Soy trans: em criança queria ser Óscar, hoje é Gabriel

No metro de Madrid um rosto a preto e branco diz, orgulhoso, soy trans. Com 20 anos, Gabriel sente-se finalmente bem no seu corpo: "É uma grande libertação".

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"Os meus amigos, tanto os cisgénero como os 'trans', são muito importantes para mim. Eles ajudaram-me a ultrapassar o medo de fazer o 'coming out' aos meus pais." Susana Vera/Reuters

Gabriel Diaz de Tudanca é um espanhol de 20 anos que, embora tenha nascido biologicamente mulher, soube desde cedo que se identificava com o sexo masculino. “Quando tinha três anos, voltei da escola e disse à minha mãe que, quando crescesse, seria um homem chamado Óscar”, recorda o jovem. 

Com o apoio da família e amigos, passou por tratamentos cirúrgicos e hormonais, mudou o nome e renovou os documentos de identidade para reflectir o que sente ser o seu verdadeiro género — e, durante três anos, Susana Vera, fotógrafa da Reuters, acompanhou todo o processo.

Gabriel ri-se enquanto a mãe mostra uma fotografia dele quando era uma menina. "A minha mãe apanhou-me uma manhã a pôr uma banda no meu peito e eu disse-lhe que não me sentia confortável com o género que me foi atribuído à nascença. Ela não compreendeu, mas depois disse-me que se eu decidisse usar um vaso na minha cabeça, ela também não perceberia, mas iria aceitar e fazer o mesmo." (27 de Maio de 2015) Susana Vera/Reuters
Gabriel com a sua amiga Alina (20 de Maio de 2015) Susana Vera/Reuters
Gabriel à conversa com outro amigo "trans" na Semana do Orgulhod e Madrid (25 de Junho de 2015) Susana Vera/Reuters
Gabriel é examinado pelo cirurgião plástico, Jorge Planas (23 de Novembro de 2015) Susana Vera/Reuters
Uma enfermeira prepara o tratamento hormonal (16 de Dezembro de 2015) Susana Vera/Reuters
Gabriel prestes a tomar a primeira injecção de testosterona (16 de Dezembro de 2015) Susana Vera/Reuters
Gabriel à espera de entrar na água com membros do club LGBT de natação Halegatos (8 de Fevereiro de 2016). "Mal podia esperar para fazer a cirurgia de remoção do peito. Estava cansado de usar um fato de neoprene de cada vez que tinha de ir à piscina ou à praia." Susana Vera/Reuters
Gabriel mostra o que escreveu no braço (28 de Maio de 2015) Susana Vera/Reuters
Gabriel, com 16 anos, abraça a mãe durante uma homenagem a um rapaz transgénero que se suicidou. "Sinto que tenho sorte por contar com o apoio dos meus pais e dos meus amigos." (27 de Dezembro de 2015),Gabriel, com 16 anos, abraça a mãe durante uma homenagem a um rapaz transgénero que se suicidou. "Sinto que tenho sorte por contar com o apoio dos meus pais e dos meus amigos." (27 de Dezembro de 2015) Susana Vera/Reuters,Susana Vera/Reuters
Num bar (5 de Fevereiro de 2016) Susana Vera/Reuters
Gabriel, aqui com 17 anos, dois meses depois de ter começado a tomar testosterona. (15 de Fevereiro de 2016),Gabriel, aqui com 17 anos, dois meses depois de ter começado a tomar testosterona. (15 de Fevereiro de 2016) Susana Vera/Reuters,Susana Vera/Reuters
"A minha transição não foi fácil para a minha mãe, mas ela esteve sempre a apoiar-me a 100%", conta Gabriel. (17 de Março de 2016) Susana Vera/Reuters
Um guarda observa para Gabriel (17 de Maio de 2016) Susana Vera/Reuters
Gabriel no autocarro (20 de Junho de 2016) Susana Vera/Reuters
Gabriel segura uma bandeira durante a Semana do Orgulho. (1 de Julho de 2016) Susana Vera/Reuters
Gabriel no karaoke com amigos (22 de Outubro de 2016) Susana Vera/Reuters
Gabriel à espera da cirurgia (26 de Outubro de 2016) Susana Vera/Reuters
A mudança de género e nome no registo (25 de Novembro de 2016) Susana Vera/Reuters
A mãe de Gabriel beija-o após a mudança de nome e género (25 de Novembro de 2016),A mãe de Gabriel beija-o após a mudança de nome e género (25 de Novembro de 2016) Susana Vera/Reuters,Susana Vera/Reuters,Susana Vera/Reuters,Susana Vera/Reuters
Fotografias de Gabriel aos 18 anos (26 de Janeiro de 2017) Susana Vera/Reuters
Prótese peniana (31 de Março de 2017) Susana Vera/Reuters
Gabriel e a namorada Ruth (15 de Maio de 2017) Susana Vera/Reuters
Gabriel com a sua namorada, Ruth, junto à piscina- "Demorou algum tempo a encontrar alguém que eu sentisse que me visse como eu realmente sou. É isso que sinto com a Ruth. Ela não sabia muito transexualidade mas tudo foi muito natural desde o início e ambos temos o apoio das nossas famílias." (2 de Julho de 2017) Susana Vera/Reuters
(29 de Junho de 2018) Susana Vera/Reuters
Fotografia de Gabriel na casa dos pais (6 de Agosto de 2018) Susana Vera/Reuters
Gabriel a fumar (6 de Agosto de 2018) Susana Vera/Reuters
(6 de Agosto de 2018) Susana Vera/Reuters
Gabriel faz uma tatuagem com a molécula de testosterona e as palavras "self-made man". (18 de Setembro de 2018) Susana Vera/Reuters
Gabriel, 20 anos, com a sua namorada, Ruth (20 de Outubro de 2018) Susana Vera/Reuters
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Gabriel ri-se enquanto a mãe mostra uma fotografia dele quando era uma menina. "A minha mãe apanhou-me uma manhã a pôr uma banda no meu peito e eu disse-lhe que não me sentia confortável com o género que me foi atribuído à nascença. Ela não compreendeu, mas depois disse-me que se eu decidisse usar um vaso na minha cabeça, ela também não perceberia, mas iria aceitar e fazer o mesmo." (27 de Maio de 2015) Susana Vera/Reuters

