Desafios da Ecologia
Por mais tecnologia que se desenvolva, devemos ter a humildade para reconhecer a incapacidade de resolver os problemas ambientais imediatos.
Em 2019, celebra-se o centenário da morte de Ernst Haeckel, biólogo alemão que definiu Ecologia como sendo o estudo dos seres vivos em interacção com o meio ambiente. E se antes existia uma visão muito naturalista da ecologia, ao pensar-se no Homem como parte integrante do ecossistema Terra, a definição tornou-se mais ampla e controversa: que seres vivos, que meio ambiente? Actualmente, ecologia é uma ciência integradora, que providencia dados e conhecimentos necessários para fazer face aos desafios dos objectivos sustentáveis das Nações Unidas. As equipas, interdisciplinares, são naturalmente compostas por biólogos, sociólogos, geoquímicos, físicos, matemáticos, geógrafos, antropólogos, que interpretam resultados complexos e aportam soluções práticas com base em conhecimento científico. Os ecólogos debruçam-se sobre a complexidade dos ecossistemas e por isso podem dar indicações correctas perante os desafios económicos e os problemas de saúde pública ligada ao ambiente. Mas, para que a sua mensagem chegue ao poder político e à sociedade, terão de aceitar o desafio de explicar de forma simples, mas clara, que a solução para muitos dos problemas da humanidade está no desrespeito da sociedade para com as leis da natureza.
O poder económico e a revolução científica permitiram ao Homem, ao longo dos últimos dois séculos, determinar, como arbitrários, os sistemas político e económico. A gestão dos sistemas é mesmo estabelecida com base na sua economia e valor atribuído. Não deixa por isso de ser interessante as “regras” ou boas intenções das afirmações políticas sobre o que se pode ou deve fazer do ponto de vista económico e sustentável. E para isso financiam-se investigações para resolver problemas imediatos que satisfaçam as ideias e circunstâncias do momento. Realçam-se as afirmações mediáticas e as intenções para a resolução de problemas que preocupam, hoje, a sociedade. Por outro lado, os media disseminam e reportam feitos de investigação que possam interessar ao cidadão comum, directamente ligados às preocupações da sociedade e em resposta aos dilemas do momento. Esquece-se que o planeta não “obedece” às leis económicas, não compreende os ciclos de governação, não responde às determinações políticas, nem tão pouco à inteligência artificial ou engenharias genéticas, tão em voga. Os ecólogos, pelo contrário, compreendem quais as leis físicas e biológicas que governam o planeta e desenvolvem estudos onde as escalas, temporal e geográfica, são consideradas. Na grande maioria dos casos, o seu problema é a capacidade financeira para continuar a aportar dados ao longo dos anos para melhor prever e modelar as respostas complexas dos ecossistemas.
Interessa perceber que o planeta e a biosfera mantêm a sua ordem, organização e evolução à custa do fluxo de energia solar, captado pelas plantas e convertido em matéria. O desperdício de uns organismos serve de alimento a outros, permitindo o ciclo eficiente de energia e matéria da biosfera. Ao longo dos milhares de milhões de anos, a evolução permitiu o aumento da diversidade de formas de vida, de simbioses entre organismos, de complexidade de estruturas, de interacções em cadeia, que asseguram a resistência e resiliência do ecossistema Terra. Quando um pequeno elo da cadeia falha o sistema fica em desequilíbrio. Pelo contrário, nas sociedades humanas, mesmo que se procure estabelecer uma economia circular é difícil assegurar que os fluxos de energia e matéria sejam eficientemente usados com descrição por todos os indivíduos. O consumo determina a procura e o que não tem préstimo imediato é lixo, diferente do desperdício natural presente nos ecossistemas. A sociedade humana ainda não interiorizou que a Terra não possui, nem é, um vazadouro de lixo, provocando a acumulação e poluição, ameaçando a saúde pública.
Por mais tecnologia que se desenvolva, devemos ter a humildade para reconhecer a incapacidade de resolver os problemas ambientais imediatos. Há que preparar o futuro com estratégias ecológicas de preservação do meio ambiente. 2019 é um ano de charneira, o último antes do fim da década da biodiversidade. E o que se tem feito para preservar a diversidade biológica, sustentáculo da biosfera? Urge parar para pensar e reconhecer que, sem diversidade de formas de vida, de interacções ecológicas, os ecossistemas ficam muito mais vulneráveis. É tempo de aprender e mimetizar as estratégias de sobrevivência que a natureza desenvolveu. A biosfera não pode ser gerida com base em sistemas económicos e políticos, muito menos com base em ciclos de governação. É este o desafio dos ecólogos: mostrar o valor da abordagem ecológica para revelar e descodificar os diferentes sinais de alerta que o planeta Terra mostra. Cabe aos políticos saber ouvir e aos media disseminar este conhecimento.