UHF: soprar as velas dos 40 com Legendary Tigerman, Frankie Chavez e João Pedro Pais

40 Anos Numa Noite é o nome dos dois concertos com estes três convidados e Renato Gomes, o guitarrista original, que a banda de António Manuel Ribeiro vai fazer. Primeiro em Lisboa, este sábado, na Aula Magna, e uma semana depois no Porto, na Casa da Música.

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Não há muitas bandas portuguesas que cheguem aos 40 anos de actividade, mas foi isso que aconteceu aos UHF. A banda de António Manuel Ribeiro, o único membro original que se mantém, assinalou a ocasião com a reedição de três discos raros da era em que passaram pela editora Rádio Triunfo, mas também em cima dos palcos. A festa passa pela Aula Magna, em Lisboa, este sábado. Segue-se, exactamente uma semana depois, a Casa da Música, no Porto. Nas duas ocasiões a banda terá com ela convidados especiais: Paulo Furtado, ou The Legendary Tigerman, Joaquim Chaves, ou Frankie Chavez, e João Pedro Pais, bem como Renato Gomes, o primeiro guitarrista da banda.

Na passada quarta-feira, os três convidados reuniram-se com a banda para ensaiar pela primeira vez. O encontro, para o qual foram convidados jornalistas, aconteceu no estúdio PontoZurca, em Almada. “Queria convidar gente mais jovem”, explica António Manuel Ribeiro ao PÚBLICO, a justificar os convites. “Quis ir buscar gente de outra linguagem, até”, prossegue, referindo-se ao facto de tanto Frankie Chavez quanto Legendary Tigerman cantarem em inglês (neste caso, nenhum vai sequer cantar). Pouco antes, a banda tinha ensaiado Cavalos de corrida com a guitarra eléctrica de Paulo Furtado e a guitarra slide de Frankie Chavez, que preferiram cingir-se à condição de instrumentistas — ainda estava por decidir, nessa tarde, se Frankie, que escolheu Matas-me com o teu olhar, iria ou não juntar também a sua voz aos refrães e coros.

As diferenças entre os convidados e a banda não são assim tão grandes. Paulo Furtado, por exemplo, conta que reparou em “códigos de linguagem semelhantes” entre o seu rock’n’roll e aquele praticado pelos UHF. António Manuel Ribeiro comenta: “Quando nós agarramos num instrumento, vamos para uma sala e nos juntamos todos, a nossa linguagem é exactamente a mesma.” Assegura, portanto, que a união bastante espontânea entre a banda e os outros músicos tem vindo facilmente, algo que todos os outros intervenientes confirmam.

Nascidos entre as décadas de 1970 e 80, todos os convidados têm noção de quem são os UHF desde pequenos. “Apanhei o auge da Cavalos de corrida e da Rua do Carmo. Tive colegas que compraram o álbum e eu ouvia-o à pala deles. Sabia as músicas, como esta”, recorda João Pedro Pais, que pega no baixo para tocar e cantar um pouco de Estou de passagem, de 1982. Antes da conversa, sozinho na sala, estava a tocar temas dos Pearl Jam, que partilham com os UHF um fascínio pelos Ramones, algo de que se lembrou ao ensaiar com a banda. A relação com os UHF não fica por aí. Quando fez o seu primeiro álbum, Segredos, em 1997, a banda que o acompanhava era composta por ex-membros dos UHF. Em Agosto deste ano, o músico convidou António Manuel Ribeiro para se juntar a ele numa versão de Cavalos de corrida ​nas festas de Corroios. O vocalista aceitou e a banda ensaiou, mas afinal já tinha compromissos nesse dia e a colaboração não aconteceu.

