Insegurança e fraca prevenção afectam combate ao ébola no Congo

Já morreram 368 pessoas devido ao actual surto de ébola na República Democrática do Congo. Organização Mundial de Saúde considera que a insegurança e a fraca prevenção são as principais ameaças.

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Funcionários a saúde desinfectam-se durante um funeral em Beni de uma pessoa que se suspeitava ter ébola GORAN TOMASEVIC/Reuters

Não há dúvidas: o actual surto de ébola no Nordeste da República Democrática do Congo é o segundo mais mortal da história. Até agora, foram contabilizadas 368 mortes nas províncias de Kivu do Norte e Ituri e registados 608 casos (560 confirmados e 48 possíveis). Este surto só é ultrapassado pelo que devastou a Serra Leoa, a Guiné-Conacri e a Libéria entre 2013 e 2016 e matou, pelo menos, 11.300 pessoas.

Uma vez nos humanos, o vírus do ébola causa febre, vómitos, diarreia e hemorragias e espalha-se através do contacto com fluidos corporais.

Dias depois de um surto no Noroeste da República Democrática do Congo ter sido declarado como terminado, a 1 de Agosto o Ministério da Saúde anunciou que tinham sido detectados novos casos no Nordeste do país.

Este anúncio vinha acompanhado de várias preocupações. Afinal, esta zona do Congo tem grandes problemas de segurança. Há ali milhares de pessoas deslocadas e um comércio intenso com países vizinhos como o Ruanda e Uganda, o que aumenta o risco de o vírus se espalhar internacionalmente.

Ao longo do tempo, os casos e as mortes provocados por este surto e o perigo de se disseminar para os países fronteiriços aumentam de modo exponencial. Por isso, a 17 de Outubro, numa reunião do Comité de Emergência da Organização Mundial da Saúde (OMS), chegou a considerar-se declará-lo uma ameaça de saúde pública internacional. Tal acabou por não acontecer, mas o comité mostrou-se “profundamente preocupado”.

A OMS não tem tirado os olhos do Congo e o director-geral da organização, Tedros Adhanom Ghebreyesus, visitou na semana passada as áreas afectadas, nomeadamente as localidades de Beni, Butembo e Komanda. A OMS tem 380 funcionários no Kivu do Norte e no Ituri para responder ao surto.

“Estou preocupado com o impacto das recentes perturbações neste momento crítico. Este surto ocorrer no contexto mais difícil que se podia imaginar. Para exterminar [o vírus], a resposta tem de ser reforçada e aumentada, e não complicada. O ébola é implacável e as perturbações dão ao vírus uma vantagem”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus num comunicado da OMS. 

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Visita do director-geral da OMS às áreas afectadas pelo surto de ébola LINDSAY MACKENZIE/Lusa/EPA

O director-geral da organização referia-se à vandalização de um centro de tratamento do ébola em Beni a 27 de Dezembro, bem como de outras instalações nos últimos dias. Em Beni, 24 doentes tiveram de fugir devido a um ataque motivado pelo cancelamento da votação para as eleições presidenciais na cidade: “Protestos dirigidos aos edifícios do Governo em Beni espalharam-se para um centro do ébola, assustando as pessoas que estavam à espera dos resultados dos testes do vírus e os funcionários que cuidavam delas”, referiu Ghebreyesus. Já em Butembo, profissionais de saúde foram impossibilitados de vacinar e rastrear pessoas que podiam ter estado em contacto com o vírus.

Uma forma de prevenir o ébola no Congo tem sido através da “vacinação em anel”, método em que se identifica e vacina quem contactou com pessoas infectadas. Existem 300 mil doses de uma vacina experimental da farmacêutica Merck – 40 mil das quais já foram usadas no actual surto do Congo, diz a agência Reuters. Mas os especialistas já alertaram que o número de doses tem de aumentar para impedir futuros surtos e evitar que cheguem a grandes cidades.

Em ensaios anteriores na África Ocidental, a vacina mostrou-se segura e eficaz, mas ainda tem de ser aprovada pelas entidades de regulação dos medicamentos nos Estados Unidos e na Europa. Outra potencial vacina, que em breve poderá ser usada, está a ser desenvolvida pela farmacêutica Johnson & Johnson.

A República Democrática do Congo já sofreu dez surtos de ébola desde que o vírus foi descoberto em 1976, perto do rio Ébola. No actual surto, os principais desafios são o ambiente de insegurança, a desconfiança das populações em relação à doença e a incapacidade de prevenção do vírus em muitos centros de saúde, segundo a OMS.

A situação no Congo também preocupa os países vizinhos. O Governo do Uganda deu prioridade à vacinação de profissionais de saúde e examina os viajantes nos pontos de entrada no país.

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