A pesada herança do novo chefe do Pentágono
Trump faz troça das guerras da América e tenta desacreditar o general Mattis, que saiu do Governo batendo com a porta na cara do Presidente. de Patrick Shanahan, o número 2 catapultado a secretário da Defesa, pouco se sabe das suas ideias.
Patrick Shanahan foi catapultado para o centro das atenções na sua estreia como secretário da Defesa interino dos Estados Unidos, ao sentar-se ao lado do Presidente Donald Trump, enquanto este desacreditava publicamente o seu antecessor, o general James Mattis. Fez troça da guerra no Afeganistão e chamou à Síria uma terra de “areia” e “morte”.
O ex-vice-secretário da Defesa assumiu oficialmente o cargo durante o feriado de Ano-Novo na terça-feira e emitiu um comunicado a dizer que estava “pronto para trabalhar com Trump e em prática a visão do Presidente”.
A visão de Trump para a segunda metade do seu mandato de quatro anos foi divulgada esta quarta-feira, numa uma reunião do gabinete presidencial dedicada às guerras da América e o descontentamento do Presidente com a forma como estão a decorrer.
Shanahan, um ex-executivo da Boeing, sentou-se silenciosamente ao lado de Trump, um rosto muitas vezes sem expressão, com as câmaras de televisão a registar tudo.
Trump sugeriu que o ex-secretário de Defesa Jim Mattis – que se demitiu abruptamente no fim de Dezembro, devido a divergências políticas com Trump – foi demitido e que Mattis falhou no Afeganistão, onde os talibãs se sentem cada vez mais confiantes na possibilidade de a guerra de 17 anos chegar ao fim de uma forma que lhes seja favorável.
"Não estou satisfeito com o que Mattis fez no Afeganistão e não deveria estar", afirmou Trump.
As observações de Trump colocam Shanahan numa posição difícil desde o início do que pode ser um longo mandato no Pentágono, onde muitos funcionários são leais a Mattis. E até mesmo Shanahan tinha sido escolhido pelo ex-chefe do Pentágono.
Trump sugeriu que Shanahan pode ser secretário de Defesa durante muito tempo. Vários candidatos anteriormente vistos como potenciais sucessores de Mattis disseram não querer o cargo, dizem várias fontes do Pentágono.
A renúncia pública de Mattis poderia tornar a confirmação do Senado perigosa para qualquer sucessor escolhido a dedo.
Mattis implicitamente criticou Trump na sua carta de demissão por não valorizar os aliados que lutam ao lado dos Estados Unidos, inclusive na Síria. A decisão de Trump de ordenar a retirada das forças especiais norte-americanas na Siria foi o motivo imediato que fez Mattis renunciar ao cargo.
Embora Trump tenha declarado a vitória sobre o Daesh, os críticos alertam que o ainda tem raízes na Síria, e pode encenar um retorno se as forças dos EUA se retirarem.
Trump disse durante a reunião do gabinete que combate ao Daesh deveria ser deixado às nações da região, com nações da região, incluindo o Irão, adversário dos EUA."Ali é só areia e morte", disse Trump.
Shanahan ainda não pormenorizou as suas ideias sobre qual o caminho a seguir na Síria, onde o Pentágono planeia uma retirada gradual das forças norte-americanas nos próximos meses. Também não fez comentários acerca do plano de uma retirada no Afeganistão.
Seth Jones, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, disse que Shanahan iniciou o seu trabalho a partir de uma posição mais fraca, visto que não foi confirmado no cargo pelo Senado. "E em segundo, lugar o Presidente tomou uma série de decisões importantes de segurança nacional”, disse Jones.
China, China, China
Durante uma das suas primeiras reuniões do dia, Shanahan disse a dirigentes civis das Forças Armadas dos EUA que se concentrem na "China, China, China". Isto enquanto os Estados Unidos combatem militantes islâmicos na Síria e no Afeganistão. Não foi possível obter mais informações sobre as opiniões de Shanahan relativamente à China ou a outras orientações que tenha dado.
Outros funcionários militares descreveram Shanahan como um defensor da postura rígida do Pentágono em relação a Pequim. A Estratégia Nacional de Defesa de 2018, que Shanahan ajudou a desenvolver, caracteriza a China como um concorrente estratégico.
As relações entre as duas maiores economias do mundo atingiram novos abismos com a Administração Trump, com uma guerra comercial e divergências sobre Taiwan e o Mar do Sul da China.
Em Pequim, esta quinta-feira, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros afirmou que a China valoriza as relações entre os exércitos dos dois países.
"Se o que procuramos mutuamente é um parceiro, provavelmente conseguiremos um parceiro. Se o que procuramos é um adversário, então certamente teremos um adversário ", disse Lu Kang, numa conferência de imprensa, quando questionado sobre os comentários de Shanahan.
Tradução de Raquel Grilo