Empresa chinesa de partilha de bicicletas Ofo em risco de falência

Empresa "unicórnio" entrou em Portugal há cerca de um ano.

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Empresa nasceu na China em 2014, e expandiu-se rapidamente
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Clientes fazem fila para receber o valor do depósito
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Empresa chegou a Cascais em Outubro, mas saiu cerca de seis meses depois

A empresa chinesa de partilha de bicicletas Ofo, que tem operação em Portugal, está com "imensos problemas" de liquidez e a considerar declarar insolvência, revelou hoje o fundador da empresa.

"Os problemas de liquidez da empresa agravaram-se", escreveu Dai Wei, fundador da empresa, numa carta aos funcionários, citada pela imprensa. "Já pensei inúmeras vezes (...) dissolver a empresa e declarar insolvência", afirmou.

As firmas chinesas de partilha de bicicletas, incluindo a Ofo e a rival Mobike, revolucionaram nos últimos anos o transporte nas cidades do país, ao distribuir mais de 20 milhões de bicicletas.

Fundada em 2014, a Ofo angariou já mais de 2,2 mil milhões de dólares (1,9 mil milhões de euros) junto dos investidores, e expandiu as suas operações além-fronteiras.

A empresa entrou em Portugal em Outubro do ano passado, disponibilizando 50 bicicletas em Cascais.

Na altura, este foi 16º mercado internacional, numa estratégia de rápido crescimento global, depois de Espanha (Madrid).

De acordo com o gabinete de imprensa da Câmara de Cascais, a empresa já não está presente no concelho desde Abril/Maio, depois de não se ter integrado no sistema de mobilidade integrada da vila. “Houve um período de testes, mas não funcionou”, afirmou ao PÚBLICO o gabinete de imprensa.

A ideia da empresa era expandir-se para locais como Lisboa, através também de bicicletas eléctricas, onde estava a começar a apostar.

Poucos meses antes, em Julho, a empresa tinha feito uma ronda de financiamento através da qual angariou 700 milhões de dólares junto de investidores como o gigante chinês do comércio electrónico Alibaba.

Em entrevista ao PÚBLICO, Zhang Yanqi, responsável de operações da empresa e um dos seus fundadores, garantiu na altura que o modelo de negócio era lucrativo, e que essa era uma razão para o sucesso junto dos investidores, com várias rondas de financiamento num curto espaço de tempo. Ao todo, tinha na altura uma frota própria de mais de 10 milhões de bicicletas espalhadas por 180 (com destaque para a China).

A empresa é considerada uma startup "unicórnio", com avaliação superior a mil milhões de dólares, mas incapaz agora de cumprir com encargos mensais de 25 milhões de dólares (22 milhões de euros) em salários.

"Durante este ano, sofremos imensos problemas de liquidez: devolver os depósitos aos usuários, pagar dívidas aos fornecedores. De forma a manter a empresa a funcionar, por cada renminbi [moeda chinesa] investido tínhamos que ganhar três", descreveu.

As notícias sobre a debilidade da firma levaram milhões de utilizadores do aplicativo a pedir o reembolso dos seus depósitos, de 99 yuan (12,5 euros), que a empresa está agora a tentar processar.

Dai Wei atribuiu as dificuldades da empresa ao facto de "não ser capaz de avaliar correctamente as mudanças externas, a partir do ano passado".

A rival Mobike foi comprada em Abril deste ano pela gigante chinesa de entrega de comida ao domicílio Meituan, por 3,7 mil milhões de dólares (mais de 3,2 mil milhões de euros), enquanto outro competidor, o Bluegogo, entrou em falência no ano passado, mas foi comprado pela empresa de transporte privado Didi Chuxing, a Uber chinesa. A Didi está também entre os investidores da Ofo.

A Ofo está ainda sob pressão dos fornecedores: em Setembro, a empresa foi processada por um fabricante de bicicletas por falhar pagamentos superiores a 10 milhões de dólares.