Júlia Buisel vence prémio Bárbara Virgínia da Academia Portuguesa de Cinema

Foi colaboradora de Manoel de Oliveira durante mais de trinta anos, como script supervisor, assistente mas também actriz. Estreou-se no ano passado como realizadora, com uma curta-metragem em volta de Fernando Pessoa.

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Júlia Buisel Enric Vives-Rubio

A actriz, realizadora e assistente de realização Júlia Buisel venceu a quarta edição do Prémio Bárbara Virgínia, por "mais de cinquenta anos de carreira ao serviço do cinema português", informou esta quinta-feira a Academia Portuguesa de Cinema.

Júlia Buisel fez carreira também como autora, anotadora, script supervisor, em particular numa longa colaboração com Manoel de Oliveira (1908-2015), desde Francisca (1981) até à morte do realizador. Mais recentemente, estreou-se também como realizadora, com a curta-metragem Quantas Vezes Tem Sonhado Comigo​ (2018).

A direcção da Academia Portuguesa de Cinema "presta, assim, homenagem a uma mulher que se distinguiu pela sua enorme versatilidade e pelo valioso contributo para a história do cinema português", lê-se no comunicado agora divulgado.

A sessão de homenagem e de entrega do Prémio Bárbara Virgínia vai decorrer no próximo dia 8 de Fevereiro, às 21h30, na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa.

Após a entrega do prémio, será exibido o seu filme Quantas Vezes Tem Sonhado Comigo, em volta de Fernando Pessoa, e ainda Pássaros de Asas Cortadas (1963), filme de Artur Ramos, que marca a sua estreia como actriz. Rodado em plena ditadura do Estado Novo, Pássaros de Asas Cortadas adapta uma peça de Luís Francisco Rebello, tem diálogos de Alexandre O'Neill e de Luís de Sttau Monteiro, e sofreu 17 cortes da censura.

O Prémio Bárbara Virgínia toma o nome da primeira realizadora portuguesa, que dirigiu Três Dias Sem Deus – exibido no Festival de Cannes em 1946 –, e foi instituído pela Academia Portuguesa de Cinema em 2015, ano da sua morte, para homenagear mulheres que se distinguiram no cinema português. Foi já atribuído a actrizes como Leonor Silveira e Laura Soveral e à colorista Teresa Ferreira.

Nascida em 1939, no Algarve, Júlia Buisel está ligada ao cinema desde os anos de 1960. Além do papel secundário que desempenhou em Pássaro de Asas Cortadas, destacou-se em filmes como O Miúdo da Bica, de Constantino Esteves, e Uma Hora de Amor, de Augusto Fraga.

Em 1981, iniciou uma ligação profissional a Manoel de Oliveira, que durou mais de 30 anos, em particular como script supervisor de eleição do realizador, nos filmes por ele rodados desde então. Durante esse período, Buisel foi também actriz em algumas das obras de Oliveira, como A Divina Comédia, Vale Abraão, O Princípio da Incerteza, Belle Toujours e Singularidades de uma Rapariga Loura.

Nos anos de 1980, Júlia Buisel trabalhou também como assistente de realização em produções como A Tremonha de Cristal, de António Campos, e na série televisiva Retalhos da Vida de um Médico, inspirada na obra literária de Fernando Namora.

Em 2018, Júlia Buisel estreou-se na realização com Quantas Vezes Tem Sonhado Comigo. Tendo Lisboa como cenário, encena fragmentos escritos por Pessoa e revisita, através de personagens interpretadas por Catarina Wallenstein e Dinis Gomes, algumas das casas onde o poeta viveu, assim como locais que gostava de frequentar.