Polícia sudanesa usa gás lacrimogéneo contra multidões no terceiro dia de protestos
Manifestações na capital e noutras cidades contra o aumento dos preços. Presidente Bashir quer alterar a Constituição para ficar mais tempo no poder.
A polícia sudanesa atirou gás lacrimogéneo contra dezenas de manifestantes na sexta-feira, nas cidades de Omdurman e Atbara, afirmaram testemunhas, onde as pessoas se reuniram num terceiro dia de protestos motivados pelo aumento dos preços e pela escassez de dinheiro em todo o país.
Os protestos que começaram depois das orações do meio-dia foram inferiores aos de quinta-feira, quando pelo menos oito pessoas foram mortas quando milhares de manifestantes encheram as ruas. Algumas pediam o afastamento do Presidente Omar al-Bashir.
Um porta-voz do Governo culpou "infiltrados" por transformarem manifestações pacíficas em "movimentos turbulentos".
Estes protestos estão entre os maiores que o país já presenciou em cinco anos e podem pôr em causa as tentativas de alteração da Constituição que visam permitir que Bashir permaneça no poder uma nova década, enquanto aprofundam a turbulência numa nação de 40 milhões de habitantes que entrou em crise económica após a separação do Sudão do Sul em 2011.
Houve também manifestações em pequena escala em pelo menos oito bairros na capital Cartum na sexta-feira, mas foram de curta duração, afirmaram testemunhas. A polícia reforçou a sua presença fora das principais mesquitas da capital antes do terceiro dia de manifestações.
Centenas de utilizadores de Internet relataram problemas de acesso, particularmente em redes sociais como o Facebook, Twitter e WhatsApp, na quinta e sexta-feira.
Muitos sudaneses acreditam que o governo pode estar a tentar impedir os protestos. Alguns utilizadores que conseguiram aceder à Internet ao utilizarem VPNs pediram que as manifestações continuassem.
Na quinta-feira, os manifestantes incendiaram escritórios do partido no poder nas cidades de Dongola e Atbara, enquanto as forças de segurança atiraram bombas de gás lacrimogéneo para dispersar as multidões em Cartum, onde protestos dispersos e de pequena dimensão continuaram pela noite dentro.
A indignação pública tem vindo a agravar-se devido aos aumentos de preços, à inflação e a outras dificuldades económicas, incluindo o aumento do custo do pão para o dobro este ano, e às limitações em transacções bancárias. Continuaram a estender-se longas filas nas máquinas de multibanco e nas padarias em Cartum, na sexta-feira.
A economia do Sudão tem tentado recuperar devido à perda de três quartos da sua produção de petróleo - a sua principal fonte de capital estrangeiro - quando o Sudão do Sul se tornou independente em 2011.
O Ministério da Educação disse na sexta-feira ter encerrado escolas e os jardins-de-infância em Cartum "para a segurança das crianças".
Tradução de Raquel Grilo