Belas Artes do Porto cedem desenho de Leonardo ao Louvre para exposição no Outono
Rapariga lavando os pés a uma criança integra a colecção da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto desde o século XIX. Irá ser mostrada em Paris nos 500 anos da morte do autor de Mona Lisa.
A Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP) vai emprestar o desenho de Leonardo da Vinci da sua colecção ao Museu do Louvre, em Paris, para a exposição que assinala os 500 anos da sua morte.
A directora da FBAUP, Lúcia Almeida Matos, disse à Lusa, enquanto exemplo dos empréstimos nacionais e internacionais solicitados à colecção de arte da faculdade, que o desenho de Leonardo da Vinci está neste momento na Holanda e vai ser exibido, no Outono, no Louvre.
A FBAUP confirmou assim que o desenho Rapariga lavando os pés a uma criança (18,5x11,4 centímetros) vai integrar a exposição a inaugurar no Outono de 2019, segundo a página do museu mais visitado do mundo.
A primeira atribuição a Leonardo do desenho que pertence ao acervo da FBAUP – previsivelmente desde o século XIX, quando terá entrado na colecção da escola trazido pelos bolseiros que no século XIX frequentaram as academias italianas – foi sugerida em 1965 pelo historiador de arte e curador britânico Philip Pouncey, que veio a ser confirmada em 1977, quando foi examinado o original, no Porto, segundo a descrição da proveniência do desenho patente no repositório temático da Universidade do Porto.
"Pouncey deu a conhecer a sua descoberta no ano seguinte, num pequeno artigo publicado na revista Apollo. Tendo em conta a estreita relação estilística entre o desenho do Porto e um grupo de desenhos para uma composição da Virgem e o Menino com o Gato existente no British Museum, (...) Pouncey considerava que o desenho recém-descoberto deveria datar de c. 1480, ano em que o artista vivia ainda em Florença", pode ler-se no mesmo texto.
Mais tarde, o historiador de arte e perito em Leonardo Carlo Pedretti "sugeriu que tanto o desenho do Porto como os desenhos com ele relacionados do British Museum [datavam] de c. 1483, pouco depois da transferência de Leonardo para Milão".
Rapariga lavando os pés a uma criança foi mostrado pela última vez no Porto no âmbito da exposição Cinco Séculos de Desenho na Colecção da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, realizada na Primavera de 2012.
Uma exposição excepcional
"Uma exposição excepcional de Leonardo da Vinci vai ser apresentada no Museu do Louvre no Outono de 2019. Um conjunto único de obras que só o Louvre poderia reunir, para além da sua excepcional colecção de pinturas e desenhos pelo mestre italiano", pode ler-se na página da instituição.
O Louvre recorda que Leonardo abandonou Itália após a morte do seu patrono, Giuliano de Medici, tendo chegado ao Castelo de Clos Lucé, na cidade francesa de Amboise, em Novembro de 1516, onde permaneceu até à sua morte, três anos depois.
"É por isto que o Louvre detém quase um terço das suas pinturas: aquelas que ele trouxe para França foram adquiridas por Francisco I e entraram para as colecções reais, que provavelmente já incluíam A Virgem dos Rochedos e La Belle Ferronnière, adquiridas por Louis XII. Este excepcional conjunto de pinturas, que constituiu o começo das colecções do Louvre, foi completado por 22 dos desenhos do artista", explica o museu.
Ainda segundo o Louvre, a exposição vai incluir uma "grande selecção de desenhos e um pequeno, mas significativo, grupo de pinturas e esculturas que vão fornecer algum contexto tangível".
Já este mês, o Governo italiano anunciou que não iria autorizar o empréstimo de obras para a exposição, uma vez que, segundo a subsecretária de Estado da Cultura, Lucia Borgonzoni, citada pelo The Art Newspaper, "Leonardo era italiano, só morreu em França, pelo que dar ao Louvre todas essas pinturas seria colocar a Itália nas margens de um grande evento cultural".
Por seu lado, o director do museu Galerias dos Ofícios, em Florença, afirmou, citado pelo mesmo órgão de comunicação, estar certo de que os seus colegas franceses no Louvre o iriam apoiar na decisão de aplicar as mesmas regras às suas pinturas de Leonardo que eles aplicam à Mona Lisa, ou seja, a política de não emprestar as obras em causa.