Espanha encontra-se relativamente avançada no que toca aos direitos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero), mas, ainda assim, as autoridades exigem um diagnóstico médico antes de permitir a mudança de género nos documentos oficiais, já que a transexualidade é classificada como uma doença mental. "Não levei a mal, ser diagnosticado como 'mentalmente doente'", diz Gabriel. "Mas sinto-me revoltado por ter que fazer o diagnóstico para poder alterar documentos, fazer tratamento hormonal ou uma cirurgia."

A Organização Mundial de Saúde determinou em Junho que ser transexual não deveria ser classificado como um transtorno mental — a transexualidade é agora considerada como uma “incongruência de género”, uma condição relacionada à saúde sexual. Em Portugal, com a nova lei de identidade de género, para mudar o sexo e o nome no registo civil só os jovens "trans" entre os 16 e os 18 anos é que têm apresentar um atestado de um psicólogo ou médico que confirme a vontade, sem a carga patológica da disforia de género.

Gabriel iniciou aos 17 anos os primeiros tratamentos hormonais para desenvolver características secundárias — a sua voz ficou mais grave, ganhou mais pêlo, a gordura corporal ficou distribuída de outra forma. Depois fez também uma cirurgia de remoção de peito. "Foi uma grande mudança na minha vida", sublinha Gabriel. "É uma grande libertação".

Gabriel durante a cirurgia de remoção do peito a 26 de Outubro de 2016 Susana Vera/Reuters,Susana Vera/Reuters
Gabriel durante a cirurgia de remoção do peito a 26 de Outubro de 2016 Susana Vera/Reuters
Gabriel com a mãe, Mariely, e do cirurgião, Jesus Lago, após a cirurgia em Novembro de 2016 Susana Vera/Reuters
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Gabriel durante a cirurgia de remoção do peito a 26 de Outubro de 2016 Susana Vera/Reuters,Susana Vera/Reuters

Hoje em dia, já é socialmente aceite como homem, embora tenha sido rejeitado por algumas pessoas. Um amigo de infância disse que não o considerava um homem porque Gabriel não tinha pénis.

Actualmente, o jovem tem namorada e sente-se orgulhoso da sua identidade. Participou inclusive numa campanha de sensibilização da Câmara Municipal de Madrid para a prevenção de crimes de ódio contra transgénero — o seu rosto pôde ser visto numa série de cartazes colocados ao longo da rede de metro da cidade com a frase Soy trans ("Sou trans"). Porque é preciso informar e sensibilizar: "O ódio e a intolerância dos outros são resultado da ignorância das pessoas sobre os transexuais."

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"Após a campanha alguns tipos começaram a escrever comentários de ódio no meu Instagram", diz Gabriel. Fez queixa e hoje estão à espera de julgamento. (1 de Julho de 2016) Susana Vera/Reuters

Tradução de Raquel Grilo