Mortes com armas de fogo nos EUA atingem máximo em 20 anos
Há seis países responsáveis por mais de metade das 250 mil mortes por ano em todo o mundo: EUA, Brasil, México, Colômbia, Venezuela e Guatemala.
No ano passado, quase 40 mil pessoas morreram nos Estados Unidos em situações que envolveram armas de fogo, um novo máximo desde 1996. O país é um dos seis responsáveis por mais de metade das 250 mil mortes em todo o mundo, juntamente com Brasil, México, Colômbia, Venezuela e Guatemala.
Os números relativos a 2017, divulgados esta quinta-feira pelo Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla original), mostram que a taxa foi de 12 mortes por armas de fogo por cada 100 mil pessoas – ou 109 mortes por dia.
Estes valores contrastam com países que têm um nível de desenvolvimento semelhante ao dos Estados Unidos: 0,2 mortes por 100 mil no Japão; 0,3 no Reino Unido; 0,9 na Alemanha; e 2,1 no Canadá, por exemplo, segundo um estudo publicado em Agosto no JAMA (Journal of the American Medical Association).
Foi em 2017 que ocorreu o tiroteio mais mortífero da história moderna nos EUA, quando 58 pessoas foram mortas, em Las Vegas, pelo atirador Stephen Paddock, que viria a suicidar-se.
Mas os números do CDC mostram que o problema das armas de fogo nos Estados Unidos está a agravar-se, apesar dos apelos para um reforço das leis sempre que se regista mais um tiroteio numa escola, numa igreja ou num centro comercial.
Em 2013, o então Presidente norte-americano, Barack Obama, pediu ao Congresso que aprovasse um reforço das leis de controlo das armas após o tiroteio na escola primária de Sandy Hook, em que foram mortas 20 crianças de seis e sete anos, mas essa iniciativa viria a ser chumbada com o apoio de alguns senadores do Partido Democrata.
E, já este ano, na sequência do tiroteio numa escola secundária na Florida, o Presidente Donald Trump começou por dizer que apoiava um reforço do controlo das armas, mas rapidamente deixou cair a iniciativa.
Segundo uma análise da organização Giffords Law Center to Prevent Gun Violence, mais de metade das vítimas de homicídios com armas de fogo em 2017 eram homens negros, apesar de este grupo representar menos de 7% da população total dos Estados Unidos.
"É inaceitável que o número de mortes em tiroteios continue a aumentar enquanto Washington D.C. se recusa, sequer, a debater políticas que sabemos que podem vir a salvar vidas", disse a directora da organização, Gabrielle Giffords, uma antiga congressista do Partido Democrata que foi baleada na cabeça em 2011, numa tentativa de assassínio que resultou na morte de seis pessoas.
"Mas o activismo provoca mudanças e, em Janeiro, chegarão ao Congresso mais defensores do reforço do controlo das armas, que farão deste tema uma prioridade em termos de saúde pública", disse Giffords, referindo-se ao facto de o Partido Democrata ter reconquistado a maioria na Câmara dos Representantes com a eleição de vários candidatos mais progressistas.
Das 39.773 mortes registadas em 2017, 60% dos casos foram suicídios, um número que também aumentou em relação a 2000 e a 2010.
Outros estudos, de organizações que defendem um reforço do controlo das armas, como o Educational Fund to Stop Gun Violence, comprovam a ideia de que as mortes por suicídio não ocorrem de forma igual em todo o país. Os estados onde se registam mais suicídios têm leis mais permissivas e mais armas, como o Montana, o Wyoming e o Alasca.
"As pessoas pensam que não se pode fazer nada para impedir os suicídios com armas de fogo. Mas, ao olharmos para estes números, é evidente que o facto de se ter uma arma de fogo aumenta o perigo", disse Dakota Jablon, do Educational Fund to Stop Gun Violence, ao jornal The Guardian.
Em muitos casos, a decisão de se cometer suicídio é tomada em momentos de desespero que podem ser atenuados em minutos. Segundo vários estudos, como o que foi publicado em 2004 no American Journal of Epidemiology, o facto de se ter uma arma em casa quintuplica a probabilidade de suicídio e triplica a probabilidade de homicídio.
O número de homicídios com armas de fogo é mais reduzido (14.542 num total de 39.773), mas também tem crescido nos últimos anos – foi de 4,6 por 100 mil habitantes em 2017, subindo de 4,2 em 2015 e de 3,6 em 2010.