Dany Silva regressa ao B.Leza e Tito Paris estreia-se no Porto
Os sons de Cabo Verde estão em destaque neste final de semana, com Dany Silva a levar as canções da sua vida ao B.Leza, esta sexta-feira, e Tito Paris a estrear-se na Casa da Música, no sábado, num espectáculo com lotação já quase esgotada.
Por auspiciosa coincidência, dois nomes grandes da música cabo-verdiana apresentam neste final de semana os seus mais recentes trabalhos em Lisboa e no Porto. Dany Silva dá esta sexta-feira, às 23h, o seu primeiro concerto do ano no B.Leza, trazendo na bagagem o disco Canções da Minha Vida, lançado em 2018, enquanto Tito Paris se apresenta pela primeira vez no Porto, este sábado, às 21h30, na Casa da Música, com o disco Mim Ê Bô, em rodagem desde 2017. Uma estreia que já foi recompensada, por antecipação: os bilhetes, segundo a organização, estão quase esgotados.
Nascido em 1947 na Cidade da Praia, Dany Silva iniciou-se cedo no violão, ao lado do seu pai. Ainda jovem, mudou-se para Portugal em 1961 para estudar na Escola de Regentes Agrícolas de Santarém, ali se formando como engenheiro técnico agrário. Mas foi na música que se celebrizou, primeiro como cantor do grupo Os Charruas, depois no Quinteto Académico+2, nos Four Kings e finalmente na Bandássanhá, grupo que formou. Desde então, a par do seu trabalho em grupos ou a solo, trabalhou ou colaborou com músicos como Rui Veloso, Carlos do Carmo, Fausto Bordalo Dias, Sérgio Godinho, Sara Tavares, Teté Alhinho, Mafalda Veiga ou Zé Carrapa, entre outros.
Em 2018, celebrou os seus 40 anos de carreira com um disco de 16 temas, todos eles cantados em duetos, dos antigos Branco, tinto e jeropiga (título do seu disco de estreia a solo, em 1981) ou Crioula de S. Bento até clássicos da música cabo-verdiana como Ó Bernard (popular), Tempe de Caniquinha (de Sérgio Frusoni) ou Lua ‘nha testemunha (B.Leza). Com ele, gravaram Jorge Palma, Rui Veloso, Luís Represas, Tito Paris, Carlos do Carmo, Manif3estos, Katia Guerreiro, Manecas Costa, Paulo de Carvalho, Pepe Ordáz, Nancy Vieira, Micas Cabral (Tabanka Djaz), Olavo Bilac, Mirro Lobo, Phillip Hamilton e Don Kikas. É este disco, Canções da Minha Vida, que servirá de base ao seu concerto no B.Leza.
Tito, uma estreia portuense
Tito Paris, por sua vez, estreia-se no dia seguinte no Porto, na sala Suggia da Casa da Música, com Mim ê Bô, o seu mais recente disco de originais. Nascido no Mindelo, na ilha de São Vicente, a 30 de Maio de 1963, Tito andou sempre rodeado de música, na família e entre amigos, absorvendo lições de Luís Morais ou Chico Serra antes de vir para Lisboa em 1982, a convite de Bana, para integrar o grupo Voz de Cabo Verde. Começou por tocar bateria (embora pensasse que vinha tocar baixo) e mais tarde, por pressão de Dany Silva, acabou por se tornar também cantor.
Fixado depois nas guitarras, acústica e eléctrica, editou em 1995 o seu primeiro disco de estúdio, Dança Ma Mi Criola (um anterior, Fidjo Maguado, de 1987, não retratava ainda bem o seu estilo), seguido de Graça De Tchega (1996), Guilhermina (2002), Ao Vivo no B.Leza (1998), 27/071990 (2001), Acústico, Ao Vivo na Aula Magna (2005) e Mim ê Bô (2017).
Aprofundando o caminho aberto em Dança Ma Mi Criola, em que misturou as raízes cabo-verdianas com os sons do Caribe, acentuados com recurso a naipes de metais (saxofone, trompete, trombone) e também de cordas, Mim ê Bô foi assim explicado por Tito ao PÚBLICO, em 2017: “Eu gosto da fusão, mas com a raiz de Cabo Verde sempre presente, intocada. Sempre fiz isso nos meus trabalhos, porque os outros povos têm muito para nos ensinar também, a cultura não tem nem fronteiras nem raça. É livre. E eu gosto muito das músicas latino-americanas, como gosto muito de samba, bossa nova. Às vezes vou buscar uma coladeira bossa-novada, ou uma morna-fado.”
O título, esse, resulta do tempo de espera e tem origem numa frase que ele ouviu a um amigo. Havia muita gente a pedir-lhe um disco novo, mas esse amigo disse-lhe algo que Tito nunca esqueceu: “Eu espero o tempo que for preciso. Porque ‘mim ê bô’ [eu sou tu].” E assim ficou o título.