão em Tancos, trouxesse uma revelação. Mas assim foi: há quase 30 anos, quando o coronel Leonel Mendes Martins foi oficial de dia da sua unidade instalada nos paióis, efectuava rondas que permitiam supervisar as rondas normais de vigilância.
“Fazia rondas mistas – a pé e em jipe –, rondas frequentes, de menos de três em três horas, que eram para controlar as rondas que se faziam”, disse o oficial na tarde desta quinta-feira, na sétima audição da comissão parlamentar de investigação a Tancos. O que não permitiria a inexistência de rondas durante 20 horas, como as averiguações feitas pelo Exército concluíram que ocorreu em 27 de Junho de 2017.
O agora coronel ainda especificou que, nos anos 90 do século passado, a segurança dos paióis contemplava uma panóplia de meios: de redes consistentes a sensores. Os meios auxiliares inexistentes em 2017 e que levaram Tancos para as primeiras páginas.
“Julgo que as coisas [os efeitos dos assaltos no turno de segurança dos homens de Engenharia] estão ultrapassadas, é natural que ainda haja algum sentimento relativo ao assunto, fala-se muito do que aconteceu, mas tem havido serenidade para cumprir as nossas missões”, garantiu. Admitiu carências de pessoal e, numa declaração de desassombro e rigor, quantificou as faltas.
São a foto da realidade de um Regimento mas, também a radiografia da situação das Forças Armadas. Tem 50% dos efectivos que devia ter e as praças estão a 35 por cento. “Desde Outubro de 2018 há uma redução de seis praças por mês, a maioria dos contratados é de Norte e, quando renovam o contrato, saem para unidades próximas das suas casas”, descreveu.
À margem destas falhas e de uma multiplicidade de missões, o Regimento de Engenharia mantém a sua actividade em Tancos com um sargento e dois praças, depois de esvaziados os paióis e de o material de guerra ter sido transferido para Santa Margarida. Mas Mendes Martins é um coronel feliz. Aquando do assalto aos paióis estava no Instituto Universitário Militar, longe do frenesim das casernas, de exonerações e readmissões, do fervilhar que sacudiu o Exército. E, agora, em Tancos, não há explosivos para guardar.