Super Smash Bros. Ultimate é uma enciclopédia jogável

É fácil: 2018 dificilmente será recordado sem mencionar o novo exclusivo da Nintendo Switch. É um jogo de luta que transcende o género e celebra a indústria.

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A série Super Smash Bros. goza de um estatuto que faz com que cada lançamento seja mais do que um videojogo, assumindo rapidamente o papel de acontecimento. Ultimate, o novo título que chegou em exclusivo à Nintendo Switch, não é excepção. Não são precisas muitas horas para perceber que estamos perante uma carta de amor de Masahiro Sakurai à série, à Nintendo e aos jogadores.

Na essência, Super Smash Bros. Ultimate é um jogo de luta. Porém, a sua aura eleva-o a um compêndio de algumas das personagens mais icónicas do universo Nintendo – e não só. São mais de setenta lutadores que medem forças em mais de cem cenários. É uma obra que demora a sair de cena, sendo escrutinada e discutida muito para além da sua fase de lua-de-mel com os fãs. 

Há inúmeros modos de jogo, cada um dos quais com várias categorias.

Smash será provavelmente onde muitos começarão a sua aventura, com confrontos para até oito jogadores e variantes que permitem, por exemplo, confrontos de três contra três ou cinco contra cinco. Contudo, talvez as maiores novidades sejam Spirits e o modo aventura a solo, designada como World of Light.

Outros modos incluem a componente online, assim como o modo clássico, onde cada lutador tem o seu próprio caminho de várias batalhas e um boss. Caso não sejam veteranos há uma vertente onde poderão treinar.

Spirits é a novidade que merece mais palavras. Estamos a falar de personagens que perderam a sua forma física e, sem grande surpresa, são os jogadores que são chamados a salvar os seus espíritos. Pela frente existem quase 1300 espíritos diferentes divididos por várias categorias, prontos a serem resgatados e a elevar – ainda mais – a extensa longevidade de Ultimate.

Os Spirits são uma valente piscadela de olho a vários processos dos role playing games. Há Spirits que podem ser equipados nos lutadores para lhes permitir um aumento das habilidades, com outros a servirem de suporte e a garantirem melhorias mais específicas. 

Há várias formas de aumentar o número de Spirits. Um dos métodos está associado a outras das novidades de Ultimate, o modo World of Light. Aqui, uma misteriosa figura conhecida como Galeem, o Senhor da Luz, está a destruir o mundo onde os lutadores habitam. Uma a uma, as personagens sucumbem à força de Galeem, sendo substituídos por lutadores “fantasma” obrigados a cumprir a sua vontade; uma a uma, menos Kirby, a personagem com que os jogadores começam esta epopeia que transmite a sensação de ser um jogo dentro do próprio jogo.

Num plano que faz lembrar a mesclagem de jogo de tabuleiro com o mundo de alguns RPG, os jogadores vão progredindo, batalha após a batalha, contra estes espíritos, seguindo caminhos que não são livres à exploração, mas que podem ser atacados de forma diferente. O mapa é generoso e o contador de horas pode facilmente passar uma dezena apenas neste modo.

Caso não fosse evidente o piscar de olho aos RPG, Ultimate conta com uma árvore de habilidades onde os jogadores podem aumentar a força do escudo ou dos diferentes tipos de ataques, ou tornar as evasões mais fáceis, ou ainda reduzir a vulnerabilidade quando aterram no cenário, permitindo que o lutador se movimente imediatamente. São dezenas e dezenas de habilidades que podem ser aprendidas, convidando ao estudo.

Tudo isto pode tornar-se uma obsessão, mas uma obsessão menor face ao que é experimentar e compreender cada personagem. Num alinhamento com mais de sete dezenas, a jogabilidade difere, pelo que experimentar e levar os lutadores até aos cenários é um acto de curiosidade e de satisfação imediata. A Nintendo faz isto muito, mas mesmo muito bem. Este ano contamos com todos os personagens das edições anteriores e com algumas novidades, como Inkling de Splatoon, Ridley de Metroid, e Incineroar de Pokémon, que se juntam a um elenco tão vasto que vai de Mario a Bayonetta, passando por Cloud de Final Fantasy e até à Treinadora de Wii Fit.

