Recursos humanos no SNS – Um novo caminho

Precisamos de repensar urgentemente a forma como gerimos os recursos humanos na Administração Pública.

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) está prestes a comemorar 40 anos e muitos têm sido os estudos e relatórios publicados nos últimos meses que salientam a história de sucesso que temos construído. Uma história de sucesso plasmada em indicadores como a redução da mortalidade infantil, como o aumento da esperança média de vida ou como a redução da mortalidade prematura.

Estes e outros indicadores traduzem factos inegavelmente importantes e de que nos devemos orgulhar. A história do SNS é essencialmente feita por profissionais de saúde que todos os dias cuidam dos nossos utentes – e também das suas famílias – em momentos de grande vulnerabilidade, com competências que têm evoluído e que vão muito para além da prática clínica.

O SNS conta com quase 140 mil profissionais em todo o país e existem vários estudos e projeções sobre necessidades de recursos humanos para os próximos anos, tendo por base o modelo organizativo atual da prestação de cuidados e o modelo de gestão desses recursos.

No entanto, o futuro – e mesmo o presente – não pode ser preparado e encarado com as respostas do passado. Precisamos de repensar urgentemente a forma como gerimos os recursos humanos na Administração Pública, atendendo particularmente às especificidades do SNS.

Recentemente foi apresentado na AESE – Business School o livro Sonhando com um hospital otimista, da autoria de José Fonseca Pires e Florent Amion. De forma criativa, a obra ilustra esta temática, apostando na ideia de sintonizar cada um com a sua a missão como profissional de saúde e de reforçar o princípio de que a qualidade assistencial depende sobretudo das pessoas, das suas competências e do seu bem-estar.

A missão de uma organização só é concretizada em pleno quando ela, pesem embora todas as imperfeições, satisfaz as necessidades dos principais grupos que convivem na organização, o que implica apostar na comunicação, na conciliação da vida profissional e pessoal, no bem-estar e na promoção da formação contínua.

Foi neste espírito que, ainda enquanto secretária de Estado da Saúde, publiquei o Despacho n.º 3118/2018, que esteve na origem da criação de um grupo de trabalho multidisciplinar que, com grande empenho e autonomia, traçou as linhas orientadoras de um Plano de Ação para a Promoção do Bem-Estar no Trabalho nos Organismos e Entidades do Ministério da Saúde. O plano contém um eixo central e medidas específicas em quatro grandes áreas: conciliação da vida profissional com a vida pessoal; melhoria dos locais de trabalho; envolvimento e participação dos trabalhadores; e promoção de estilos de vida saudáveis.

Acredito que o caminho para melhorar a gestão dos recursos humanos deve ser trilhado visando construir locais de trabalho saudáveis com impacto tanto nas pessoas como na economia. Neste contexto, os riscos psicossociais e o stresse laboral são amplamente reconhecidos como o maior desafio para a saúde e segurança ocupacional na Europa – e Portugal não é alheio a estes riscos nem pode ficar de fora das respostas.

Esta preocupação é ainda mais importante quando sabemos que temos recursos limitados e uma taxa de absentismo nas instituições de saúde, em alguns grupos profissionais, que varia entre os 7% e os 12%. Alguns estudos (Hilton, 2004) demonstram que cada euro investido na implementação eficaz de programas de intervenção que apoiam os colaboradores com problemas de Saúde Psicológica produz um retorno que corresponde a um aumento cinco vezes superior da produtividade. Os dados mostram, ainda, que quando os colaboradores se sentem apoiados e valorizados tendem a apresentar níveis mais elevados de bem-estar, desempenho, concentração e motivação.

Num momento de conflito e debate na saúde, e com uma nova Lei de Bases em gestação, a componente da formação, do reconhecimento, da motivação e da inserção dos profissionais de saúde em ambientes de trabalho saudáveis, promovendo o seu bem-estar e as suas condições de bom desempenho, não pode deixar de ser um pilar essencial da gestão dos recursos humanos, reforçando o SNS e permitindo continuar a percorrer o caminho de sucesso e compromisso com a saúde dos portugueses que ele simboliza.

A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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