Accionistas analisam “cenários” para o futuro da central a carvão do Pego

O presidente da Endesa admite que a biomassa pode ser uma alternativa para salvar uma unidade que dá “emprego qualificado”, mas diz que a última palavra cabe ao Governo. A licença termina em 2021.

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Nuno Ribeiro da Silva lidera a Endesa Portugal LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

O presidente da Endesa Portugal, Nuno Ribeiro da Silva, diz que se estão a analisar “cenários” para manter a central a carvão do Pego em funcionamento depois de 2021, mesmo que com tecnologias renováveis, como a biomassa, mas assegurou que a empresa seguirá as directivas do Governo.

O gestor, que está esta quinta-feira na comissão parlamentar de inquérito às rendas da energia, explicou que a Endesa está a analisar com a sua sócia Trustenergy – uma joint-venture entre a japonesa Marubeni e a francesa Engie – qual será o futuro da central a carvão do Pego (Tejo Energia). “Por certo vai ter de haver aprofundamento de cenários, e não só da nossa parte, e conversas com o Governo”, afirmou.

Ribeiro da Silva explicou que o grupo Endesa “está confrontado com uma situação idêntica” em Espanha, onde tem “opções de encerramento” de centrais a carvão. Em Portugal, só há duas centrais a carvão, a do Pego e a de Sines (explorada pela EDP), e o Governo pretende que encerrem até 2030.

Se o Governo decidir que não há qualquer cenário de extensão, “assim será”, afirmou o ex-secretário de Estado da Energia, sublinhando, ainda assim, que a central está bem equipada para cumprir as exigências ambientais. Está “um brinquinho”, afirmou, em resposta à deputada socialista Ana Passos.

O contrato de aquisição de energia (CAE) da Tejo Energia termina a 30 de Novembro de 2021. “Terminando o CAE, a bola deixa de estar no nosso campo”, acrescentou Ribeiro da Silva. O gestor adiantou que, a três anos de distância da data, os accionistas da Tejo Energia estão a “imaginar todos os cenários” e confessou que existe “preocupação” por se tratar de uma unidade industrial relevante na região de Abrantes.

Assumindo que “mais tarde ou mais cedo o carvão sairá do sistema” eléctrico, como aconteceu com o gasóleo e o fuelóleo, os accionistas estão a estudar “em completa linha” com a tendência da descarbonização energética, “aproveitar aquele espaço para alguma geração renovável”.

“É complexo. Ainda ontem houve uma reunião séria na empresa sobre este assunto”, contou Ribeiro da Silva. “Já se falou em biomassa florestal”, mas podem ser "equacionadas outras tecnologias", como o sol, referiu. “Da nossa parte há a preocupação de desaparecer daquela zona um agente económico que tem trabalho qualificado (…), mas seguiremos as directivas do Governo”.

A operação da central (que funcionou “75% do tempo em pleno”, desde que foi criada, há 28 anos, ) até se pode prolongar para lá de Novembro de 2021, porque “dá jeito” por haver um “período de seca”, ou “porque surge uma ideia por parte do Governo de dar mais tempo, mas não depende de nós”. Também reconheceu que com os compromissos ambientais do país, uma central a carvão “fica anacrónica, fica fora de jogo".

O presidente da Endesa Portugal referiu que ao longo dos anos “tem havido grande conforto no sobreequipamento do sistema electroprodutor ibérico”, mas que esta é uma situação que “tende a mudar de maneira rápida”.

Lembrou que, em Janeiro, a produção a carvão representou 36% do total na Península Ibérica. As centrais já começam a ser desactivadas em Espanha “e vão ser muitos milhares de megawatts a sair do sistema ibérico”. Se a isto se juntar a discussão sobre o nuclear, significa que “mais ano ou menos ano, se vai retirar do sistema duas tecnologias muito relevantes na produção e na garantia do sistema”. É algo a que temos de “dar atenção”, sublinhou.

Questionado sobre a capacidade da rede eléctrica para começar a receber mais produção de origem renovável, Nuno Ribeiro da Silva disse considerar que a rede não está preparada. Lembrou que as renováveis assentam no “tripé água, vento e sol”, mas que esta última tecnologia se “atrasou muito”. Os grandes reforços de redes foram feitos no centro e no norte, para sustentar a produção hídrica e eólica. “Como o sol não se desenvolveu”, e há menos densidade populacional nas zonas onde há mais recurso solar (no sul do país, mas também nas Beiras), não se investiu nas infra-estruturas dessas regiões, explicou.

Agora, com uma vaga de manifestações de interesse pelo solar, chegou-se “a uma situação caricata” e que revela “falta de planeamento”, que é a de haver “uma série de pessoas com licenças que não têm possibilidade de fazer interligação à rede”.

“Se queremos trazer solar para a rede temos rapidamente de desbloquear esta situação e não deixar que se crie um mercado especulativo à volta das licenças”, afirmou Ribeiro da Silva.

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