Europa que Conta
Quem são e o que fizeram todos os vencedores do Prémio Sakharov?
O Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento foi criado em 1988 pela União Europeia para distinguir indivíduos e organizações que se destacam na luta pelos direitos humanos.
![](https://static.publicocdn.com/Multimedia/Infografias/290/img/Academician%20Sakharov.png)
Andrei Dmitrievich Sakharov, que dá nome ao prémio, foi um físico russo que ficou conhecido como o pai da bomba de hidrogénio soviética. Mais tarde, preocupado com os efeitos da sua invenção, juntar-se-ia a um grupo de cientistas russos que se bateu pela assinatura do tratado de proibição dos ensaios nucleares, em 1963. Lutou intensamente pela defesa dos direitos humanos e pelas vítimas de perseguição política. Recebeu o Prémio Nobel da Paz em 1963. Morreu em 1989, com 68 anos.
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1988 – África do Sul
Nelson Mandela
Dedicou a sua vida à liberdade, à democracia e à igualdade. Foi detido pelo regime do apartheid na África do Sul, que o privou da liberdade durante 27 anos, em consequência da sua luta contra o racismo.
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1988 – Rússia
Anatoli Marchenko
Laureado a título póstumo. Foi um dos mais conhecidos dissidentes da antiga União Soviética. Morreu na prisão de Tchistopol, na sequência de uma greve de fome de três meses em prol da libertação de todos os prisioneiros de consciência soviéticos.
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1989 – Eslováquia
Alexander Dubcek
Foi a figura de proa do movimento reformador na antiga Checoslováquia conhecido como a Primavera de Praga. Em 1968, tornou-se o novo primeiro-secretário do Partido Comunista e procurou liberalizar e democratizar o regime comunista. Acabaria por ser acusado de traição e expulso do partido.
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1990 – Birmânia
Aung San Suu Kyi
Liderou a luta pela democracia na Birmânia e exortou a comunidade internacional a apoiar o desenvolvimento dos direitos humanos no país. Desde 2016, tem sido duramente criticada devido à relutância em intervir ou denunciar a perseguição à minoria rohingya.
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1991 – Kosovo
Adem Demaçi
Símbolo da luta pela independência do Kosovo. Esteve envolvido na qualidade de alto dirigente na política do país, foi também um prisioneiro político por contestar o tratamento da etnia albanesa e criticar o comunismo durante o regime do ditador jugoslavo Josip Broz Tito. Depois da guerra, dedicou-se à reconciliação étnica e ao regresso dos refugiados.
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1992 – Argentina
Las Madres de Plaza de Mayo
O movimento nasceu da busca iniciada por várias mães argentinas pelos filhos “desaparecidos” durante a “guerra suja” da Argentina, quando o regime militar sequestrou, torturou e assassinou milhares de opositores políticos, raptando os filhos das prisioneiras e eliminando qualquer vestígio das suas vítimas.
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1993 – Bósnia-Herzegovina
Oslobodenj
Jornal diário bósnio. O nome significa “libertação” e o jornal constituiu uma tábua de salvação para as pessoas retidas no cerco a Sarajevo, entre 1992 e 1996, durante a guerra na antiga Jugoslávia.
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1994 – Bangladesh
Taslima Nasreen
Escritora do Bangladesh, vive exilada desde 1994, tendo sido expulsa do país por extremistas religiosos devido às suas obras e opiniões laicas. É conhecida pelas suas obras sobre a opressão das mulheres e pelas suas críticas inabaláveis aos extremismos religiosos.
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1995 – Turquia
Leyla Zana
Foi a primeira mulher curda eleita para o Parlamento turco, tendo, mais tarde, cumprido uma pena de prisão de 10 anos pelo seu activismo político pró-curdo. Em Junho de 2015, fez mais uma vez história como membro do primeiro partido político pró-curdo a ganhar representação na Assembleia turca, com um programa de paz e inclusão das minorias.
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1996 – China
Wei Jingsheng
Considerado o pai do movimento democrático chinês, vive no exílio, mas continua a ser um dirigente activo da oposição ao regime comunista na China. Foi condenado a duas penas de prisão, de 29 anos no total, mas depois de forte pressão internacional foi libertado e deportado para os Estados Unidos.
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1997 – Argélia
Salima Ghezali
Jornalista, escritora e activista pelos direitos das mulheres e pela democracia na Argélia. A atitude pacifista que manteve durante a guerra civil argelina foi alvo de críticas, tanto pelo Governo como pelos islamistas, e o semanário argelino La Nation, de que era chefe de redação, foi encerrado pelas autoridades.
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1998 – Kosovo
Ibrahim Rugova
Escritor, académico e político dedicado à luta pacífica pela independência da etnia albanesa no Kosovo. Foi o primeiro presidente do Kosovo.
