Descoberta agora, espécie de rã nos Andes já está em vias de extinção

Muito pequena – não tem mais de 70 milímetros –, uma nova rã que vive na fronteira entre o Equador o Peru já está ameaçada devido à intensa exploração mineira na zona.

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Rã da espécie Hyloscirtus hillisi Gustavo Pazmiño/BIOWEB Equador

O seu nome científico é Hyloscirtus hillisi e foi encontrada por uma equipa de cientistas da Pontifícia Universidade Católica do Equador, em Quito, durante uma expedição de duas semanas ao topo de uma montanha na Cordilheira do Condor, nos Andes. A espécie possui uma característica bastante distinta dos outros anfíbios: uma garra na base do polegar.

A Cordilheira do Condor está situada nos Andes Orientais, que faz fronteira entre o Peru e o Equador. Esta é uma zona ainda hoje pouco conhecida devido tanto à sua localização pouco acessível como aos confrontos armados entre o Equador e o Peru, entre 1941 e 1942. Mas, acima de tudo, esta cordilheira tem uma elevada biodiversidade, e foi nela que foi encontrada a Hyloscirtus hillisi.

Esta rã de coloração castanho-escura com pequenas manchas laranjas contrastantes possui uma em característica pouco comum – uma garra na base do polegar. A nova espécie para a ciência, encontrada ainda em 2017, foi agora descrita na revista científica ZooKeys e já está classificada como uma espécie em vias de extinção devido à destruição do seu habitat pelas explorações mineiras. Uma parte do seu nome científico homenageia o biólogo norte-americano David Hillis, da Universidade do Texas em Austin (nos Estados Unidos), que descobriu três espécies de rãs do género Hyloscirtus na década de 80, durante viagens de campo no Sul do Equador.

“Para alcançar o topo [da montanha], andámos dois dias sobre um terreno acidentado”, contou Alex Achig, um dos biólogos que encontrou a nova espécie, citado num comunicado da editora que publica a ZooKeys.

A cor acastanhada das rãs permite-lhes uma fácil camuflagem, o que dificultou a tarefa dos cientistas. Ainda assim, isso não impediu os especialistas Santiago Ron, Marcel Caminer, Andrea Varela e Diego Almeida de encontrarem esta espécie.

No estudo, a equipa analisou três machos adultos, uma fêmea adulta e duas fêmeas jovens, cujo comprimento variava entre os 65 e os 70 milímetros de comprimento. A Hyloscirtus hillisi distancia-se geneticamente em apenas 2,9% da sua espécie mais semelhante, a Hyloscirtus tapichalaca, com quem partilha o habitat. Os cientistas desconhecem ainda a funcionalidade da garra que a rã possui, sugerindo, no entanto, que pode ser utilizada como uma forma de defesa contra predadores ou como arma em lutas entre machos.

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A garra na base do polegar Gustavo Pazmiño/BIOWEB Equador

O pesadelo da desflorestação

Esta nova espécie é conhecida apenas nas Cordilheiras Orientais dos Andes e nas encostas calcárias na bacia do rio Quimi, na província de Zamora Chinchipre, no Equador. Por ter sido encontrada na fronteira entre o Peru e o Equador, os biólogos consideram provável a existência desta espécie também no Peru. Porém, como se observaram poucas rãs e o seu habitat está ameaçado, os próprios especialistas consideraram-nas como estando já em vias de extinção. De acordo com o artigo sobre a nova espécie, os cientistas referem que a “Cordilheira do Condor está a ser ameaçada em grande e pequena escala, o que já afectou a população de anfíbios”. Os biólogos observaram o habitat da Hyloscirtus hillisi destruído a menos de 3,5 quilómetros de distância do local onde a espécie foi encontrada.

Segundo a informação do Ministério de Minas do Equador, as explorações mineiras correspondem a 30% da superfície total das províncias de Morona Santiago e Zamora Chinchipre, que são atravessadas pela Cordilheira do Condor. O projecto Mirador, da empresa chinesa Ecuacorrientes (ECSA), é uma das maiores explorações mineiras a céu aberto, que pretende extrair 19.440.000 toneladas de prata e ouro por ano. Segundo o Projecto Monitorização da Amazónia Andina, da organização não-governamental Conservação da Amazónia, estima-se que entre 2009 e 2017 já se tenham perdido 1307 hectares de floresta, consequência da desflorestação. A exploração mineira provocou também desalojados.

O Ministério do Ambiente do Equador suspendeu 40% das obras do Mirador, em Maio de 2018, por incumprimento das normas ambientais. Numa entrevista ao jornal peruano El Comercio, Tarsicio Granizo, ministro do Ambiente do Equador, revelou que a empresa chinesa terá sido acusada de 31 incumprimentos do protocolo estabelecido, dos quais 14 ainda estão por resolver. Ainda na entrevista, o ministro defendeu que o Governo não pretendia retirar as sanções até que todos os problemas fossem resolvidos.

Texto editado por Teresa Firmino

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