Nem todos os doentes prioritários estão a ser operados nos serviços mínimos, alerta bastonário dos médicos

Há doentes a serem transferidos para outros hospitais para serem operados. Miguel Guimarães afirma que “tudo está a ser feito" para que as situações mais complexas "sejam resolvidas o mais rapidamente possível".

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Há doentes prioritários que não estão a ser incluídos nos serviços mínimos da greve dos enfermeiros, revelou esta segunda-feira o bastonário dos médicos, após uma reunião com os directores clínicos dos cinco centros hospitalares que estão a ser afectados pela chamada greve cirúrgica. Miguel Guimarães adiantou, contudo, que estes doentes mais graves estão a ser tratados nos hospitais onde estão internados ou noutros para onde estão a ser transferidos.

A greve dos enfermeiros, com especial impacto nos blocos operatórios, iniciou-se a 22 de Novembro e está marcada até 31 de Dezembro. Afecta os centros hospitalares Lisboa Norte (hospitais de Santa Maria e Pulido Valente), Setúbal, Coimbra, S. João e Centro Hospitalar do Porto, que inclui o hospital Santo António. A paralisação abrange as 24 horas do dia e estão garantidos serviços nos serviços cirurgias urgentes, tratamentos e cirurgias oncológicas (casos graves), cuidados intensivos e hemodiálise. Na sexta-feira a ministra da Saúde reuniu com os administradores destas unidades para fazer uma avaliação do impacto da greve. Estimou que já tenham sido canceladas quatro mil cirurgias.

“Houve cirurgias adiadas a doentes prioritários porque nem todos os doentes prioritários conseguiram entrar nos serviços mínimos, que estão limitados a duas salas de bloco operatório. Os doentes mais graves, a informação que tenho, é que estarão todos a ser tratados ou já foram”, disse o bastonário no final da reunião com os directores clínicos dos cinco centros hospitalares afectados pela paralisação que já leva mais de duas semanas, a quem pediu dados, de dois em dois dias, das cirurgias canceladas. “Os directores estão a monitorizar a situação a todo o tempo para que se possa rentabilizar ao máximo os serviços mínimos que estão estipulados.”

Miguel Guimarães adiantou que os doentes prioritários “têm de ser operados o mais rápido possível, ou nos hospitais de origem, se for possível remarcá-los nos serviços mínimos na semana seguinte, ou noutros hospitais do SNS [Serviço Nacional de Saúde]” ou em unidades privadas e do sector social que tenham convenções com o serviço público.

Numa palavra dirigida aos doentes com casos mais complexos, o bastonário afirmou que “tudo está a ser feito pelos hospitais, pelo Serviço Nacional de Saúde, para que as suas situações sejam resolvidas o mais rapidamente possível, dentro daquilo que são os tempos clinicamente aceitáveis".

“Para os doentes com situações mais complexas que não tenham entrado nos serviços mínimos, o Ministério da Saúde estará a arranjar uma solução dentro dos mecanismos legais. Por exemplo, o Centro Hospitalar Lisboa Norte já transferiu alguns doentes para hospitais da sua área, nomeadamente para o Hospital S. José, Centro Hospitalar Lisboa Ocidental e para o Hospital Beatriz Ângelo”, exemplificou.

Questionado sobre se podia garantir que não há doentes a morrer por causa desta greve, Miguel Guimarães disse não o poder fazer. “Não posso garantir que perante esta situação alguns doentes não possam vir a ser prejudicados e de forma complexa. É por isso que lançamos o apelo ao Ministério da Saúde e ao Governo para que rapidamente faça alguma coisa no sentido de tentar encontrar uma solução definitiva para esta situação.”

Não operam sem enfermeiros

Outra das preocupações demonstrada pelos médicos, afirmou o bastonário, são os casos clínicos que não são considerados graves e poderão esperar mais tempo pela remarcação da cirurgia. “A acomodação destes doentes vai aumentar as listas de espera e haverá um atraso sucessivo nas listas de espera. Os doentes que têm situações menos graves que podem vir a esperar mais um mês, dois, três ou eventualmente mais”, disse, lembrando que mesmo sem a existência de greves o SNS já tem listas de espera de cirurgia e primeiras consultas em algumas áreas que ultrapassam os tempos máximos de resposta garantidos.

Miguel Guimarães rejeitou a possibilidade de os médicos poderem operar sem a presença de enfermeiros. À semelhança do que já tinha dito ao PÚBLICO na sexta-feira passada. “Não faz sentido os médicos estarem a operar sem enfermeiros. Os médicos e enfermeiros trabalham em equipa e o trabalho em equipa é fundamental para o bem do doente. A situação levantada pelo presidente da Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares não faz sentido nenhum. Não estamos numa situação de catástrofe nem foi declarado estado de emergência”, afirmou.

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