Mais de 421 mil euros para apoiar greve dos enfermeiros. É este o dia D?
Sindicatos e ministra reúnem-se esta quinta-feira. Enfermeiros assumem que a expectativa é baixa. Caso greve seja desconvocada, valor angariado é devolvido a quem o doou.
A recolha de fundos para apoiar uma nova greve dos enfermeiros às cirurgias programadas reuniu até ao momento mais de 421 mil euros. Esta quinta-feira pode ser decisiva. Os sindicatos reúnem-se com a ministra da Saúde e representantes do Ministério das Finanças. Mas a expectativas são baixas e os enfermeiros já assumiram que ou há avanços nas negociações ou a paralisação, marcada até 28 de Fevereiro, avança.
A campanha de angariação de fundos estará activa por mais 12 dias. O valor inicial pedido pelo Movimento Greve Cirúrgica, para apoiar os enfermeiros que adiram à paralisação, era de 400 mil euros. Foi alcançado no dia 12, dois dias antes da data marcada para o início da greve, entretanto suspensa até esta quinta-feira.
Em declarações ao PÚBLICO no dia em que se realizou a última ronda negocial, Catarina Barbosa, uma das fundadoras do Movimento Greve Cirúrgica, explicou que caso a greve seja desconvocada, o valor é devolvido a quem o doou. “Seremos nós a devolver o dinheiro a cada uma das pessoas que doou. No caso das colectas que foram feitas nos serviços, os colegas têm a lista de quem fez donativos e farão a distribuição. Se sobrar dinheiro da primeira angariação, como estava definido, será doado a uma instituição”, que ainda não está escolhida.
A actual angariação de fundos, que decorrer numa plataforma online, conta com mais de dez mil apoiantes. Catarina Barbosa referiu na altura que receberam donativos na ordem dos dois mil e três mil euros, resultados de colectas feitas nos serviços de vários hospitais.
Mas tendo em conta as palavras dos sindicatos, a probabilidade da greve marcada para sete centros hospitalares e com especial incidência nos blocos operatórios se realizar é grande. A paralisação repete o modelo da greve realizada entre 22 de Novembro e 31 de Dezembro e que levou ao adiamento de cerca de oito mil cirurgias, segundo o Ministério da Saúde.
Sem expectativas
Esta quarta-feira, no Parlamento, os presidentes da Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE) e do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor) assumiram que as expectativas são baixas. E deixaram um aviso: “Ou há avanços nas negociações ou há greve”. Palavras de Carlos Ramalho, presidente do Sindepor, que disse que a única coisa de que tinham certeza é que iam ser “confrontados com uma reunião política”.
Lúcia Leite, presidente da ASPE, assumiu que não tem grandes expectativas no encontro desta quinta-feira, “até porque não tem agenda”. “Apesar de o Governo dar mostras de preocupação com uma nova greve cirúrgica, temo que haja condições para ela começar amanhã [esta quinta-feira], disse no Parlamento.
Os ministérios da Saúde e das Finanças reúnem-se com os dois sindicatos às 14 horas. As reivindicações dos enfermeiros passam pela criação de uma carreira com três categorias — na última semana, o Ministério da Saúde aceitou a criação da categoria de enfermeiro especialista —, a antecipação da reforma para os 57 anos de idade e 35 de serviço e a revisão da grelha salarial, com a base a começar nos 1600 euros.
Numa nota enviada no final da semana passada, o Ministério da Saúde disse estar empenhado “na melhoria das condições de trabalho e de remuneração” dos enfermeiros, mas “sempre norteado por princípios de sustentabilidade”. Não acolheram as reivindicações do aumento salarial, que estimam ter um impacto financeiro de 216 milhões de euros, nem a reforma aos 57 anos, que estimam poder custar 230 milhões de euros.
O ministério reúne-se ainda com o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses e com a Federação Nacional dos Sindicatos de Enfermagem.