Hacker dos e-mails do Benfica detido na Hungria

Polícia Judiciária deu conferência de imprensa para esclarecer os pormenores da Operação "Cyberduna", com detenção efectuada pela mesma autoridade em Budapeste.

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Reuters

Rui Pinto, o hacker suspeito de ser o responsável pelo roubo de correspondência electrónica do Benfica, que deu origem ao caso dos Emails e ao E-Toupeira, foi detido na Hungria, confirmou ao PÚBLICO fonte da Polícia Judiciária (PJ).

O anúncio da detenção foi feito na tarde desta quarta-feira, em comunicado, pela PJ e pela Procuradoria-Geral da República, que, no entanto, não divulgaram o nome do envolvido.

Segundo este documento, estão em causa “factos susceptíveis de integrarem crimes de extorsão qualificada na forma tentada, acesso ilegítimo, ofensa a pessoa colectiva e violação de segredo”. Para concretizar a detenção, desenvolvida no âmbito da Operação Cyberduna, elementos da PJ deslocaram-se à Hungria, onde estão “a acompanhar presencialmente a execução da detenção e das diligências subsequentes, no âmbito de uma Decisão Europeia de Investigação”, esclarece-se no mesmo documento.

Em Setembro do ano passado, a revista Sábado revelou que Rui Pinto, hoje com 30 anos, era o único suspeito de ter roubado e-mails do Sport Lisboa e Benfica, que estiveram na origem do caso dos emails e do E-Toupeira. A publicação indicava que o homem operava a partir de Budapeste, a capital da Hungria, considerando-o um “génio da informática” que já teria estado envolvido noutros casos de roubo de correspondência electrónica, envolvendo o Sporting e o FC Porto.

A investigação começa com uma queixa do fundo de investimento Doyen Investment Sports, que financia passes de jogadores e treinadores de futebol, e do Sporting, por roubo de dados e extorsão. O advogado do hacker, Aníbal Pinto, confirmou há meses ao PÚBLICO ter-se reunido em finais de 2015 com um representante da Doyen a pedido de Rui Pinto, mas garante que nunca soube nada sobre uma alegada extorsão que o jovem estaria a fazer à empresa, pedindo mais de 500 mil euros para devolver informação sensível.

Contactado esta quarta-feira, o advogado de Rui Pinto disse ao PÚBLICO ter sido “apanhado de surpresa” pela detenção e não ter tido ainda qualquer contacto com o cliente. Aníbal Pinto diz que vai agora aguardar para saber se o suspeito aceita ser extraditado para Portugal, mostrando-se disponível para o acompanhar processualmente se ele o desejar. “Ele pode opor-se à extradição e, se o fizer, o tribunal na Hungria terá de analisar o que ele pede”, refere.

Material informático apreendido, revelou a PJ

Carlos Cabreiro, director da Unidade de Combate ao Cibercrime e Criminalidade Tecnológica (UNC3T) da PJ, disse em conferência de imprensa que o alcance das actividades do suspeito ainda está a ser investigado. Por isso, escusou-se a associar o indivíduo a qualquer acção relacionada com o roubo dos e-mails ao Benfica. “É prematuro associar o suspeito a esses crimes”, declarou, apesar de reconhecer que o modus operandi utilizado aponta para este suspeito.

"Trata-se de um suspeito que estava a ser procurado pela PJ, que está há alguns meses na Hungria, pela prática de alguns crimes: extorsão e exfiltração [roubo de dados] de alguns dados institucionais", explicou.

Carlos Cabreiro diz que há crimes que podem ser punidos com até 10 anos de prisão, mas "há várias penas associadas", estando ainda por apurar toda a extensão das práticas ilícitas e possíveis cúmplices. Sobre a operação que decorreu na Hungria, o director apenas adianta que o suspeito foi detido em casa “sem oferecer qualquer resistência”, tendo-lhe sido apreendido “algum material informático”.

O mandado de detenção europeu foi cumprido na Hungria, no âmbito da Operação Cyberduna, processo que Cabreiro limitou-se a dizer ao PÚBLICO que consistia nas iniciais tecnológicas “cyber” e um código estabelecido pela PJ, “duna”.

O suspeito será transferido para Portugal com base nos “procedimentos legais” do mandado de detenção europeu, emitido em território nacional e em “cooperação total e estreita” com as autoridades do exterior. A chegada do detido pode demorar "até um mês".

Rui Pinto chegou a ser arguido num alegado desfalque de 300 mil dólares a um banco sediado nas Ilhas Caimão, ocorrido em 2014. Em causa estava um crime de furto qualificado que acabou sem julgamento porque o banco visado declarou ter sido totalmente reparado dos prejuízos, o que extinguiu o processo-crime. 

Benfica também reagiu

Minutos após a conferência de imprensa, o Benfica divulgou um curto comunicado a prometer que "dará todo o seu contributo – na medida em que este lhe for solicitado – para que se descubra a verdade", referindo que "este é o tempo da Justiça e da Investigação".

Os "encarnados" esperam que a detenção do indivíduo "possa ser um passo importante para que se chegue à verdade e às motivações que possam ter estado por trás de um crime" que o clube diz estar a causar "danos". Com Mariana Oliveira

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