Queda ou sobrevivência? Futuro de May conhecido às 21h
Primeira-ministra enfrenta moção de desconfiança lançada pela ala eurocéptica do Partido Conservador e precisa de pelo menos 158 votos em 315 para se manter na liderança do partido e do Governo. Em troca de apoio pode não se candidatar às próximas eleições
Theresa May enfrenta esta quarta-feira um dos mais duros testes da sua atribulada liderança, cujo desfecho pode resultar na sua destituição da chefia do Partido Conservador e, consequentemente, do cargo de primeira-ministra. Por força do envio ao líder do grupo parlamentar tory – o Comité 1922 – das cartas necessárias para se lançar uma moção de desconfiança, os 315 deputados conservadores vão decidir, através de voto secreto, entre as 18h e as 20h, se May tem condições para se manter à frente do partido e do Governo. Os resultados serão revelados às 21h.
Em pleno turbilhão do “Brexit”, a primeira-ministra necessita de pelo menos 158 apoios para evitar que se abra uma corrida interna à sua sucessão. Se tal acontecer, ganha mesmo imunidade por 12 meses, durante os quais não pode voltar a ser desafiada.
Mais de 160 deputados já anunciaram publicamente que vão votar pela manutenção de May no cargo, situação que sugere que a líder do executivo vai sobreviver à moção. Mas numa altura em que se vive uma autêntica guerra aberta dentro do Partido Conservador – o envio das cartas foi impulsionado pela ala eurocéptica tory, que inclui nomes como Boris Johnson, Jacob Rees-Mogg ou David Davis – e tomando em consideração que o voto é secreto, os media e analistas britânicos hesitam em arriscar um resultado.
Antes da votação a primeira-ministra vai encontrar-se com o Comité 1922, que representa os deputados que não têm cargos governamentais, para apresentar a sua “defesa”. Segundo vários meios de comunicação do Reino Unido, May estará a ponderar prometer aos deputados que não se recandidatará nas próximas eleições, agendadas para 2022.
May reagiu ao anúncio da realização da moção de censura através de uma curta declaração em Downing Street: “Vou disputar a votação com tudo o que tenho", garantiu, defendendo ainda que uma disputa partidária nesta altura "não é do interesse nacional" e que “apenas beneficia Jeremy Corbyn”, líder do Partido Trabalhista.
A primeira-ministra referiu ainda que um novo líder conservador teria de adiar a aplicação do artigo 50º do Tratado da UE, através do qual foi definido o dia 29 de Março como data oficial do divórcio. Ainda que possa estar a horas de cair, May garantiu que está a fazer progressos relativamente ao acordo que negociou com Bruxelas, depois de uma série de viagens que realizou nesta terça-feira para se encontrar com líderes europeus.
"Estou pronta para terminar o trabalho", assegurou, explicando que uma troca na liderança no partido "poria o país e o 'Brexit' em perigo".
As 48 cartas necessárias para se iniciar uma moção de censura – equivalentes a 15% dos deputados conservadores – foram atingidas um dia depois de o Governo ter voltado atrás na intenção de levar à Câmara dos Comuns, para aprovação ou rejeição, o acordo de saída do Reino Unido da União Europeia, alcançado em Bruxelas. O líder do comité, Graham Brady, anunciou nesta manhã já ter em mãos as cartas suficientes.
Esta hipótese foi sendo levantada pelos media britânicos desde que May adiou a votação decisiva no Parlamento sobre o acordo sobre o “Brexit” que alcançou com Bruxelas.
Agora, a primeira-ministra vai necessitar que pelo menos 158 deputados tory a apoiem para sobreviver e, dessa feita, ganhar imunidade política durante 12 meses.
Aquando do anúncio do acordo negociado com a União Europeia sobre a relação futura entre os dois blocos, e perante intensa oposição interna ao mesmo, a possibilidade de uma moção de desconfiança foi sendo também levantada. Mas os media e analistas garantiam que muito dificilmente, naquela altura, a primeira-ministra poderia cair.
No entanto, a marcha atrás em relação à votação parlamentar sobre o acordo, e todo o caos político em que se tornou o processo de saída do Reino Unido da UE (que está marcada para dia 29 de Março), torna difícil medir o apoio que May terá no interior do partido neste momento.
Nesta terça-feira, Theresa May realizou várias viagens para se encontrar com líderes europeus. O objectivo era reabrir a negociação do acordo estabelecido com Bruxelas e, dessa forma, tentar garantir a sua aprovação no Parlamento britânico. No entanto, a mensagem que chegou da UE é a de que não há qualquer espaço para renegociação.
E agora?
- Os deputados conservadores vão agora votar pela saída ou permanência de May na liderança do partido. Se perder, terá de demitir-se e não poderá avançar às eleições internas que se seguirem. Se ganhar mantém-se e ganha imunidade política durante os próximos 12 meses.
- No cenário de queda de May, será marcada uma disputa para decidir quem a substitui na liderança do partido. O seu substituto torna-se primeiro-ministro, mas não são marcadas eleições gerais automaticamente.
- Se vários candidatos se apresentarem, é realizada uma votação secreta entre os deputados conservadores para reduzir este número. O candidato com menos votos é removido e os deputados conservadores voltam a votar. O processo é repetido, todas as terças-feiras e quintas-feiras, até que restem apenas dois candidatos.
- Estes dois candidatos são depois submetidos a uma votação alargada a todos os membros do Partido Conservador. Os votantes têm de ser membros do partido há mais de três meses.