Pequenos progressos nas primeiras conversações directas no Iémen

Troca de prisioneiros acordada na primeira reunião em mais de dois anos

Participantes nas negociações sobre a guerra no Iémen, em Rimbo, perto de Estocolmo
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Participantes nas negociações sobre a guerra no Iémen, em Rimbo, perto de Estocolmo Reuters
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LUSA/YAHYA ARHAB

Representantes dos rebeldes houthi e do governo do Iémen encontraram-se pela primeira vez cara a cara nas negociações patrocinadas pelas Nações Unidas na Suécia, quando as agências avisam que a pior crise humanitária do mundo só não irá piorar se houver paz rapidamente.

Mas há imensa desconfiança entre os representantes dos dois lados no conflito, cada um apoiado por uma das duas grandes potências regionais, os houthis pelo Irão e o governo pela Arábia Saudita. 

As conversações começaram na quinta-feira, focando-se numa troca de prisioneiros como medida de aumento de confiança. Poderão ser libertados cinco mil prisioneiros.

Há relatos de tortura de prisioneiros nas prisões dos dois lados: prisioneiros que escaparam recentemente de prisões do lado dos houtis relataram terem sido amarrados pelos pulsos ou pelos genitais, durante dias, pensando que não sobreviveriam nem um minuto mais.

Um dos prisioneiros foi libertado ao fim de quatro meses de tortura, sem conseguir mexer as pernas ou controlar bexiga e intestinos. “Penso que quiseram mostrar o que acontecia a quem se opusesse a eles: sair da prisão numa cadeira de rodas”, disse à Associated Press.

Nas prisões do outro lado, o cenário parece não ser muito diferente, e vários antigos prisioneiros queixaram-se de serem sodomizados, de receberem choques eléctricos nos genitais, de serem violados por um guarda enquanto outro filmava. “O pior é que todos os dias queria morrer, e não morria”, disse um.

Por isso, uma troca de prisioneiros seria muito significativa, sublinha Hisham Al-Omeisy, ex-prisioneiro a viver exilado no Cairo. Omeisy sublinha que a troca é importante tanto para os milhares de prisioneiros como para as suas famílias, que em geral não sabem nada dos detidos, onde estão, se estão vivos ou mortos.

E num conflito que tem deixado, nos últimos meses, uma média de 123 pessoas mortas ou feridas por semana, e onde mais de metade da população não consegue garantir alimentação minimamente adequada, vivendo a mais grave crise humanitária do mundo actual, qualquer pequeno passo é saudado.

Um diplomata nas conversações disse à Reuters que este encontro será um sucesso se houver algum acordo em relação a medidas de diminuição das hostilidades, troca de prisioneiros e acordo para mais uma ronda de conversações.

“São pequenos passos. Tê-los juntos no mesmo restaurante a habituarem-se a falar uns com os outros já é um grande progresso”, comentou.