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1999 – Timor-Leste
Xanana Gusmão
Chefiou a luta pela liberdade e autodeterminação de Timor-Leste. Teve um papel crucial como líder da resistência timorense e símbolo da luta pela liberdade do seu povo. Foi o primeiro Presidente eleito através de eleições livres.
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2000 – Espanha
¡Basta Ya!
Iniciativa de cidadãos contra o terrorismo da ETA e a violência política no País Basco espanhol. Constituído em 1999 por intelectuais, activistas políticos e dos direitos humanos, sindicalistas e outros representantes da sociedade civil.
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2001 – Angola
Dom Zacarias Kamwenho
Arcebispo emérito de Lubango, em Angola, e pacifista. Desempenhou um papel fundamental no processo de paz que conduziu ao fim da guerra civil angolana em 2002.
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2001 – Israel
Nurit Peled-Elhanan
Professora universitária e escritora. A sua filha foi vítima de um atentado suicida, cometido por um palestiniano em Jerusalém Ocidental. Tornou-se um símbolo de todos aqueles que, em Israel, lutam contra a ocupação e pela liberdade da Palestina.
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2001 – Palestina
Izzat Ghazzawi
Escritor e académico palestiniano, cujas obras incidiram sobre os problemas e o sofrimento provocados pela ocupação israelita dos territórios palestinianos. A sua vida foi marcada pelo assassinato do seu filho pelo exército israelita quando tentava socorrer um colega ferido no pátio da escola.
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2002 – Cuba
Oswaldo José Payá Sardiñas
Dissidente cubano, fundador do Projecto Varela, uma campanha a favor da realização de um referendo sobre leis que garantam os direitos civis, a realização de eleições livres, a libertação de todos os presos políticos e reformas económicas e sociais em Cuba.
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2003 – EUA
Kofi Annan, secretário-geral das Nações Unidas, e todo o pessoal dessa organização
Reconhecimento dos esforços desta organização em prol da paz, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais e pelo seu trabalho incansável, muitas vezes em condições difíceis.
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2004 – Bielorrússia
A Associação de Jornalistas da Bielorrússia (AJB)
Representa mais de mil profissionais e procura proteger os jornalistas que trabalham em circunstâncias extremamente difíceis e são, com frequência, vítimas de intimidação, assédio, processos judiciais e expatriação.
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2005 – França
Repórteres Sem Fronteiras (RSF)
Organização não governamental que acompanha e denuncia atentados à liberdade de informação cometidos a nível mundial. Combatem a censura e as leis destinadas a restringir a liberdade de informação, e apoiam moral e financeiramente os jornalistas perseguidos e as suas famílias.
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2005 – Nigéria
Hauwa Ibrahim
Advogada defensora dos direitos humanos. Quando ia ser entregue em casamento aos dez anos de idade, fugiu de casa e foi para um colégio interno feminino para poder prosseguir a sua instrução. Destacou-se representando gratuitamente mulheres e crianças condenados à morte pelos tribunais da sharia.
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2005 – Cuba
Damas de Branco
Movimento cubano nascido em 2003 em resposta à detenção de 75 pessoas. Mulheres e familiares dos presos desfilaram pelas ruas e escreveram numerosas cartas às autoridades cubanas solicitando a sua libertação. Os prisioneiros acabariam por ser libertados em 2011.
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2006 – Bielorrússia
Aliaksandr Milinkevich
Cientista e dirigente do Movimento pela Liberdade, da oposição democrática na Bielorrússia, que teve “a coragem de desafiar a última ditadura da Europa”, como disse o presidente do Parlamento Europeu ao entregar-lhe o prémio.
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2007 – Sudão
Salih Mahmoud Mohamed Osman
Advogado sudanês, presta assistência jurídica gratuita a pessoas detidas arbitrariamente, torturadas e sujeitas a graves violações dos direitos humanos no Sudão.
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2008 – China
Hu Jia
Defensor da democracia na China, vive sob vigilância permanente e suporta períodos de detenção arbitrária, ameaças constantes, espancamentos e assédio. Lutou pelos direitos humanos e do ambiente, e abordou a questão da sida quando o VIH/sida era ainda um assunto proibido na China.
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2009 – Rússia
Memorial
Organização fundada na União Soviética que denunciava a repressão maciça do regime de Estaline. Depois da dissolução da URSS, tem-se destacado na monitorização das violações dos direitos humanos na Rússia. Andrei Sakharov foi um dos membros fundadores.
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2010 – Cuba
Guillermo Fariñas
Doutorado em Psicologia, jornalista independente e dissidente político de Cuba. Levou a cabo 23 greves de fome ao longo dos anos, com o objetivo de promover uma mudança política pacífica e a liberdade de expressão no seu país.
