O sexo de Christiane Amanpour e a inteligência de Salvador Sobral
Uma nova série da Netflix, uma revista que faz pensar e um concerto único para um filme inacabado. É isto o que nos passa pela cabeça.
A francesa Philosophie Magazine parece ter o efeito que todas as publicações gostavam de ter junto do seu público: sempre que a vejo numa banca penso que escolheram exactamente o tema que apetece ler naquela altura. E, além disso, consegue o muito difícil equilíbrio entre ideias profundas e um tratamento, editorial e gráfico, que nos dá vontade de ler.
“Precisamos das elites?” é a pergunta na capa da edição de Novembro (já saiu outra depois desta). As respostas, dadas por filósofos clássicos e contemporâneos, e acompanhadas por reportagens, trazem-nos o (muitas vezes esquecido) prazer de pensar e deixam-nos uma pergunta: porque é que em Portugal não fazemos uma revista assim?
Como a inteligência é sempre um prazer, um dos momentos marcantes para mim das últimas semanas foi assistir à inteligência do talento com que, numa mistura de sensibilidade e humor, Salvador Sobral e Júlio Resende criaram o acompanhamento musical para o filme, inacabado e recuperado pela Cinemateca Portuguesa, O Homem dos Olhos Tortos, de Leitão de Barros. Foi o arranque do ciclo Video Lucem (programa 365 Algarve), que começou em Olhão e terá uma sessão por mês até Maio em diferentes cidades algarvias.
Há uma altura em que até uma grande jornalista de política internacional se cansa de percorrer zonas de guerra, entrevistar chefes de Estado e primeiros-ministros, tentando perceber porque é que há conflitos que parecem não ter fim à vista e decide voltar as suas atenções para a cama. Neste caso, a cama dos outros. E quem diz cama, diz mil e uma outras possibilidades, porque o que descobrimos no documentário da Netflix Sex & Love Around the World, apresentado pela famosa repórter da CNN Christiane Amanpour, é que não há mesmo limites para a imaginação quando falamos de sexo (ou da falta dele) no Japão.
É por Tóquio que Amanpour anda no primeiro episódio da série (seguem-se Deli, Beirute, Berlim, Accra e Xangai), por entre gravuras eróticas japonesas que, em séculos idos, terão chocado os ocidentais, e as mais recentes mangas Yaoi (ou Boy’s Love ou, simplesmente BL) que, com o seu universo homoerótico, atraem jovens raparigas que não têm tempo para relações próprias.
O episódio é um retrato fascinante de uma sociedade onde as pessoas evitam tocar-se e onde (é o que dizem a Amanpour) 40% dos homens são virgens. E quando, no final, pensávamos que Anthony Bourdain teria gostado de fazer este documentário, surgiu no genérico uma informação que não nos surpreendeu: foi ele o produtor executivo da série.