Desta vez, Bordalo II assina um novo Acordo de Paris

Com Acordo de Paris, Bordalo II quer lançar um alerta: "Só temos este sítio para viver". Exposição vai ser inaugurada a 26 de Janeiro na capital francesa.

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Lémure Bordalo II
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Coruja Bordalo II

A exposição Acordo de Paris, de Bordalo II, reúne 30 obras do artista português na capital francesa, com diversos tipos de plástico, encontrados no lixo, para criar animais em vias de extinção e alertar para problemas de sustentabilidade do planeta.

"O Acordo de Paris [Accord de Paris] como nome da exposição é simbólico porque, para além dos temas abordados no Acordo de Paris, há mais uma série de coisas que têm de ser alteradas, legisladas e precisam de ter metas para continuarmos a viver num planeta sustentável. Eu já nem falo dos animais. Se pensarmos de uma forma egoísta, os humanos têm de pensar na sua casa. Só temos este sítio para viver. Fazer uma exposição sobre este tema em Paris faz todo o sentido", disse Artur Bordalo, conhecido como Bordalo II, em declarações à Lusa, durante uma visita exclusiva para a imprensa.

A exposição vai ser inaugurada no dia 26 de Janeiro, terminando no dia 2 de Março. Sendo uma das maiores mostras do artista português, Bordalo II considera que tem a particularidade de ser realizada "num espaço menos convencional", no coração de uma zonas mais recentes da capital francesa, junto à biblioteca François Miterrand — o espaço, que está em bruto, será convertido daqui a uns meses num supermercado. Algo que o artista considera "contraditório" e "fantástico", já que o seu trabalho se concentra na problemática "economia versus natureza".

O artista desenvolveu 30 obras que representam animais em vias de extinção, feitos a partir de plásticos encontrados no lixo e na rua. Algumas obras são metade realistas, mostrando os animais com as suas cores naturais — com peluches deitados ao lixo a servir de pêlos — ou feitos inteiramente de plásticos coloridos. O português instalou também um lémure e uma coruja, com a mesma técnica, em ruas adjacentes à exposição.

Há ainda uma série de obras críticas da sociedade actual, onde Bordalo II utilizou lixo tecnológico como telemóveis ou teclados de computadores, para mostrar como os humanos estão demasiado ligados à tecnologia e afastados da natureza. "Temos de pensar em deixar de produzir tanto, deixar de consumir tanto e nisto as grandes marcas têm uma grande responsabilidade", apontou Bordalo II, que se identifica como um activista.

"Uma das coisas mais importantes para mim é que o meu trabalho não caia no superficial, mas que tenha sempre algo a dizer com uma componente educativa forte e uma parte social e política presente. Se as pessoas vêem as minhas obras, é importante que não seja apenas bonito, mas que tenha uma parte que contribua para uma mudança", acrescentou.

A exposição foi organizada pela galeria Mathgoth — especializada em arte urbana —, que representa o artista em Paris. Mathilde Jourdain, directora da galeria, disse à Lusa que as obras já estão a despertar o interesse de compradores em França. "Já temos contactos com muito interesse nas peças do Bordalo II. Na exposição colectiva que fizemos no ano passado, tínhamos uma peça dele, vendemo-la e podíamos tê-la vendido várias vezes. E o interesse não é só de coleccionadores de arte urbana, mas o seu público é muito grande, e há também coleccionadores de arte contemporânea que estão interessados", afirmou a directora da galeria, em declarações à Agência Lusa.

A entrada nesta exposição é gratuita, mas todas as obras do artista português estão à venda. Os valores oscilam entre os 2500 e os 25 mil euros, embora Bordalo II reforce que esse não é o objectivo da exposição. "A parte económica da exposição não é o que é mais relevante. Pretendo que o meu trabalho tenha algo a dizer e, por exemplo, chegar aos miúdos é o meu foco e o que mais me interessa neste momento", revelou o artista português. Neste sentido, as manhãs da exposição estão reservadas a escolas e colégios parisienses, assim como a própria exposição está adaptada às crianças, com as obras a serem estrategicamente posicionadas de forma a serem acessíveis aos mais pequenos.