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2011 – Egipto
Asmaa Mahfouz
Defensora dos direitos humanos egípcia e uma das co-fundadoras do movimento juvenil 6 de Abril. Por causa do prémio, foi alvo de uma acção judicial por este ser considerado uma influência estrangeira indesejável no Egipto.
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2011 – Líbia
Ahmed El Senussi
Foi o prisioneiro de consciência que mais anos de pena cumpriu na Líbia e é hoje um grande defensor da reconciliação líbia. Condenado à morte em 1970 por uma tentativa de golpe de Estado, passou um total de 31 anos na prisão, suportou tortura e nove anos em regime de isolamento. A sua pena acabou por ser reduzida e foi libertado em 2001.
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2011 – Síria
Razan Zaitouneh
Jornalista síria e advogada defensora dos direitos humanos. Já depois do prémio, foi raptada numa zona controlada pelos rebeldes nos subúrbios de Damasco e continua desaparecida.
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2011 – Síria
Ali Ferzat
Famoso caricaturista e autor de sátira política na Síria. Foi premiado por satirizar ditadores, como Saddam Hussein, Muammar Kadhafi e Bashar Al-Assad. Foi atacado em Damasco e violentamente espancado por homens encapuzados, que lhe partiram as mãos.
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2011 – Tunísia
Mohamed Bouazizi
Trabalhador oriundo de uma família pobre, morreu aos 26 anos ao tentar imolar-se pelo fogo em protesto contra a repressão da polícia tunisina sobre os vendedores de rua. Foi o catalisador da Revolução de Jasmim na Tunísia e serviu de inspiração ao movimento pró-democracia que varreu o Médio Oriente e o Norte de África em 2011, conhecido por Primavera Árabe.
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2012 – Irão
Nasrin Sotoudeh
Advogada iraniana de direitos humanos, esteve entre os poucos que corajosamente defenderam os dissidentes detidos nos protestos em massa de 2009 contra as eleições que consideravam fraudulentas, antes da sua própria detenção em 2010. Libertada em 2013, foi novamente presa em Junho deste ano por apoiar as manifestações contra a obrigação de usar o hijab e contra a tortura.
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2012 – Irão
Jafar Panahi
Cineasta iraniano que foi proibido de rodar filmes durante 20 anos. Apoiante declarado da oposição iraniana e crítico de Ahmadinejad, está proibido de viajar e de falar com os meios de comunicação social. Apesar das restrições, continua a fazer filmes no Irão.
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2013 – Paquistão
Malala Yousafzai
A Jovem paquistanesa tinha 15 anos quando foi alvejada no rosto pelos taliban. Pretendiam impedi-la e a outras raparigas de irem à escola. A sua luta em prol da educação começou aos 11 anos de idade, quando escreveu um diário anónimo sobre o quotidiano escolar de uma jovem sob o regime taliban.
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2014 – República Democrática do Congo
Denis Mukwege
Médico da República Democrática do Congo (RDC), dedica a sua vida à reconstrução das vidas de dezenas de milhares de mulheres e raparigas congolesas, vítimas de violações colectivas e de violência sexual brutal.
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2015 – Arábia Saudita
Raif Badawi
Bloguista saudita. Defensor da liberdade de pensamento e de expressão, foi preso e flagelado reiteradamente pelas autoridades sauditas. Fundador e dirigente dos fóruns “Saudi Liberals” e “Free Saudi Liberals Network” para discutir religião e política no país conservador.
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2016 – Iraque
Lamiya Aji Bashar
Sobreviveu à escravatura sexual pelo Estado Islâmico (EI) e tornou-se porta-voz das mulheres vítimas de violência sexual. Defende publicamente a comunidade yazidi no Iraque, uma minoria religiosa perseguida por militantes do EI.
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2016 – Iraque
Nadia Murad
Em 2014, o EI assassinou todos os homens da sua aldeia. Todas as jovens – incluindo Nadia e as suas irmãs – foram raptadas e exploradas para fins de escravatura sexual. Em Setembro de 2014, Nadia conseguiu fugir com a ajuda de uma família vizinha e desde então tem sido uma voz activa na denúncia do tráfico de seres humanos.
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2017 – Venezuela
Oposição Democrática na Venezuela
Num contexto de caos e agitação que decorre há pelo menos uma década na Venezuela, várias figuras têm-se destacado na luta contra as perseguições aos opositores políticos do regime e em defesa dos presos políticos. O prémio foi entregue à Assembleia Nacional e aos presos políticos.
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2018 – Ucrânia
Oleg Sentsov
Realizador ucraniano. Activista contra a anexação da Península da Crimeia por parte de Moscovo, é o símbolo de cerca de 80 cidadãos ucranianos detidos ilegalmente pelas forças de ocupação russas.