Oito soldados do RI15 guardavam paióis em turnos de 24 horas

Coronel livrou-se do pesadelo: acabou o serviço em Infantaria 15, em Setembro de 2016, antes do assalto aos paóis.

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O coronel Vieira Esperança na audição parlamentar LUSA/TIAGO PETINGA

“Houve inabilidade política dos governantes o que não resguardou o bom nome das Forças Armadas”. Foi desta forma que Joana Barata Lopes, deputada do PSD, fez um “ponto e vírgula” na audição, na tarde desta quarta-feira, do coronel Manuel Joaquim Vieira Esperança, comandante do Regimento de Infantaria (RI) 15 de Tomar, uma das quatro unidades que repartiam a segurança aos paióis de Tancos, com uma rotatividade mensal. O que, por via das necessidades operacionais e cortes, ficou reduzido à presença de oito soldados em turnos de 24 horas.

Vieira Esperança foi protagonista da primeira audição da comissão de inquérito sobre as consequências e responsabilidades políticas de furto do material militar ocorrido em Tancos. O coronel livrou-se do pesadelo. Esteve em funções à frente do RI 15 entre Outubro de 2013 e Setembro de 2016, antes do assalto Foi ouvido a pedido do PS, como lhe fizeram notar as bancadas do PSD e do CDS. Homem informado, prolongou respostas e, hábil, destacou que entre a declaração da parlamentar Joana Barata Lopes sobre a pouca habilidade dos políticos e as declarações do deputado socialista Ascenso Simões, não havia, assim, tanta diferença.

Ou seja, que a segurança a Tancos estava confiada por dia a oito homens do seu regimento – seis soldados, um cabo e um sargento -, o que conjugado com as escalas e a obrigatoriedade de descanso de 48 horas após um turno diário, elevava a 24 os militares encarregados de garantir o bom recato do material de guerra. Não era novidade: Tancos 2017, Factos e Documentos, uma edição do Ministério da Defesa Nacional de Março de 2018, revelava este extremo. Por ironia, alguma da primeira luz sobre o roubo teve iniciativa editorial do ex-ministro Azeredo Lopes.

Mas Tancos é único, pelo valor de um paiol. O coronel Vieira Esperança recordou o assalto ao regimento de Comandos, em 2011, e foi deixando mensagens. A progressiva degradação das instalações militares, não só de Tancos - falou do amianto no tecto do seu regimento de Tomar -, era consequência de opções político-militares (missões internacionais, NATO), das dificuldades económicas do país e do fim do serviço militar obrigatório. Com menos mancebos, menos rondas aos paióis. Uma recordação nada do agrado de PSD e PS, cujas "jotas" concertaram o fim da conscrição militar.

Na gestão da sua administração foi cauto. Disse que falou com os superiores sobre a situação dos paióis, mas não se recorda de ter assinado um documento sobre a questão. Remete a comissão parlamentar para a leitura dos relatórios de cessão de actividade das patrulhas, nos quais, segundo o formulário, se referiam as incidências.

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