Morabeza: o jeito bem saboroso e acolhedor de Cabo Verde

Cozinha típica do arquipélago executada com apuro e qualidade técnica que a elevam a um patamar pouco comum. São jovens e mostram em Guimarães o lado mais saboroso do seu país.

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Paulo Pimenta
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Há um jeito gentil, afável e acolhedor, que nos envolve logo que pomos o pé neste restaurante. Simples e meio acanhado até na forma de receber os clientes, e a pôr logo de lado qualquer dúvida sobre a sua genuinidade e autenticidade. Dos produtos à forma de cozinhar, é a genuína cozinha de Cabo Verde que se serve neste recanto vimaranense, mas com a enorme vantagem de que há também sentido do serviço e do gosto e técnicas culinárias actualizadas.

E se há no arquipélago atlântico uma natural diversidade, decorrente das suas dez ilhas, esclareça-se desde já que se trata da cozinha com raízes no centro da ilha de Santiago. Na zona de São Domingos que é, talvez, o pedaço mais genuinamente africano de todo o arquipélago. Com vegetação, culturas, gado e uma população de origem negreira, que claramente se destacam no conjunto das ilhas cabo-verdianas.

Acabadinho de celebrar o seu primeiro aniversário, o Morabeza emerge do frenesim criativo e renovador que nos tempos mais recentes tem valorizado a cidade-berço. Novos bares, restaurantes, espaços e manifestações culturais que lhe emprestam mundividência, dinâmica e vibração. Não por acaso a estrela Michelin acabada de receber pelo vizinho A Cozinha, do chef António Loureiro, mas também vários outros projectos culinários de modernidade, como é o caso Le Babachris ou Flor de Tangerina, a somar à valente restauração tradicional que é também marca da cidade.

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E, tal como a nossa saudade, morabeza é também uma palavra que só faz sentido para os cabo-verdianos. Um regionalismo que significa amabilidade, hospitalidade, afabilidade e gentileza, e que casa a preceito com este restaurante. Um espaço criado, gerido e a funcionar com o empenho de jovens oriundos daquela zona do arquipélago, que por cá estudam ou fizeram a sua formação. O cozinheiro, Elias Varela, formado na Escola de Hotelaria de Lamego, é disso perfeito exemplo.

A par do largo sorriso de acolhimento, é impossível não reparar nas louças, lenços e artesanato com motivos e cores africanas que compõem o ambiente quente do espaço com capacidade para umas três dezenas de comensais. Contexto simples e sem luxos, tal como a localização, numa viela medieval que atravessa as traseiras do casario da conhecida e central Praça do Toural.

A oferta alinha propostas da cozinha típica de Cabo Verde, do pastel de milho ao atum e cachupas, incluindo bebidas como os grogues ou o vinho da ilha do Fogo.

Provaram-se as duas sopas – caldo de ovo (2,50 euros) e canja de atum (3,50 euros) – com satisfação e aprovação. A canja aromatizada com coentros, o consomé com o ovo escalfado e desfeito e cebolinho.

Também as quatro entradas propostas deixaram boa impressão e agrado, destacando-se o apuro técnico e acerto de sabores nos camarões em tempura de “mancarra”, que é como em crioulo designam o amendoim. Impecável também a execução culinária das asinhas de frango (bem secas, pele crocante e estaladiça) acompanhadas por molho agridoce e maionese de alho, tal como os pastéis de milho (refogado de recheio com batata-doce, pimentos e coentro) e os rissóis de atum. Todos servidos em quatro unidades e preços a variar entre 3 e 5,50 euros.

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Na oferta piscícola, caldo e cachupa de peixes (9/9,50 euros) e o atum grelhado com legumes salteados e chips de batata-doce (12 euros). Uma delícia o bife de atum, suculento e pleno de sabor, fibras intactas e cor rosada, a dar mostra do rigor técnico e culinário da cozinha. Já a cachupa surgiu na sua versão mais pobre, quase só com carnes de atum e a deixar água na boca para versões enriquecidas com variedade e diferentes texturas de pescados.

No que respeita às carnes, o porco na cerveja com xarém parece ser o mais requisitado, numa oferta que inclui cachupa, cachupa guisada, peito de frango e cogumelos salteados com xarém, e cabrito no forno com feijão do Congo e mandioca frita. Provou-se o cabrito (15 euros), de assadura lenta e partido em pedacinhos saborosos, com os pequenos feijões escuros num saboroso guisado com legumes e chouriço e ainda arroz basmati.

Como propostas vegetarianas, xarém de legumes e cachupa vegetariana (8/9 euros), enquanto nas sobremesas são propostas duas mousses (abacate e coco) e um gelado. Provou-se o gelado de queijo de cabra com crocante de mancarra e papaia salteada (4 euros), num conjunto que resulta delicioso e de muito boa execução.

Num contexto modesto e simples que é o do restaurante, também a carta de vinhos se mostra ajustada e com sentido de critério face à oferta gastronómica. Cativa também a simpatia e eficiência do serviço, a dar ainda um mais forte sentido ao contexto morabeza.

A par da satisfação e sensação de conforto gastronómico, destaca-se a expressão de técnica e rigor culinário da cozinha de Elias Varela. Com produtos e receitas de Cabo Verde, mostra grande cuidado na definição dos sabores e na forma como destaca os ingredientes. Técnica e rigor que enriquecem a cozinha do arquipélago, e, não sendo vulgares na restauração local (nem na que também por cá se conhece), bem justificam a atenção dos representantes do país.

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