Compra dos aviões KC-390 pode estar em causa
Braço-de-ferro negocial entre Portugal e os brasileiros da Embraer controlados em 80 por cento pela Boeing.
A compra por Portugal de cinco unidades, na modalidade de quatro mais um, dos KC-390, aviões de transporte táctico do construtor brasileiro Embraer, pode estar em causa. Quem o admitiu esta quarta-feira foi o Chefe do Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA), general Manuel Rolo, numa audição na comissão parlamentar de Defesa Nacional sobre a nova Lei de Programação Militar (LPM).
“Estamos numa negociação férrea e começa a prevalecer a opinião de que se a Embraer não vier para este valor [cerca de 830 milhões de euros], o Estado português terá de ir para outras opções”, afirmou o oficial. Mais: o responsável da Força Aérea reconheceu que a Embraer “está a pedir mais do que razoavelmente o Governo esperaria”, quando a proposta de LPM para a compra dos aparelhos é de 827 milhões de euros em 12 anos.
O CEMGFA garantiu, mesmo, que o ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, está de acordo com esta posição. “Esse é também o sentimento do ministro”, confirmou, anunciando que o Ministério da Defesa “quer fazer sentir à Embraer que podem ser pensadas outras opções”.
Ou seja, as autoridades portuguesas estão a protagonizar um braço-de-ferro negocial com o construtor brasileiro que, em Julho do ano passado, criou uma joint-venture com a Boeing, na qual os norte-americanos vão desembolsar mais de 3,3 mil milhões de euros para controlar 80 por cento da parceria. O calendário anunciado prevê para o final deste ano a concretização do negócio, ao ponto de a Boeing ter previsto o seu impacto já nas contas de 2020.
Este negócio com o gigante norte-americano criou surpresa na Europa. A Embraer beneficiou de fundos europeus para a sua instalação em Portugal, tem uma fábrica em Évora e detém 65 por cento da OGMA em Alverca. O desenvolvimento dos KC-390 decorreu através da EEA, empresa do Estado controlada pelo IAPMEI e com 80 por cento do capital do Centro para a Excelência e Inovação da Indústria Automóvel – CEIIA.
À data do anúncio do acordo, a imprensa brasileira noticiou que um comunicado interno da Embraer indicava que o controlo da fábrica de Évora passaria para a nova empresa a criar com a Boeing. Um mês antes do acordo, em Junho de 2017, a União Europeia anunciou 23,5 milhões de euros para a modernização da unidade do Alentejo, e está por avaliar as implicações, ao nível das normas comunitárias, do acordo que cria o maior grupo de aviação do mundo.
As referências do CEMGFA “a outras opções”, remetem para a divisão militar do consórcio europeu da Airbus e o seu aparelho A-400 M. Criado para substituir os históricos Hércules C-130 da Lockheed, no avião de transporte táctico brasileiro os desenhos e cálculos de resistência estrutural da “barriga”, onde se instalam as portas do trem de aterragem, dos elevadores das asas traseiras e da fuselagem, foram trabalho dos engenheiros do CEIIA. Este centro já participara em projectos de desenvolvimento para o construtor de helicópteros anglo-italiano AgustaWestland e está associado à Daher-Socata no plano do novo Falcon.