“Alinhamento dos astros” permitiu roubo de Tancos e isso serviu de “lição” ao Exército

Chefe do Estado-Maior do Exército admite que o episódio de 2017 levou a um reforço dos procedimentos de segurança e comando.

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Miguel Manso

O chefe do Estado-Maior do Exército, Nunes da Fonseca, defendeu no Parlamento que o furto de Tancos, em 2017, "não abalou o Exército", mas "serviu de grande lição", afirmando que hoje "estão garantidos" os procedimentos de segurança e de comando "ao detalhe".

"Nós temos a plena consciência de que Tancos foi um momento menos bom do Exército, mas permitimo-nos com alguma vaidade dizer que Tancos não nos abalou. Tancos serviu de grande lição para aprendermos todos os dias o que devemos fazer até ao mínimo detalhe", disse o general numa audição na Comissão de Defesa Nacional sobre a proposta da Lei de Programação Militar e sobre a Directiva Estratégica do Exército 2019/2021.

Depois de Tancos, "a componente de segurança, de procedimentos, de comando atento são garantidos, se é que não estavam no antecedente", afirmou, considerando que, na sua análise, Tancos demonstra que "o diabo está nos detalhes". O CEME considerou que "houve um alinhamento dos astros para que Tancos tivesse ocorrido" e o Exército vai "procurar que os astros nunca se alinhem para acontecerem eventos deste tipo" no ramo.

"Tancos é uma grande lição para nós, daí retiramos que não podemos descurar nos detalhes de segurança, os detalhes dos procedimentos, os detalhes do comando", o aprontamento e a forma de "olhar para as tarefas individuais e colectivas". O general Nunes da Fonseca respondia ao deputado do PS Ascenso Simões que o confrontou com as consequências do furto de material militar dos paióis de Tancos, em 2017, advertindo que "o Exército tem um elefante na sala que se chama Tancos" que "criou um problema grave à imagem" do ramo. Durante as três horas anteriores da audição ninguém ousara tocar no assunto.

O deputado socialista fez uma apreciação sobre a intervenção do general na audição parlamentar, considerando que "utilizou a táctica dos 3 P - paciência, prudência e perseverança", e defendeu que faltou "a letra E, de energia". "Não é mais possível que as Forças Armadas queiram resolver o assalto a Tancos com uma sanção disciplinar a um cabo e um sargento", sem outras implicações para a estrutura superior, exclamou.

O coordenador do PS na comissão de Defesa Nacional disse que "gostaria que o Exército percebesse que os portugueses hoje olham de forma diferente para as Forças Armadas", defendendo "novas formas de comunicar, de transformar", porque que "não será possível "caminhar para a paz" mantendo as mesmas formas de actuação.

Antes, instado pelo PCP e pelo deputado do PCP Jorge Machado a esclarecer o problema da falta de coesão no Exército que tinha referido no início da audição, o general Nunes da Fonseca assegurou que "é porventura efémera e pontual" e que hoje "há unanimidade do Exército em torno do seu comando". "É certo que houve situações aqui ou acolá que indiciaram divisões no Exército, mas mesmo tendo sido públicas são situações muito pontuais", disse, acrescentando que o Exército "está no caminho da coesão".

O caso do furto de armas em Tancos ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar (PJM) e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do roubo.

Entre os detidos está o director da PJM e um civil (que já foi militar), principal suspeito da prática do furto, encontrando-se ambos em prisão preventiva, num caso que levou à demissão de Azeredo Lopes do cargo de ministro da Defesa e do general Rovisco Duarte do cargo de chefe do Estado-Maior do Exército.

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