Conan O'Brien reduzido a metade
Conan, o talk show de late night que Conan O'Brien mantém no ar desde 2010, vai passar a ter, a partir de terça-feira, 20 minutos em vez de 40 de duração.
Conan O’Brien quer estar mais solto. Menos formatado, mais espontâneo. Não é que Conan, o seu anterior formato, não tivesse disso a rodos, mas garantir 40 minutos de episódio por noite obriga muitas vezes a encher chouriços. E, descontando alguns breves interregnos, o apresentador de 55 anos mantém-se no ar com um talk show em nome próprio desde Novembro de 1993. É mais de um quarto de século. Johnny Carson, uma das suas primeiras inspirações, aguentou 30 anos. E, entretanto, muito mudou no mundo do entretenimento televisivo. O que é um talk show em 2019, quando os momentos melhores vão parar à Internet e uma boa parte do público que os consome nem sequer se lembra de que aquilo passa na televisão?
É para se adaptar a esse contexto de desagregação que Conan, o talk show da TBS do qual O'Brien é anfitrião desde 2010, vai mudar. Em vez de 40 minutos – que, acrescidos dos intervalos, dão uma hora –, passará a ter metade da duração. Quando for preciso, se o episódio estiver a correr realmente bem, o conteúdo extra transbordará depois para a Internet.
O primeiro destes novos episódios de Conan irá para o ar nos Estados Unidos esta terça-feira, mais de três meses após a transmissão do último no formato antigo. Em Portugal, a SIC Radical exibiu o programa até 2015, mas entretanto a produtora “decidiu que não compensava vender" o talk show para "fora dos Estados Unidos". A SIC não confirmou ao PÚBLICO pretende adquirir o novo programa para Portugal.
De resto, ainda não se sabe muito bem como tudo irá correr. Segundo o The New York Times, vai continuar a haver monólogos sobre a actualidade – deliberadamente mais orientados para a parvoíce do que para a acutilância política agora em voga em alguns programas do género –, segmentos pré-gravados e uma entrevista com um convidado – o primeiro será Tom Hanks. O cabelo de Conan continuará no sítio, bem como o seu parceiro cómico, Andy Richter, mas a banda, por exemplo, já não constará do alinhamento.
Em Junho, em entrevista ao Vulture, o site da New York Magazine, o apresentador argumentou que os talk shows do horário late night se transformaram numa parte importante “da experiência americana", mas apontou que muito do que os apresentadores fazem actualmente no ar serve apenas para "matar tempo”. “Antes", explicou, "adorava fazer uma hora inteira”, mas, a dada altura começou a interrogar-se se não seria altura de deixar de fazer as coisas exactamente da mesma maneira.
Não é grande surpresa. Nos últimos anos, Conan tem vindo a demonstrar vontade de se libertar da rigidez do formato clássico de late night. Dentro e fora de Conan, o programa de televisão propriamente dito. Por exemplo em Conan Without Borders, agora disponível no Netflix, que colecciona viagens suas a países como Cuba, México, Haiti, Israel ou Itália – acompanhado pelo seu produtor associado Jordan Schlansky, com quem tem uma disfuncional relação cómica de amor-ódio. Os encontros espontâneos com pessoas locais que aí estão registados resultam em alguns dos segmentos mais hilariantes que Conan O'Brien fez nos últimos anos. Paralelamente, há também a série Clueless Gamer, em que ele e os seus convidados jogam (mal) videojogos, digressões de comédia ao vivo e um podcast: Conan O’Brien Needs a Friend.
O podcast arrancou em Novembro, com Will Ferrell como primeiro convidado – foi também ele quem estreou o sofá da famigerada passagem de Conan pelo Tonight Show, no qual substituiu Jay Leno entre Junho de 2009 e Janeiro de 2010. Conan O’Brien Needs a Friend é um programa da Earwolf, a rede de podcasts de Scott Aukerman, de Comedy Bang! Bang!, com quem Conan partilha o gosto por comédia absurda que é ao mesmo tempo parva e inteligente. A premissa é simples: falar com convidados recorrentes do programa, com quem o apresentador tem alguma química, mas que acabaram por nunca se tornar amigos dele fora do ar. Até agora, passaram por lá nomes como Wanda Sykes, Kristen Bell, Nick Offerman e Megan Mullally, Ron Funches ou Adam Sandler. São interacções que não estão ligadas a algo que os convidados queiram promover, mais espontâneas, longas e orgânicas do que é normal em talk shows, algo que deverá transitar para o novo Conan.
A 14 de Janeiro, em declarações ao já citado The New York Times, Conan dizia que deu por si a pensar: “E se eu tentasse, da forma mais egoísta possível, alterar isto para poder ter o máximo de diversão? Decidi assustar-me a mim próprio.” Sem se levar demasiado a sério. Na mesma entrevista, falava de uma conversa que teve com Albert Brooks. Terá dito ao cómico e realizador: “Tu fazes filmes, eles perduram para sempre. Eu só faço estes programas de late night, eles perdem-se, nunca mais são vistos e quem é que quer saber?” Ao que este respondeu: “De que é que estás a falar? Nada importa. (…). Tu vais ser esquecido. Eu vou ser esquecido. Seremos todos esquecidos.” Em vez de o deprimir, a sentença agradou-lhe. Parece ser esse o espírito com que parte para este novo Conan. Parece bem.