Julho de 1979, Costa de Caparica, a primeira formação: Américo Manuel (bateria), Renato Gomes (guitarra), Carlos Peres (baixo) e António Manuel Ribeiro (voz)
Dezembro de 1979, capela abandonada na Torre da Marinha, sala de ensaio onde nasceu Cavalos de corrida
18 de Dezembro de 1979, Pavilhão do Restelo, na primeira parte de Elvis Costello & The Attractions, com o novo baterista José Carvalho
11 de Junho de 1980, FIL de Lisboa, Festival Juventus, sala pequena para tantos jovens curiosos, muitas cadeiras partidas e a polícia a tirar os UHF do palco
10 de Junho de 1980, capa do semanário de música Rockweek, quando nos apelidaram de “UHF Canal Maldito” Luís Vasconcelos
23 de Setembro de 1980, pavilhão do Dramático de Cascais, na primeira parte dos norte-americanos Ramones Luís Vasconcelos
23 de Setembro de 1980, camarim do Dramático de Cascais, sessão fotográfica depois da glória em palco com Luís Vasconcelos, que deu origem à capa do single Cavalos de corrida, editado um mês mais tarde Luís Vasconcelos
18 de Abril de 1981, pavilhão do Restelo, festival do programa Rock em Stock (Rádio Comercial) Luís Vasconcelos
11 de Julho de 1981, Campo Pequeno, festival do semanário Se7e Luís Vasconcelos
Outubro de 1981, entrega do disco de ouro do LP À Flor da Pele pelo administrador da editora Valentim de Carvalho, Francisco Vasconcelos Luís Vasconcelos
25 de Abril de 1982, praça General Humberto Delgado, Porto, festa da CGTP cheia
Outubro de 1982, sessão fotográfica do LP Persona Non Grata, depois de concretizada a transferência litigiosa da editora Valentim de Carvalho para a Rádio Triunfo/Orfeu Alexandre Carvalho
24 de Novembro de 1984 – Centro Cultural do Alfeite (local dos primeiros “crimes” em 1979 com os Xutos & Pontapés), gravação do disco Ao Vivo em Almada – No Jogo da Noite: Renato Gomes (guitarra), Fernando Delaere (baixo), Hippo (bateria) e António Manuel Ribeiro Paulo Pedro
Maio de 1988 – sessão fotográfica do LP Noites Negras de Azul no Cabo Espichel, Sesimbra: Rui Rodrigues (guitarra), Luís Espírito Santo (bateria), António Manuel Ribeiro e Xana Sin (baixo) Luís Vasconcelos
13 de Julho de 1990, gravação do disco ao vivo Julho, 13, na Incrível Almadense, com a formação de 1980 como convidada: Rui Rodrigues, Zé Carvalho, Renato Gomes, AMR, Xana Sin, Renato Júnior, Luís Espírito Santo e Carlos Peres Paulo Pedro
7 de Fevereiro de 1992 – Coliseu de Lisboa, com o convidado Zé Pedro Paulo Pedro
Fevereiro de 1994, escritório da editora BMG, entrega do disco de platina do duplo LP Filhos da Madrugada Cameraman Metálico
19 de Maio de 2005, Ginjal, Almada, sessão fotográfica para o disco Há Rock no Cais Rita Carmo
30 de Abril de 2011, Aula Magna, Lisboa, baseado no disco Porquê?
18 de Dezembro de 2013, Casa da Música, Porto, gravação do disco ao vivo Duas Noites em Dezembro Imagem do Som
13 de Agosto de 2015. Festival O Sol da Caparica, os grandes palcos Carlos Sequeira
18 de Março de 2017, Campo Pequeno, Lisboa, concerto com a Orquestra Nacional de Jovens e o convidado Renato Gomes David Monge
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Julho de 1979, Costa de Caparica, a primeira formação: Américo Manuel (bateria), Renato Gomes (guitarra), Carlos Peres (baixo) e António Manuel Ribeiro (voz)

Frankie Chavez, o mais novo dos três, conheceu António Manuel Ribeiro “há uns anos” e deram-se logo bem, afirma. Mas conhece os UHF “desde miúdo, tal como toda a gente”. Paulo Furtado voltou a prestar atenção ao que a banda de António Manuel Ribeiro tinha feito nos anos 1980 através da compilação Os Anos Valentim de Carvalho, de 2008. Ouviu, diz, certos efeitos sonoros, como phasers ou flangers, aplicados a pratos de choque, que são “um bocado fora para a altura” em que os discos foram feitos e soam muito “bem”. Isso fê-lo perceber, argumenta, que às vezes as pessoas “não tomam muita atenção” a “coisas que são incríveis e estão aí há muito tempo”.

Os concertos em si vão tentar celebrar, como o nome, 40 Anos Numa Noite, indica, estas décadas de actividade. “Vai ser impossível, em duas horas e tal de espectáculo, resumir 40 anos”, assume o vocalista. “Vamos tentar não defraudar aquilo que as pessoas gostam de ouvir, sucessos com os quais cresceram, que fizeram parte das nossas vidas”, mas também trazer canções que estão “fora dos grandes palcos”.

As duas noites servirão, diz António Ribeiro, para constatar “a emoção que os UHF trouxeram a muita gente”, o que “às vezes as pessoas não percebem”. “Vem gente de fora, das ilhas, de França, Suíça, Áustria, Tanzânia...”, partilha. “É essa emoção e essa troca de energia, das pessoas que elevam os coros e colocam as palmas no sítio certo, o estarmos a tocar para uma audiência que faz parte de nós, que emociona até às lágrimas”, conclui.

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