A Casa Eficiente e o Pinhal de Leiria: o mesmo mal
É mais fácil fazer anúncios sonantes do que executar e acompanhar políticas e Portugal é pródigo em produzir boas ideias que acabam destruídas por erros de concepção, pelo voluntarismo ou, pior ainda, pelo desleixo e ineficiência dos serviços do Estado.
Em Abril de 2018, o Governo anunciou com pompa e circunstância o programa Casa Eficiente 2020 e meio ano mais tarde a iniciativa estava afundada nas suas próprias debilidades. Em Janeiro de 2018, o primeiro-ministro deslocou-se com ainda mais pompa e mais circunstância ao país rural para plantar sobreiros no Pinhal de Leiria e, um ano mais tarde, os sobreiros estavam praticamente todos mortos. A diferença abismal entre o que os governos prometem e fazem na prática é conhecida e está longe de ser uma marca distintiva da equipa de António Costa. É mais fácil fazer anúncios sonantes do que executar e acompanhar políticas e Portugal é pródigo em produzir boas ideias que acabam destruídas por erros de concepção, pelo voluntarismo ou, pior ainda, pelo desleixo e ineficiência dos serviços do Estado.
Ninguém duvida que a intenção de promover a melhoria da eficiência energética nas habitações dos portugueses é uma excelente proposta. O consumo energético doméstico representa, segundo a Pordata, um quarto do gasto anual de energia e a sua redução teria três méritos indiscutíveis: reduziria a pegada de carbono, faria baixar as importações de produtos petrolíferos e tornaria as casas dos portugueses mais confortáveis e com menores gastos de energia. Para que essas finalidades fossem atingidas a bem do interesse público, era importante que o Governo se empenhasse a fundo na sua execução. Não foi isso que aconteceu. Dispensando a bonificação de taxas de juro ou incentivos fiscais, o Governo deixou a solução do problema na banca. Aconteceu o que está a acontecer: entre juros absurdos e exigências burocráticas desmotivadoras, o programa afundou.
Mais exemplar e, de alguma forma, mais perturbador foi o laxismo dos serviços públicos que comprometeram a gala com que António Costa pretendeu lançar uma nova era na reflorestação do país e na recuperação do icónico Pinhal de Leiria. Como sempre aconteceu na floresta nacional, o Governo e o Estado mostraram-se expeditos em mostrar ideias e incompetentes em garantir o seu sucesso. Podemos dizer que plantar sobreiros em solos arenosos e pobres é um disparate silvícola, mas ir por aí era anular a boa intenção de promover uma maior aposta numa floresta sustentável. O que vale então a pena explicar e censurar é a negligência dos serviços florestais que deixaram morrer os sobreiros. Para salvar a face e evitar o anátema da propaganda, o primeiro-ministro tem uma solução: um inquérito aos responsáveis do pinhal. Vai ser interessante saber quantas vezes adubaram, regaram e limparam o souto idealizado no pinhal.