Trump preparado para anunciar retirada total da Síria

Conselheiros do Presidente norte-americano tentam reverter a decisão, apontando para o reforço da influência da Rússia e do Irão na região e com a traição aos aliados curdos.

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Tropas americanas e Unidades de Protecção do Povo curdas patrulham a fronteira da Síria com a Turquia YOUSSEF RABIE YOUSSEF /EPA

O Presidente dos EUA, Donald Trump, poderá estar prestes a ordenar a retirada total das tropas norte-americanas na Síria, avançou esta quarta-feira o Wall Street Journal. Não é claro se o país vai continuar envolvido na guerra através de bombardeamentos ou outras operações pontuais, mas a declaração de Trump no Twitter aponta para uma retirada total: “Nós derrotámos o ISIS [Daesh] na Síria, que era a minha única razão para estarmos lá durante a minha presidência.”

Segundo o jornal New York Times, alguns conselheiros da Casa Branca estão a tentar demover o Presidente.

“Começámos a fazer regressar as tropas norte-americanas a casa, e a entrar na fase seguinte desta campanha”, disse a porta-voz da Casa Branca Sarah Sanders, numa declaração que não permite esclarecer se todos os cerca de 2000 militares dos EUA que estão no país vão sair, ou quando.

A Reuters cita, sob anonimato, uma fonte da Administração Trump que diz que o objectivo é retirar as forças norte-americanas dentro de 60 a 100 dias e que o Departamento de Estado esperava retirar todo o seu pessoal da Síria dentro de 24 horas. Outra fonte disse, também sob anonimato, que os militares querem sair fazer uma retirada completa – e que querem fazê-lo num prazo mais acelerado do que os 60 a 100 dias. 

A maior parte dos militares norte-americanos presentes na Síria são forças especiais, que têm dado apoio e formação a combatentes curdos no Norte do país. A ordem de retirada seria encarada como uma traição aos aliados curdos - que têm sido a força mais eficaz no combate tanto ao Daesh ao como ao regime de Assad.

Com a saída norte-americana, os curdos ficariam à mercê dos seus inimigos -entre os quais se contam a Turquia, que está agora ameaçar lançar de novo uma ofensiva na Síria, contra os centros de poder curdos que servem de apoio e inspiração aos movimentos que reivindicam a autonomia curda dentro da Turquia.

“Uma retirada dos EUA nesta altura seria uma grande vitória para o Daesh, o Irão, Bashar Al-Assad e a Rússia”, afirmou o senador Lindsey Graham, um dos maiores defensores do envolvimento norte-americano na guerra da Síria. 

“Com todo o respeito, o ISIS [Daesh] não foi derrotado na Síria e no Iraque e, tendo acabado de regressar da região, posso dizer que certamente não foi derrotado no Afeganistão”, escreveu o senador do Partido Republicano.

Graham salientou o facto de que uma retirada norte-americana iria reforçar a influência da Rússia, mas particularmente do Irão: “O presidente Donald Trump está certo ao querer conter a expansão iraniana. No entanto, uma retirada das forças da Síria prejudica imenso esse esforço e põe em risco os nossos aliados curdos.”

“Uma retirada das tropas seria também vista como um incentivo ao desejo do ISIS de regressar [à Síria]”, concluiu o senador.

Os media norte-americanos dizem que o secretário da Defesa, Jim Mattis, tem tentado convencer o presidente Trump a não ordenar a retirada da Síria, salientando que quem ganha com essa decisão é a Rússia e o Irão, que estão no terreno a apoiar as tropas do regime de Bashar al-Assad.

Para além do reforço da influência da Rússia e do Irão, uma retirada norte-americana da Síria significa o abandono das forças curdas, o que pode provocar o fim da confiança nos EUA por parte de outros grupos de combatentes locais em países como o Afeganistão, o Iémen e a Somália.

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