Há mesmo personagens que normalmente não são associadas a sagas da Nintendo, como Sonic, outrora rival de Mario, ou Solid Snake, protagonista de Metal Gear Solid, e outras que são rostos da casa de Quioto, como Zelda, Link ou Fox. Uma após outra, desbloquear as personagens é um hino à sensação de coleccionismo, mas também um passar em revista as memórias que fomos acumulando nos videojogos, tantas e tão diferentes são as séries incluídas.

Nada disto faria grande sentido se Super Smash Bros. Ultimate não fosse muito bom no pilar de qualquer jogo de luta: a jogabilidade. O básico permite saltar, agarrar, infligir dano e tentar esquivar-se às investidas dos oponentes. Uma vez que os cenários são compostos por vários patamares e estão a “flutuar”, o derradeiro objectivo para derrotar os adversários é fazê-los sair da área de jogo.

Fácil, não? Não, nem por isso. Não basta chegar perto do oponente, acertar-lhe e esperar que seja suficiente. As regras ditam que, conforme a percentagem no medidor de dano for aumentando, mais longe os adversários são arremessados e maior é a probabilidade de saírem em definitivo da área de jogo. Isto acrescenta uma camada espessa de estratégia às partidas, sem afastar os novatos e quem quer apenas pegar no comando e divertir-se com os amigos durante um serão.

Cada personagem tem um estilo e ataques que vão preservando o factor novidade ou que fazem o jogador eleger determinado lutador como o seu preferido, levando-o a dominar as suas especificidades. Isto aliado às variadas condições dos incontáveis cenários inspirados em diversas séries e a regras de partidas que podem ser ajustadas faz de Super Smash Bros. e, mais concretamente, de Ultimate um aglutinador de estilos e um hino à diversidade. 

Aqui, lutar é uma celebração que, mesmo frenética em determinados momentos, é sempre coberta pelo carisma da Nintendo. Os cenários têm pormenores que deliciam sem prejudicar a fluidez dos combates e, sendo um título Switch, o conceito de levar um colosso de videojogo connosco na consola híbrida em formato portátil é algo tecnicamente impressionante. 

Já a banda sonora pode ser ouvida como num serviço de streaming. São mais de 800 temas para escutar, o que prova a escala do jogo, mas atesta também a qualidade da sonoplastia, com Ultimate a ser responsável por uma das melhores bandas sonoras do ano. 

E, finalmente, se por algum motivo tudo isto não for suficiente, o jogo tem também uma componente multijogador online. Além de partidas rápidas, as Battle Arenas permitem criar arenas com as vossas próprias regras ou juntarem-se às criações de outros jogadores. Um dos parâmetros é que tipo de jogadores se podem juntar: é possível lutar só contra veteranos ou apenas contra principiantes. Será interessante perceber como é que a Nintendo vai lidar com esta componente, uma vez que a infraestrutura da Switch não é tão robusta como as outras plataformas e o serviço Nintendo Switch Online, obrigatório para esta componente, ainda está na sua infância.

Super Smash Bros. Ultimate é um dos jogos que marcará 2018. Tem inúmeras personagens e cenários, uma jogabilidade acessível, mas desafiante, inúmeros modos de jogo, uma excelente banda sonora e um departamento gráfico sólido.

O ponto menos conseguido está relacionado com os joy-con: ocasionalmente sente-se que os comandos da Switch não foram optimizados para certos aspectos da obra, tal como não foram para títulos como Doom ou Wolfenstein II: The New Colossus. Mas isso é muito pouco para evitar que a obra e a devoção de Masahiro Sakurai sejam celebradas.

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