Vista Alegre recua na dispersão de capital em bolsa
Estratégia envolvia aumento de capital e venda de acções já existentes, para arrecadar no mínimo 30 milhões de euros. Empresa justifica desistência com "conjuntura adversa nos mercados internacionais".
A Vista Alegre Atlantis (VAA) desistiu da operação de distribuição de acções que estava em curso, justificando a decisão com a “conjuntura adversa nos mercados internacionais que se tem verificado”. Isto, diz a empresa em comunicado emitido esta terça-feira, “apesar de diversos investidores nacionais e internacionais terem participado no roadshow recentemente realizado”.
As bolsas internacionais têm estado muito voláteis, pressionadas pela instabilidade ligada ao confronto comercial EUA-China, com a aversão ao risco dos investidores (refugiando-se em activos como dívida pública, por exemplo) a penalizar o mercado de capitais. O índice STOXX Europe 600 estava hoje a subir 1,95%, recuperando da uma descida de 1,9% de ontem. Na semana passada teve uma queda de 3,4%.
A decisão da VAA, do grupo Visabeira, foi tomada dois dias antes da divulgação oficial da oferta pública de distribuição (OPD) que estava em curso desde o final de Novembro. Em Outubro, a Sonae também suspendeu a entrada em bolsa da Sonae MC, justificando a decisões com o mau momento do mercado. Já o fabricante e comercializador português de brinquedos Science4you tem em curso uma operação para dispersar até 45% do capital na bolsa, numa operação que pode representar um encaixe de 15 milhões de euros através da Euronext Growth, mercado orientado para as PME. Em tudo mantendo-se como previsto, os resultados finais devem ser conhecidos na próxima segunda-feira. Fonte oficial da Science4you afirmou ao PÚBLICO que a empresa "mantém a sua operação".
Objectivo mínimo: 30 milhões de euros
A estratégia da VAA, que engloba empresas como Faianças Bordalo Pinheiro e a Ria Stone (que produz para a Ikea), passava pela angariação, no mínimo, de 30,5 milhões de euros (30.481.823 acções a um euro), com a dispersão de 17,5% do capital (entre acções detidas pela Visabeira e emissão de novos títulos com aumento de capital). No máximo, a operação poderia render 56 milhões de euros (43.545.470 acções a 1,3 euros), com a dispersão de 25% do capital em bolsa, onde hoje está presente de forma residual. Pelas 15 horas de hoje, as acções da VAA tinham subido quase 7%, para 1,39 euros. Há um mês, o valor estava nos 1,61 euros.
A colocação estava dividida entre uma oferta pública a decorrer em Portugal, ao nível do retalho (pequenos investidores, particulares), e outra institucional, orientada para investidores qualificados nacionais e internacionais (para os quais estava dirigida a maior parte da operação).
Além do encaixe financeiro, que serviria para novos investimentos e redução da dívida, a empresa conseguiria também aumentar o peso das acções dispersas em bolsa (o free float), algo que lhe daria maior interesse e visibilidade no mercado de capitais. Uma das condições para que a oferta se concretizasse era a existência de uma procura de, pelo menos, 30.481.823 acções, das quais no mínimo 11.337.279 ligadas à vertente institucional.
Pagar aos bancos e ao accionista
Agora, falta perceber como é que a empresa vai resolver a questão da angariação de fundos, que envolvia um aumento de capital. A VAA, da qual a Visabeira detém 94,14% (a Caixa Geral de Depósitos é dona de 3,4% e apenas 2,46% está disperso em bolsa), contava no final de Setembro com um passivo de 89,7 milhões de euros. Entre passivo corrente e não corrente, os empréstimos bancários estavam nos 32,9 milhões de euros, 29% acima do mesmo período do ao passado (e dos quais 15,6 milhões estavam no passivo corrente, mais ligado ao curto prazo).
De acordo com o relatório e contas de 2017 da VAA, os empréstimos negociados com a CGD e com o BCP implicam condições como a “impossibilidade de distribuição de dividendos, reembolso de suprimentos ou outras formas de remuneração de accionistas”.
Destacam-se também os empréstimos de accionistas, que estavam nos 26,9 milhões de euros. Metade deste valor, devido à Visabeira Indústria, devia ser regularizado até final deste mês, num processo ligado ao rearranjo do grupo que conduziu à entrada da Cerutil e da Bordalo Pinheiro na VAA.
Crescer lá fora
Nos primeiros nove meses deste ano, a VAA teve um volume de negócios de 63,9 milhões de euros (mais 5% face a 2017), com o mercado internacional a pesar cerca de 66% (onde concorre com marcas que vão desde as indiferenciadas à Villeroy & Boch). O destaque vai para o segmento da porcelana (31,4 milhões), seguindo-se o grés mesa (13,4 milhões) e o grés forno (10,2 milhões), em sectores como o retalho (onde se incluem lojas próprias), Hotelaria/Restauração/Cafés e marcas próprias. Com um lucro de 3,6 milhões de euros (quase o dobro do registado em 2017), os mercados prioritários da VAA para “crescer rapidamente” são a França, Itália, México e Índia (onde tem uma recente parceria local).
A estratégia passa também por reforçar a vertente comercial em países como a Rússia, Coreia do Sul e China, abrir novas lojas, desenvolver as vendas online, estabelecer novas parcerias com restaurantes de luxo e cadeias hoteleiras e aumentar o portefólio de produtos para entrar em novos segmentos de negócio.